Edição 2023 do MITA (Rio de Janeiro) foi tranquila e sem grandes surpresas
Marcelo Fernandes
O último dia do MITA (Music is The Answer) no Rio de Janeiro ficou marcado pela tranquilidade e pelos (muitos) fãs de Florence Welch, que marcaram o show mais disputado do dia 28. A apresentação da cantora britânica foi a única que o público ficou espremido, ao contrário do restante dos shows, alguns com mais e outros com menos gente, mas sempre com um quórum considerável, em uma escalação que misturava psicodelia experimental, saudosismo emo e cantoras pop.
Como a maioria dos festivais, o foco parece maior em merchandising do que na música, com dois palcos cuja distância é aceitável, com uma caminhada que em outros eventos é bem maior. Porém, a frente do palco principal é um pouco apertada e isso ficou nítido na performance mais aguardada, a supracitada Florence.
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Preços
Com os preços inflacionados de bebida e comida conhecidos dos frequentadores habituais de festivais, o MITA 2023 mostrou-se como pouco ousado na escolha do line, e mesmo quando arriscou um pouco como com The Mars Volta o público não respondeu. De quem seria a culpa? No fim, a decisão pela headliner do dia mostrou-se acertada.
A sorte também ajudou a produção: o som brilhou nos dois dias, e caso tivesse chovido, o chão de terra do Jóquei Club teria se transformado num lamaçal que não combinaria com os looks e a experiência esperada pelos habitués desse modelo de festival.
NX Zero de volta
Os shows só começaram a lotar mesmo a partir da apresentação do NX Zero, que está divulgando sua nova turnê “Cedo ou Tarde”.
Mesmo há anos sem subirem no palco como uma banda, o grupo tem casca, construída desde a época Emo quando rodam o país surfando na última onda rock a atingir o mainstream, sendo uma das poucas sobreviventes daquele tempo. O NX Zero ainda tem muitos fãs, que encheram a frente do palco Deeer e cantavam as músicas mais famosas a plenos pulmões.
Porém, a apresentação parecia um pouco burocrática, sem muitas inovações ou riscos. A exceção foi o momento em que homenageiam Chorão, fazendo algumas pessoas chorarem quando o falecido cantor apareceu no telão em um vídeo antigo, cantando partes da música que batiza a nova turnê.
Fora isso, um show para fãs saudosistas, pois mesmo que todos na banda ainda tenham uma aparência jovem, o NX Zero já tem uma estrada de respeito atrás. Porém, fica a sensação dessa nova turnê trabalhar mais com a nostalgia de uma época que nem parece tão distante assim, ainda mais por não ter nenhum trabalho novo para mostrar.
Setlist
Só Rezo
Daqui Pra Frente
Bem ou Mal
Pela Última Vez
Apenas um Olhar
Onde Estiver
Cedo ou Tarde
Pedra Murano
Ligação
Hoje o Céu Abriu
Não é Normal
Além de Mim
Razões e Emoções
Haim faz show carismático e conquista a plateia
Penúltimo show do domingo no palco principal do MITA, a HAIM não é tão famosa em terras cariocas como a atração principal Florence, mas as irmãs que compõem a banda não decepcionaram. O destaque ficou pelo carisma das três, principalmente da baixista Este Haim, que interagia com a plateia, perguntava qual o melhor para ir ao pós-show, declarou seu amor pela Xuxa (!) emendando “Ilariê” (!!) e depois ganhando uma camisa com a imagem da apresentadora brasileira de um fã (!!!).
Embora Este seja a mais simpática e conversadora, a espinha dorsal musicalmente falando é Sari: ela toca bateria, guitarra, teclado, faz a esperada dancinha de “”I know alone”” com as irmãs e comanda a banda de apoio e as irmãs.
Entre as músicas que ganham uma força maior executadas ao vivo do que nas versões de estúdio, só faltou puxarem uma cadeira de plástico e pedirem um litrão no palco enquanto perguntavam qual era o melhor lugar para ir no Rio.
Setlist
Lariê
(Xuxa song)
Now I’m in It
Don’t Save Me
I Know Alone
My Song 5
Ilariê
(Xuxa cover) (shortened)
Want You Back
3 AM
I’ve Been Down
Gasoline
Don’t Wanna
Summer Girl
Forever
(Restarted at Danielle’s Request)
The Wire
The Steps
Banda The Mars Volta faz o melhor show da noite para a menor plateia
Uma banda experimental, que mistura psicodelia, metal, ritmos latinos com um vocalista que faz dancinhas no palco. O The Mars Volta ao mesmo tempo que entregou uma apresentação impecável e psicodélica também parecia meio deslocado na escalação de um festival cujo público estava mais inclinado ao pop que ao leque de sons diferentes e alternativos feitos pela banda.
A prova era a frente do palco Deezer bem vazia, com a maior parte do público já guardando lugar para a diva Florence. Azar do público que ignorou a banda do vocalista Cedric Bixler-Zavala, e uma banda sensacional, com momentos para cada membro brilhar, como solos de bateria, guitarra e muito mais sem parecerem em nenhum momento auto-indulgentes.
A mescla de estilos “puros” resulta em sons que necessitam de muitas audições para entender o que está sendo feito, e mesmo assim o “entendimento” não é certo: é um jazz latino? Um rock experimental com jazz? Tudo isso junto? Fica ao gosto do freguês, naquele que ao mesmo tempo foi o melhor show da noite e o menos visto.
Setlist
Roulette Dares (The Haunt Of)
L’Via L’Viaquez
Graveyard Love
Drunkship of Lanterns
The Widow
Cicatriz ESP
Son et lumiere
Inertiatic ESP
Florence entra com jogo ganho para fechar o festival
Não há como negar o impacto de Florence Welch em seu público: a cantora parece uma figura religiosa no palco, com suas roupas esvoaçantes, poses como se algum pintor renascentista estivesse ao lado do palco e um mise-en-scène impactante. Talvez o maior problema seja o excesso de Florence e a falta de um pouco de The Machine, a banda que acompanha a artista e parecia relegada a um segundo plano tanto na distribuição do palco quanto na equalização com a voz.
Não que isso fosse um problema para o público, que se espremeu no show para ver a britânica correr, posar e cantar aos gritos de “maravilhosa”, “gostosa” e outros elogios. Simbolizando uma mulher empoderada para seus fãs, Florence embarca no personagem com muita teatralidade ao mesmo tempo que mostra hits do passado e do presente, incluindo a ausente de sua apresentação do Rock In Rio 2013 e um dos primeiros sucessos “Dog days are over”.
Chamar de burocrática a apresentação talvez seja exagero, mas existe uma lacuna que falta no repertório de Florence de alguma maior ousadia, sendo tudo milimetricamente calculado para a plateia, sem muito espaço para improvisos, incluindo quando ela vai para o meio do público interagir. Não que os fãs tenham reclamado: a cantora entregou exatamente o que eles pediam, e no fim todos foram satisfeitos para casa.
Setlist
Heaven Is Here
King
Ship to Wreck
Free
Dog Days Are Over
Dream Girl Evil
Prayer Factory
Big God
What Kind of Man
Hunger
You Got the Love
(Candi Staton cover)
Kiss With a Fist
Cosmic Love
My Love
Restraint
Bis:
Never Let Me Go
Shake It Out
Rabbit Heart (Raise It Up)
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