Crítica de Série | Tut (Series Finale)
Stenlånd Leandro
Com a consciência limpa, as vezes é necessário mais do que astúcia para se tornar alguém transcendental.Há uma divergência: Citam aos ventos que inteligência e sabedoria se equiparam. Ainda que o sábio por momentos venha se tornar um algoz de seus súditos, se ele tiver imponência e diante do reino se mostrar alguém destemido, não haverá aqueles que possam conspurcar o renome de um semi-deus. Tutankamon foi assim! Um algoz, mas que conseguiu ainda que em seu leito próximo à definhar, criar uma redoma onde não houvera algo ou alguém nessa terra que tenha conseguido transcender mais que sua fama muito menos conspurcar sua sabedoria.
Enquanto aqueles que consomem de tudo diante de sua confiança, outros aos redores estão balbuciando o quão efêmero e fraco o rei dos reis, o faraó dos faraós vem se tornando. Não somente uma, mas diversas pragas atingiram o reinado. Não apenas incesto era praticado naquele tempo, como tudo e todos pareciam viver diante de uma era mesozóica, em busca somente de alimento e provar quem é o macho alfa. Não havia compaixão, não havia rei, não havia nada, somente a busca implacável pelo poder. Enquanto menino, a múmia mais antiga que conhecemos, e também a mais famosa, ainda vivo, foi decretado a tragar do impeto de sua alma, uma força sem precedentes: Uma criança aniquilar outra como prova de força e imponência. A atuação do jovem menino (Kaizer Akhtar) junto a de seu olhar tão puro, engendra uma forma radiante de como eram forçados a coisas que até o verdadeiro Deus duvidaria, afinal, Deus salve o Rei, alias, o futuro Faraó.
Com ritmo ágil e alta dose de drama, cenas de nudez, e diversas cenas de assassinato grotescas (de forma impiedosa), o seriado TUT, criou takes para chocar aquele que assiste a narrativa do rei, alias, mostrando na verdade a limitação de estar por trás de tanta trama traiçoeira. É de facil mostra, mostrar seu corpo a outros companheiros em busca de poder e não há nada tão justo quanto. Estas ênfases sugerem experiências compartilháveis por qualquer pessoa nas mesmas circunstâncias e tornam deste formato, um caso isolado de cárcere irracional, levando a pessoa até a beira da loucura. Até onde poderíamos chegar para obter o que poucos conseguiram? Hitler pode não ter sido mumificado, e mesmo pós-idiotices , o mesmo até hoje é lembrado, por outros cultuados, todavia, quem cultua o Faraó Tutankamon nos dias de Hoje?No ímpeto da alma e do sofrimento, a série deixa clara a amplitude e a noção do humano e suas vertentes ao se jogar no submundo da implacabilidade, pois, deslocadas de uma estranheza monstruosa, as terríveis ações do ser humano, onde tudo é corrosivo quão tanto venha a ser simples, volátil e fútil. Não se sabe se foi proposital, entretanto, a escolha dos atores ajuda e muito o decorrer da trama. Ben Kingsley está divino e não teria outro em meu banco de dados, que pudera viver com tanta maestria o Vizir. O ator alimentou o texto poético que não se centra no mundo exterior, em contrapartida, este constitui um subterfúgio e assim se a obra tivesse de ser exibida em formato longa-metragem, somente três episódios de duração (1 hora e meia), não bastariam. A expressão de sentimentos, a realidade mais pútrida, com cânones indicando cenas de violência dentre outros mais, não teria sido possível de ser sentida em seu máximo, sendo assim, a escolha do antigo Egito, foi um ponto positivo ao grupo para fazer com que todo um público excitado pelas simples três noites, pudessem requisitar mais episódios. Foi assim com Marco Polo, marcado pela intrepidez provinda da NetFlix e seus cartolas, tanto quanto o canal Spike teve para com TUT e sua alta produção.
