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Eneida crítica do filme documentário 2022 foto Heloisa Passos

‘Eneida’ é uma síntese da vida

Taynna Gripp

Quando revisita seu passado em Portugal, Eneida decide mais uma vez tentar entrar em contato com sua primogênita Maísa, com quem não fala há mais de 20 anos. Nessa busca, ela pede ajuda de sua filha do meio, a cineasta Heloisa Passos. Assim somos apresentados às personagens que vão orientar toda a trama, dar vozes aos desejos e problemas da vivência familiar e nos guiar ao centro de um enredo de amor maternal.

Eneida, documentário que participou da 27ª Edição do Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade, é um presente de Heloisa para sua mãe, mas é, também, um presente ao público que nos quase 90 minutos se encanta pela carismática protagonista a ponto de desejar abraça-la ao fim da sessão.

Isolamento familiar

Muitos anos atrás, por conta de uma disputa envolvendo os homens da família, Eneida e Maísa acabaram se afastando irremediavelmente. Enquanto vai nos conduzindo ao centro do problema, Heloísa tenta entrar em contato com a irmã, falhando, uma vez que a mesma poda qualquer forma de afeto vindo do restante da família materna. Ela se isola e leva junto seus filhos, a ponto de que sua mãe sequer conhecer alguns netos e bisnetos.

Enquanto discorre a trama de sua família, Heloísa conversa muito com a mãe em viagens de carro pela cidade, momentos como esse indicam a proximidade íntima que elas têm. Para Helô, enquanto ela dirige é mais fácil encontrar um modo de se comunicar e expressar sentimentos que ela não conseguiria sem estar em movimento, com os olhos presos no horizonte.

Poético e íntimo

Tudo em Eneida é poético e íntimo, mas não é forçado. Parte da culpa do primor pode ser retribuída à própria personagem-título, que exala sintonia com a câmera em cada cena: ela é leve mesmo carregando uma dor tão profunda; joga vôlei; sorri com as amigas; mima os netos; e ainda encontra tempo para aproveitar o carnaval. Tudo isso sem tirar do pensamento o desejo de reencontrar Maísa.

Outra parte responsável é a própria diretora, que escolhe com maestria conciliar momentos da busca com momentos pessoais da mãe, compartilhando conosco a visão caseira daquela personagem tão forte.

Carrossel da vida

Mãe e filha encontram alguns amigos dispostos a ajudar na reconciliação, todavia, Maísa segue permitindo passos muitos pequenos. A emoção de cada descoberta é realçada quando Eneida conta para as amigas, com muito entusiasmo, que suas mais novas bisnetas nasceram no mesmo dia que ela.

Em uma cena entregando o final, temos um lindo plano aberto de um carrossel, porque a vida, no fim e no começo das contas, é exatamente isso: esse sobe e desce em círculos. Eneida vai te encantar e, quando você se der conta, vai estar se fantasiando naquele carrossel também.