Debate | Califórnia (Cine Encontro / Festival do Rio)
Juliana Góes
O Cine Odeon recebeu na tarde da última terça-feira (06/10) o elenco do filme Califórnia, longa-metragem de Marina Person, estreando como diretora de cinema e, que também estava presente. O debate ocorreu após a exibição do filme e foi elogiado pelo público. A película acompanha a história de uma jovem na década de 80 e explora o universo adolescente da época através da música, dilemas sobre sexo e até o surgimento da Aids.
A cineasta iniciou a conversa, mediada pela jornalista Kamille Viola, explicando sobre o que a levou a realizar o filme: “Queria falar sobre a minha geração, como era ser adolescente no Brasil, que estava saindo de uma ditadura, ao mesmo tempo em que os jovens iniciavam a vida sexual junto com a descoberta de uma nova doença desconhecida e fatal, além de tantas bandas de rock surgindo e inspiradas no movimento pós-punk.”
Marina fez uma breve apresentação dos atores novatos. Estreante nas telas, a protagonista Clara Gallo (Estela), Caio Horowicz (JM), da série “Família Imperial” e Giovanni Gallo (Xande), da série “Pedro e Bianca”, já fizeram poucos trabalhos na TV.
“Fizemos muitos testes. Trabalhar com atores pouco experientes traz um frescor que é muito legal. Fiquei encantada com a Clara pela semelhança comigo. O Caio tinha a biótipo perfeito para o JM e não consegui mais ver ninguém além dele. Entre os testes do Giovanni, assisti ao filme que ele fez o “De Menor” e não tive a menor dúvida, ele seria o Xande”, explica a diretora.
Sobre reconstituir a atmosfera dos anos 80, Clara Gallo explicou o que foi mais difícil no processo de vivenciar os detalhes da época: “Eu não sabia mexer na fita cassete, tenho 20 anos e era pequena na época, a diretora de arte teve que me ajudar, foi bem engraçado, a Marina nos ajudou muito.” Caio Horowicz comparou as distintas gerações: “Hoje tem as redes sociais, e antes tinha carta, fita cassete e ir às casas das pessoas, mas a essência é a mesma.”
Perguntada sobre o processo de negociação pelos direitos das músicas de integrarem a trilha sonora, a cineasta declarou ter sido difícil: “Não foi fácil, recebemos alguns não, mas as mais importantes nós conseguimos. Foram todas escolhas minhas, que fizeram parte da minha adolescência. Eu era fanática pelo David Bowie, tinha uma queda forte pelo pós- punk, The Cure, e também tive meu lado pop brasileiro, como os Paralamas, Titãs e Blitz”.
Ao ser questionada se Califórnia é uma autobiografia, Marina negou, mas explicou que muitas cenas foram inspiradas em acontecimentos na sua adolescência e de outras pessoas próximas.
O ator Caio Blat, que interpreta o Tio Carlos, ressaltou o grande impacto da sua geração com o surgimento da Aids: “Eu era criança nos anos 80, adolescente nos 90, mas eu vivi isso ,mesmo criança era curioso. Foi um impacto forte na minha geração também. Nossos pais viviam a época da liberação sexual, da revolução dos costumes e democratização do país, e quando chegou a nossa vez, as coisas ficaram estranhas, tinha um perigo de morte, a doença, e vimos nossos ídolos morrendo. Então, tivemos que começar a nossa sexualidade lidando com a camisinha, e coisas que impediram essa liberação de vida, da geração anterior.”
Califórnia foi exibido no Festival do Rio e terá distribuição será da Vitrine Filmes. O filme tem estreia prevista para 03 de dezembro deste ano.