Crítica de Filme | Run & Jump (VISÕES ANTAGÔNICAS)

Blah Cultural

O filme Run & Jump, dirigido por Steph Green tem sua estreia nesta quinta-feira (05/03) e nossos críticos estiveram lá para conferir o que este longa tem a oferecer.

Confira as opiniões antagônicas de Bruno Giacobbo e Aline Khouri.

“RUN & JUMP CHAMA ATENÇÃO POR SER UM FILME MUITO MAIS HUMANO E DELICADO”, por Bruno Giacobbo

Afirmar que uma determinada obra plagia outra é uma tarefa espinhosa. Quando a diferença temporal que as separam é grande, fica um pouco mais fácil. Contudo, quando elas são gestadas em épocas bastante próximas torna-se quase impossível. Boas e semelhantes idéias podem surgir em lugares diferentes sem que seus autores desconfiem desta coincidência. Quando isto ocorre, tende a levar a fama e colher os louros aquele que apresentar seu “insight” ao mundo primeiro ou o que tiver o padrinho mais forte. Decididamente, este não é o caso do filme Run & Jump, dirigido e escrito por Steph Green, indicada ao Oscar de melhor curta por “New Boy”, em 2009.

A história desta produção teuto-irlandesa se inicia com a volta para casa de Conor (Edward MacLiam), um carpinteiro que acabou de receber alta do hospital. Vítima de um derrame, ele sobreviveu, mas não sem sequelas. No lar, lhe esperando, estão a esposa Vanetia (Maxine Peake), o filho adolescente Lenny (Brendan Morris) e a caçula Noni (Ciara Gallagher). Junta, esta família terá que se adaptar a uma rotina completamente diferente, já que o pai age e se comporta feito uma criança. Só que eles não estão sozinhos. Contra a vontade dos sogros, Vanetia abre suas portas para Ted Fielding (Will Forte), um médico pesquisador norte-americano interessado no caso de Conor. Intruso que bagunça a ordem das coisas e as cabeças destas pessoas, com o tempo ele ganha a confiança de todos e ocorre um inevitável flerte com a dona da casa. E aí, o que fazer para sair desta tremenda saia justa?

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Se você teve a mesma ideia que eu tive, fique tranquilo, afinal, é praticamente impossível não notar as semelhanças entre a trama desta pequena película com características de indie ianque e a da “superprodução” britânica “A Teoria de Tudo”, que traz como protagonista o híbrido de físico e popstar Stephen Hawking. Está tudo ali. Os arquétipos dos personagens são os mesmos, os desdobramentos destes dois dramas familiares bastante semelhantes. Há até uma atriz em comum (Peake). Desta forma, a comparação, a associação e até mesmo o pensamento de cópia são inevitáveis. E como se trata de uma história ficcional comparada ao retrato da vida de uma celebridade dos nossos tempos, não é difícil concluir, também, quem levará vantagem na hora de ser lembrada como a obra original.

Remando contra a maré, além de ter sido lançado antes (dois de maio e sete de novembro de 2014, respectivamente), Run & Jump chama atenção por ser um filme muito mais humano e delicado. Esta humanidade desenha-se quando a diretora, aos poucos, vai desnudando as engrenagens das relações familiares e sociais estabelecidas após o retorno de Conor. São críveis, principalmente se comparadas ao dramalhão farsesco de seu ‘primo rico’. Já a delicadeza está na simplicidade e precisão das atuações dos protagonistas. Só para exemplificar, longe de beirar a caricatura levada às telonas por Redmayne, MacLiam nos convence de seu ar convalescente logo na primeira aparição. Tudo isto climatizado por uma trilha sonora daquelas de fazer brotar um sorriso no canto dos lábios.

Desliguem os celulares e ótima diversão.

BEM NA FITA: A delicadeza do filme.

QUEIMOU O FILME: Nada de relevante.

“AO CONTRÁRIO DAS CRÍTICAS POSITIVAS QUE ENCONTREI POR AÍ, ESSA NÃO VAI SER UMA DELAS”, por Aline Khouri

A experiência artística mostra que a escolha de um assunto e/ou gênero influencia na hora de atrair o público.  No caso do cinema, por exemplo, algumas pessoas gostam de dramas familiares, outros de comédias, há quem prefira suspenses e assim por diante. Contudo, um tema e um gênero são apenas elementos que, sozinhos, não conseguem sustentar um filme e torna-se extremamente relevante a maneira como o filme aborda as questões a que se propõe. Por essa perspectiva, é fácil entender como um mesmo objeto, visto de diferentes ângulos na dramaturgia, pode gerar elogios ou comentários não tão positivos. O filme Run & Jump pode se encaixar mais adequadamente nessa última situação.

Ao contrário das críticas positivas que encontrei por aí, essa não vai ser uma delas. Run & Jump não foi um filme que me cativou. A história em si parte de uma situação bem delicada e instigante. Vanetia (interpretada por Maxine Peake) é uma mãe de família que tem dois filhos. Junto com eles, ela precisa lidar com o retorno do marido Conor (Edward MacLiam) do hospital após sofrer um derrame.  Além da volta de Conor, a família também recebe o neurologista e pesquisador Ted (Will Forte) que se hospeda na casa para acompanhar o comportamento e a evolução de Conor.

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Com a personalidade extremamente afetada pelo derrame, Conor não é mais o marido e o pai que fora anteriormente. Ele precisa receber cuidados, tanto no quesito físico quanto no psicológico, e atenção e está distante daqueles que estão ao seu redor. Adaptar-se a essa nova situação é o desafio de Vanetia e dos seus filhos que tentam encontrar maneiras de se reconectarem a Conor. Mesmo com as pequenas evoluções que Conor apresenta, há uma frustração natural do restante da família que não encontra mais o marido e pai que conheciam.

Outra questão é o envolvimento de Vanetia com o médico Ted. Se antes o vínculo entre os dois era apenas profissional, com o tempo ocorre uma aproximação e entra em cena um sentimento amoroso. Sobra, então, o dilema de se entregarem a esse sentimento ou de resistirem a ele em respeito à condição de Conor. Decisão difícil.

O tema que trata de família, doença e reconstrução poderia ser facilmente explorado pelo viés de uma intensa carga dramática, mas o filme se vale da leveza para desenvolver-se. Essa proposta é estimulante, mas não se sustenta no decorrer da história por si só. O desenvolvimento de Run & Jump proporciona sim alguns momentos divertidos e um senso de humor inesperado. Entretanto, boa parte do filme ocorre em um ritmo lento que necessita de mais aprofundamento e doses de vida.

BEM NA FITA: A  leveza e a trilha sonora

QUEIMOU O FILME: Ritmo lento, abordagem um pouco superficial

FICHA TÉCNICA:

Direção: Steph Green.

Roteiro: Steph Green e Ailbhe Keogan.

Elenco: Maxine Peake, , Edward MacLiam, Will Forte, Ciara Gallagher, Ruth McCabe, Brendan Morris, Sharon Horgan, Michael Harding, Kelby Guilfoyle, Ri Galway, Clare Barrett, Tim Landers e Joseph Kelly

Produção: Tamara Anghie e Martina Niland.

Fotografia: Kevin Richey.

Trilha Sonora: Sebastian Pille.

Duração: 102 min.

Ano: 2014.

País: Irlanda e Alemanha.

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