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Leia a crítica do filme Cassandro, do Prime Video - Ultraverso

Cassandro desperdiça potencial para se tornar épico

Bruno Oliveira

Cassandro é o novo filme que estreou no Prime Video estrelado por Gael Garcia Bernal (Amores Brutos) e dirigido e roteirizado por Roger Ross Williams, que já ganhou um Oscar em 2017 na categoria de Melhor Documentário em Longa-metragem por Life, Animated. Cassandro foi exibido no Festival de Sundance 2023 e conta a história real do lutador de lucha libre Saúl Armendáriz, um lutador abertamente gay que alçou fama por seu talento e carisma, rompendo uma grande barreira contra o preconceito enraizado dentro do mundo do wrestling.

Uma breve explicação sobre a lucha libre

Antes de começar a resenha, acho que vale uma breve explicação de como funciona o mundo do pró-wrestling ou a “lutinha de mentira” que temos por aí. No caso do México, na famosa lucha libre, são divididos principalmente como técnicos (os bonzinhos) e rudos (os vilões), mas existem também os exóticos, que se caracterizam como personagens drags, que nem sempre são feitos por gays. Saúl Armendáris ficou conhecido como Cassandro, O Exótico e foi um dos poucos que conseguiram furar a bolha do preconceito e se tornar um dos grandes lutadores e personagens desse mundo, o qual eu amo.

Saúl Armendáris ficou conhecido como Cassandro, O Exótico. Foto: Prime Video / Divulgação

Um bom filme que perde uma grande oportunidade de ser épico

Agora falando sobre o filme em si. Ele é bom, interessante, mas deixa muito a desejar em vários aspectos. Não há nada que eu possa falar mal de Gael Garcia Bernal, que é um ator incrível e acho que interpreta muito bem o protagonista. Apesar de não conhecer a figura da vida real que é interpretada, dificilmente ele erraria o tom. É nos seus momentos mais íntimos com o personagem que conseguimos ver toda a sua nuance como ator. O problema do longa fica, basicamente em dois quesitos importantes: roteiro e direção.

Roteiro

O problema do roteiro aparece quando Saúl, que era um “zé ninguém”, de repente, se torna um astro grandioso. Essa transição não é mostrada e faz parecer que com apenas duas lutas ele é o grande gênio da arte. Acerta quando se trata de seus dilemas íntimos, mas erra ao não conseguir mensurar a real fama de Cassandro. A relação de Saúl com sua mãe é uma base forte da narrativa que conseguimos sentir muito em um momento chave. Ainda temos a relação dele com seu pai ausente e com um amor proibido que aumentam um pouco mais a relevância da figura Saúl Armendáriz. Porém, nesse último parece que não há uma conclusão definitiva.

Os takes parecem robóticos e vazios. Foto: Prime Video / Divulgação

Direção

O problema da direção fica por conta de não mostrar e não conseguir colocar em tela toda a grandiosidade da lucha libre e o quão importante é esse esporte para os locais. Embora Gael Garcia Bernal não precise de dublê, os takes parecem robóticos e vazios na maioria das vezes. Em seus momentos íntimos, a câmera não prejudica de jeito nenhum, mas quando estamos falando de um aspecto macro, isso deixa a desejar demais. Quem não conhece esse mundo, talvez não entenda o porquê de tanto alvoroço. Faltou essa pegada. Para não dizer que tudo foi um desastre, no seu início acontece uma luta com a câmera em um trilho que capta perfeitamente a emoção de uma luta do tipo. Pena que não utilizaram esse recurso em todo o filme.

Conclusão

Cassandro é mais um bom filme que perdeu a grande chance de ser épico. Com um pouco mais de dinheiro em caixa e com um esmero maior no roteiro e direção, poderia ir para as cabeças e ser um enorme candidato às premiações que estão por vir. Infelizmente, o filme não passa a imensidão da querida lucha libre como deve e a falta de interesse do público brasileiro por esse esporte-show não deve vir a conquistar o público do nosso país como deveria. Eu como um bom amante das “lutinhas de mentira” me senti um pouco frustrado e posso dizer que esperava mais. Por último, vale mencionar a trilha sonora que é belíssima e consegue nos pegar de jeito.

Curiosidade

O cantor Bad Bunny, altamente premiado lá fora e pouco conhecido por aqui, está no filme e é um profundo admirador do pró-wrestling. Inclusive, ele já participou de algumas lutas épicas em grandes eventos da WWE, a empresa mais famosa de pró-wrestling do mundo.