Cinebiografia com coração, ‘Padre Johnny’ reflete sobre o fim da vida e o início de uma nova
Leonardo Duarte
Mesmo contra a vontade de um influente arcebispo, em 2009, um padre polonês inaugurou um centro de acolhimento que proporcionava cuidados e dignidade a pessoas com doenças terminais. A partir deste feito, já é possível entender o tamanho do coração de Jan Kaczkowski. A saber, o protagonista da cinebiografia ‘Padre Johnny’, que acaba de estrear na Netflix.
Além do próprio padre, o filme também foca no personagem Patryck. Este, um criminoso condenado a 360 horas de serviço comunitário, cuja vida teve uma reviravolta brusca após seu caminho se cruzar com o de Jan: sendo um clichê comum neste tipo de filme, o coração de Patryck amolece e ele se torna uma nova pessoa após receber uma segunda chance.
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Apesar de ter como combustível um teor claramente religioso – algo que pode afastar aqueles mais céticos quanto ao catolicismo –, o filme sabe se dosar bem quanto à sua mensagem principal. Ele vai além de ser apenas um discurso devoto de duas horas, Padre Johnny é uma bela obra sobre o cuidar. “Cuidar” este que se refere tanto às pessoas enfermas, terminais, que não mais possuem uma chance de cura, mas que ainda merecem dignidade e qualidade de vida; quanto também àqueles a nossa volta, que precisam apenas de uma oportunidade para aprender e mostrar quem realmente podem ser.
Com sequências lentas e – na sua maioria – serenas, o filme não tem pressa de chegar em seu objetivo. Ele desenvolve seus personagens com cautela, de forma um tanto quanto eficaz. O espectador acompanha, em suma, a jornada de amadurecimento de Patryck de forma realista, entendendo aos poucos que tudo o que ele precisava era de uma segunda chance, acompanhada de oportunidades de se tornar algo a mais.
Emoção em doses certas
A princípio, em alguns momentos, o filme acaba sendo um tanto piegas, com um sentimentalismo exacerbado e uma tentativa forçada de emocionar o público, algo que decorre vez ou outra ao longo da narrativa da obra. Porém, muitas sequências de Padre Johnn” ainda conseguem ser carregadas com doses certeiras de emoção – cenas cruas, realistas e poderosas, principalmente aquelas com os pacientes da casa de acolhimento.
Um exemplo de cena que sabe dosar bem a emoção corresponde ao momento em que Patryck segura um celular, gravando uma mensagem em vídeo para uma das pacientes. Ela, paciente terminal, pede ajuda para gravar uma mensagem para que o filho, atualmente com quatro anos, assista quando chegar aos 18.
Um filme com bastante coração
Este é um ponto bastante positivo de Padre Johnny. Em outras palavras, trazer maior presença e reflexão sobre cuidados paliativos. Um assunto de tamanha importância, mas que nem sempre é abordado da forma – e na frequência – que deveria. Muito esquecemos e deixamos de lado os rostos, vozes e identidade daqueles que estão tão próximos da morte. Mas é preciso lembrar que ainda os mais enfermos ainda são seres humanos; ainda têm família, amigos e, a cima de tudo, ainda merecem dignidade, respeito e qualidade de vida.
Dessa forma, Padre Johnny pode ser um tanto quanto previsível, clichê e, em alguns momentos, piegas. Mas, inegavelmente, é um filme com bastante coração. Sabe muito bem o que quer passar, e o faz com bastante empenho e emoção ao longo de suas duas horas de trajetória, fazendo com que o espectador reflita sobre não só o fim da vida, mas também sobre o começo de uma nova.
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Trailer – Padre Johnny
Ficha técnica
Título original: Johnny
Direção: Daniel Jaroszek
Roteiro: Maciej Kraszewski
Elenco: Dawid Ogrodnik, Anna Dymna, Magdalena Czerwinska
Onde assistir: Netflix
Data de estreia: 23 de março de 2023
Duração: 1h 59min
País: Polônia
Gênero: Biografia, Drama
Ano: 2022
Classificação: 16 anos