‘Coringa: Delírio a Dois’ não chega aos pés do original

Bruno Oliveira

Deve ser quase unanimidade que o Coringa de 2019 é uma obra-prima moderna. O diretor Todd Phillips (Se Beber Não Case!), que também co-roteiriza o longa, nos trouxe um estudo de personagem incrível ao trazer uma história humanizada e mais realista do maior vilão do Batman. Compramos sua loucura e vamos até o fim acompanhando a vida problemática de Arthur Fleck (Joaquin Phoenix). A princípio, uma continuação não estava nos planos, porém, isso mudou e cá estamos com mais um longa do personagem. Infelizmente, não atendeu minhas expectativas, e o considero bem inferior ao primeiro.

Sinopse

Essa nova história começa dois anos após os acontecimentos do primeiro longa. Fleck se encontra preso em um hospital psiquiátrico esperando pelo seu julgamento. Se for comprovado que não possui nenhuma doença mental, pode ser condenado a morte. Nesse lugar cheio de tristeza e cercado por policiais duvidosos, Arthur conhece uma outra paciente desse hospital, Harleen Quinzel (Lady Gaga), que prontamente se apaixonam. Agora, juntos, embarcarão em uma viagem de loucura e romance embalados por momentos musicais em formato de delírios.

Tecnicamente perfeito

Não tenho do que reclamar dele tecnicamente. A cinematografia é linda de morrer e cada take beira a perfeição. Isso aumenta principalmente nos momentos de delírio de nossos personagens principais. A luz é perfeita, enquadramento mais ainda, e Phoenix e Gaga dão um verdadeiro show nesses momentos. Além disso, a atuação dos dois está lá em cima, ainda mais Phoenix que consegue fazer outro trabalho brilhante com esse personagem. Ele consegue alternar autoconfiança e autopiedade em fração de segundos. A feição dele muda e conseguimos entender perfeitamente o seu sentimento mesmo quando não falando nada. Incrível.

O realismo ganha peso sobre a fantasia

Nessa continuação, o roteiro tenta continuar a construção do personagem iniciado no longa anterior. Porém, pouco é adicionado a essa psiquê doentia que conhecemos. Por estar preso, pouca construção é feita em cima disso. A personagem da Arlequina meio que dá as caras aqui para nos mostrar quem é o verdadeiro Coringa. Ela até consegue isso, mas não dá forma que esperávamos. Acabamos assim em um filme de julgamento onde poucas reviravoltas acontecem e que não consegue levar a narrativa para a frente. Por momentos, o tédio até chegou e o sentimento de que nada ia para a frente nessa história surgiu. Quando algo grandioso acontece, somos privados de uma catarse graças ao realismo. Nesse caso, a fantasia deveria sobrepujar a realidade, mas talvez nem mereçamos isso.

Arlequina e Lady Gaga

Em toda divulgação a Arlequina aparece como uma segunda protagonista, mas não é bem assim. A personagem dela não passa de uma coadjuvante de ouro. Me pergunto se ela não faz parte dos delírios de nosso protagonista de fato, mas vendo ela conversar com outros personagens me fez sanar essa dúvida, porém, ainda pode ser suspeito. Ela entra na trama para que vejamos o Coringa de verdade. Aquele que aprendemos a odiar e amar ao mesmo tempo. Essa é sua função. Participa ativamente dos números musicais, mas basicamente é para isso que ela serve. Ela quer preservar a fantasia desse conto. O lirismo parte dela e isso nos dá momentos muito bons, mas que morrem na praia. Sempre prezo pelo realismo em muitas obras, e aqui, isso acabou sendo o seu maior defeito.

É musical sim, mas calma

O maior medo do publico médio foi saber que ele também seria um musical. “Como assim? Absurdo. Não Combina”. De certo não combina mesmo, mas isso é feito de um modo bem inteligente. Existe cantoria no mundo real de forma bem singela, como se qualquer um de nós cantássemos para alguém, e existe a forma abstrata disso. O delírio do título se encaixa perfeitamente aqui. É simplesmente romantizar um momento que só pode ser expressado dessa forma e não falado. Embora ache que tenha um excesso desses momentos, não é isso que o taca para baixo. Acho que os momentos musicais são os que elevam essa película para cima.

Conclusão

Coringa: Delírio a Dois não consegue acompanhar o patamar de seu original. Tecnicamente perfeito, possui ótimos momentos e interpretações muito além do normal. Mas ele enrola mais, não sabe aonde quer chegar direito e nos tira um pouco da fantasia do Coringa como um adulto que rouba um pirulito de uma criança. Tive a sensação de que não era isso que queria ver. O seu final é encharcado de molho agridoce e me fez sair da sala de cinema um pouco decepcionado e triste. “Não era para ser assim”, disse eu mesmo, mas quem disse que sempre temos o que queremos.

Onde assistir o filme Coringa: Delírio a Dois?

O filme Coringa: Delírio a Dois estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta, 03 de outubro.

Por fim, não deixe de acompanhar o UltraCast, o podcast do Ultraverso que fala sobre Cultura Pop.

Elenco de Coringa: Delírio a Dois

Joaquin Phoenix
Lady Gaga
Catherine Keener
Brendan Gleeson
Harry Lawtey
Steve Coogan
Zazie Beetz
Ken Leung
Leigh Gill

Trailer – Coringa: Delírio a Dois

Ficha Técnica – Coringa: Delírio a Dois

Título original: Joker: Folie à Deux
Direção: Todd Phillips
Roteiro: Todd Phllips e Scott Silver
Duração: 138 minutos
País: Estados Unidos da América
Gênero: drama, thriller, musical
Ano: 2024
Classificação: 16 anos

Bruno Oliveira

NAN