‘Maximiliano Kolbe e Eu’ não consegue ir para além da pregação
Izabella Nicolau
O cinema religioso tem atraído cada vez mais público no Brasil, e o filme de animação “Maximiliano Kolbe e Eu”, surge como uma nova aposta do gênero católico, distribuído pela Kolbe Arte. Dirigido por Donovan Cook, o longa conta a história do padre polonês Maximiliano Kolbe.
A história de dois tempos
O longa busca transmitir a comovente história de São Maximiliano Kolbe. Um franciscano polonês que deu a vida no campo de concentração de Auschwitz para salvar outro prisioneiro. Entrelaçando essa narrativa histórica com uma trama contemporânea focada na amizade improvável entre um idoso e um jovem rebelde.
A estrutura do filme é dividida em dois tempos: no passado, conhecemos a trajetória de Maximiliano Kolbe, um franciscano que se ofereceu para morrer no lugar de um prisioneiro em Auschwitz. Paralelamente, no presente, acompanhamos a história de D.J., um jovem rebelde que, após enfrentar problemas com a polícia, é “condenado” a passar um tempo com o idoso Gunter, que compartilha com ele a impressionante história do padre.
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Apesar de seu potencial emocionante, a decisão de dividir o foco entre duas histórias distintas acaba diluindo o impacto da vida de Kolbe. A trama de D.J. e Gunter, embora tenha seu valor ao abordar o crescimento pessoal e a amizade, poderia ser um pouco menos relevante na trama, permitindo que o heroísmo e a profundidade do sacrifício de Kolbe ganhassem maior destaque.
Ponto fraco
Outro ponto que enfraquece o filme é o estilo de animação. Com visuais que remetem a gráficos de videogames antigos, a estética ultrapassada tira parte do apelo visual da obra, especialmente para o público jovem, que poderia se conectar mais com uma animação moderna e cativante. Considerando o longo processo de produção de “Maximiliano Kolbe e Eu” (cerca de 12 anos), é compreensível que mudanças de estúdio tenham afetado o resultado final, mas o efeito é perceptível.
Dublagem
No quesito dublagem, o filme ganha força com a presença de Juliano Cazarré, que dá voz a Maximiliano Kolbe na versão brasileira. Sua atuação carrega a intensidade necessária para retratar um personagem de tamanha importância, e o elenco de apoio, com nomes como Philippe Maia, também traz uma energia sincera à trama.
Um filme que se perde em sua crença
“Maximiliano Kolbe e Eu” é, sem dúvida, um tributo a um homem que dedicou sua vida ao bem comum e à fé, e sua história merece ser contada, porém, o que poderia ser uma narrativa emocionalmente poderosa, por vezes se transforma em uma pregação explícita. O filme carrega consigo um forte viés evangelizador, que deve afastar aqueles que buscam apenas uma boa história inspiradora, sem querer mergulhar em dogmas religiosos.
Isso não diminui a relevância da mensagem de Kolbe, mas talvez limite seu alcance para públicos mais amplos, dificultando sua capacidade de emocionar tanto os devotos quanto aqueles que não compartilham da mesma fé.
Conclusão
Apesar de suas limitações técnicas e narrativas, “Maximiliano Kolbe e Eu” consegue tocar em temas universais de sacrifício e amor ao próximo, especialmente relevante em tempos de tanta divisão. Para o público católico, será um filme de grande valor, mas para outros, pode parecer mais uma oportunidade perdida de contar essa história com o impacto que ela realmente merece.
Por fim, não deixe de acompanhar o UltraCast, o podcast do Ultraverso que fala sobre Cultura Pop.
Elenco de Maximiliano Kolbe e Eu
Ashley Greene
David Henrie
Hector Elizondo
Bridger Zadina
Weronika Rosati
Richard Epcar
Trailer – Maximiliano Kolbe e Eu
Ficha técnica – Maximiliano Kolbe e Eu
Título original: Max & Me
Direção: Donovan Cook
Roteiro: Bruce Morris
Duração: 124 minutos
País: México, Estados Unidos
Gênero: animação, história
Ano: 2024
Classificação: 14 anos