E então, quando se pensa que nada mais trágico poderia acontecer, eis que inicia-se um embate em busca de milagres, onde um reinado venha sucumbir diante da praga, dado um papel, assim, trancafiada em cada corpo, dolente, com risco de denegrir a imagem do Faraó, pois o mesmo depende de seu reinado para ir em busca de novos horizontes. Há sim, um fim, iminente, quase que ”previsível”, para aqueles que deleitam-se por anos trancafiados sem opção de uma vida melhor. Concomitantemente o personagem se encontra incólume em alguns momentos, enquanto seu general Horemheb busca coalizões bem distantes de seu senhor, sim! Perscrutando aqueles que veem em sua vida, um ar rebelador. O ator Alexander vive um influente religioso da época, sendo o porta-voz dos Deuses, mais uma vez transcende em suas atuações. Viveu o demônio de Leonardo Da Vinci em Da Vinci’ Demons, o Rei Minos na série Atlantida e hoje, Amun em TUT. A linha tênue entre as três atuações, criando uma atmosfera de impiedade.Ankhesenamon é uma princesa, filha de Aquenáton, que logo vira rainha, esposa do Faraônico-Faraó-Tut. Mas é nojenta, tanto quanto exibida e audaciosa. Não possui aquele respeito, nem a doçura perene buscada num rostinho fofo. Se veste bem, mas a carapuça de ‘diaba ruim’ se torna eficiente. Sua trama inicia-se diminuta combatendo os passos do Faraó, enquanto ‘malditamente’ se expõe cada vez mais no seu plano ignóbil e sem escrúpulos de traição. O Faraó acredita que a mesma não possa lhe dar um filho homem para tentar dar continuidade a sua dinastia, a mesma desenvolve a cada segundo um plano mais macabro, afinal, o incesto contido no seriado é voraz. Tentam tirar o sangue do vampiro faraônico, assim, enfraquecendo-o e consequentemente estorcegam suas vísceras onde não mais tenha para onde correr.
A vida de um Faraó, bem como outros exemplos indo de encontro a um outro ponto, uma das curiosidades da montagem, foi a exuberante montagem dos cenários. Usufruindo de belos efeitos especiais, compostos pelo cenário cru-original, onde quase as piramides sequer são dadas aos olhos do espectador, não há nada tão distinto quanto . A Imagem lúgubre, funesta, ainda que por momentos aos que assistem a mesma, sejam gratificados com breves cenas onde um formato lábil possa ser audaciosamente tocante, mesmo que, nos dias atuais os famosos hieroglifos não mais sejam usados, o que vemos no Egito atual, danças e mais danças no íntimo do alter-ego fictício dos personagens representados por uma divisão de momentos lindos e chocantes, cada momento árabe, tanto quanto a trilha sonora, ‘auricularmente’ falando, goza-se qualquer um, de uma alegria profunda.
Há, de toda forma, a reconstrução dos cenários sob afoiteza usada pelos responsáveis quanto os efeitos especiais. É neste ponto, onde não há pausas, onde o seriado tenta desocupar-se da tarefa árdua de mostrar o quão cara ela pode ter se tornado ao ser montada, que pode-se, assim, regozijar-se de uma atmosfera não-insipida.Engrandece o drama, o ator Avan Jogia, vive o caído-rei-faraônico até sua que sua ascensão seja avistada pós algumas horas de seriado, mesmo admitindo-se que, seja uma obra ainda em processo de experiência, e que ao mesmo tempo, passou de tal prazo, e conseguiu no fim, se credenciar e despontar como uma realização excepcional sem procrastinar aquele que um dia conheceríamos como a mais importante múmia de todos os tempos. Alias, de nada valeria esta série se não fossem as atuações e respostas óbvias ao que já perpetuamos em nosso imaginário, e quem sabe, ir além é o que nos restaria vivenciar. Certo de que alguém poderia argumentar que não se trata de um série muito original; afinal, viver mais um rei que tem sua queda, vivida pela morte, mas sem um papel presente, sem um ator que a narre, onde por definição, ser uma produção cuja atualidade é constantemente renovada. O que diferencia esta série de outras é a maneira como ressalta essa dor que muitos vivenciaram, onde a confiança é abalada pela própria sombra, onde amigos nunca existiram e o luxo é uma mera moeda de troca levada ao telespectador, por fim, de forma gratuita.
O último ato de Avan vivendo TUT, é como voltar ao passado, alguns minutos acima neste texto, onde novamente diverge-se quando alguém insistentemente menciona que inteligência e sabedoria se equiparariam em algum momento. Astuto como nenhum outro, para vencer o real inimigo, numa batalha mais simples que o esperado, mas sabiamente criada e desenvolvida pela direção e produção do seriado, acontistas foram usados, num xeque-mate onde um tabuleiro de xadrez tinha sido criado inevitavelmente desde quando seu pai, Aquenáton, passou seu reinado ao filho.
No fim, e para o fim, não há sentimento qualquer que se assemelhe endogenamente, na perda do que no futuro torna-se o transcendental, jaz em um tumulo qualquer, sem delongas, sem tergiversar, Ay (Ben Kingsley), que durante toda a série, de peão, torna-se então a peça chave para que, nos últimos minutos da série, o maldito vitupério criado pelo personagem, adiciona em nosso coração, aquele sentimento de ódio máximo, que assim chega então.