Entrevista | Sandra Kogut, diretora do filme ‘Campo Grande’
Juliana Góes
Campo Grande, mais novo longa de Sandra Kogut, estreou no Festival do Rio, na Première Brasil neste fim de semana. O filme conta a história de duas crianças abandonadas pela mãe, na portaria de um prédio em Ipanema. A película também mostra a cidade do Rio de Janeiro em plena transformação, no meio do caos urbano.
Confira a entrevista que o BLAH CULTURAL fez com a cineasta Sandra Kogut:
BLAH CULTURAL: O filme toca nos assuntos de diferença entre classes sociais e abandona da mãe, o que te inspirou a escrever sobre esses temas?
Sandra Kogut: É uma adaptação inspirada no livro de Guimarães Rosa, e achava que já conhecia essas histórias, só que é muito complexo, sobre o amor incondicional da mãe, que abandona o filho por achar que está dando uma chance de vida melhor. Fiquei com isso na cabeça. Fiz pesquisas, fui à abrigos, conversei com assistentes sociais e com crianças. A partir daí, nasceu o filme, inspirado nessas histórias que colhemos. Enquanto o filme estava sendo produzido, o Brasil e as relações sociais estavam mudando.
BC: O filme mostra muitas obras pela cidade. Você esperava por isso ou foi pega de surpresa?
Sandra Kogut: Não só esperava como fazia parte do filme. Era um dos assuntos que queria falar. Usamos isso, e interagimos com esse caos, não podíamos escapar dele. Era uma situação um pouco confusa, em plena mudança na cidade e, que também estava acontecendo na vida dos personagens. Achei que não era só uma paisagem real, mas também uma paisagem interna, do estado de espírito dos personagens.
BC: O que te chamou mais atenção nessa transformação da cidade?
Sandra Kogut: O que mais me impressionou foi a quantidade de obras em todos os lugares, onde você fosse, havia um grande volume e extensão de obras gigantescas, e até bairros que você nem sabia circular. Foi impressionante e ao mesmo tempo interessante. Gosto de trabalhar nesse tipo entre a ficção e o documental. Não gosto de fechar ruas. Há uma história engraçada. A produção colocou um ponto de ônibus cenográfico em uma das cenas na rua, enquanto eu estava do outro lado preparando os atores, os ônibus começaram a parar no nosso ponto, até pessoas pegavam ônibus ali.
BC: Porque escolheu Campo Grande?
Sandra Kogut: Quando comecei a escrever, pensei em um bairro no subúrbio do Rio de Janeiro. Escolhi Campo Grande por que também acho um nome muito bonito. Decidi ir à Campo Grande, aonde não ia há anos, e vi como estava lá, o lugar combinava com a história, exatamente aquilo que queria.
BC: Como foi trabalhar com as crianças no filme?
Sandra Kogut: Foi uma felicidade, eles eram incríveis. Eu procurava crianças que nunca tivessem atuado, porque eu não queria atuação. E tive a felicidade de encontrar essas crianças, eles também se adoraram entre si, se tornaram verdadeiros irmãos. Foram muito corajosos.
BC: Esse é o seu segundo filme que tem uma criança como protagonista. O que te levou a repetir isso?
Sandra Kogut: Nunca imaginei fazer dois filmes seguidos com crianças, não tinha planejado. Em “Mutum” (2007), queria contar aquela história, e aconteceu do protagonista ser uma criança. Em “Campo Grande” queria contar a história não só do ponto de vista da criança, mas que a gente entendesse o lado de todo o mundo, de todos os personagens. Por isso, tem a personagem Regina (Carla Ribas), uma mulher de classe média alta, que enfrenta esse problema com as crianças.
BC: Sobre o suspense do filme, se a mãe irá aparecer…
Sandra Kogut: A gente se pergunta, se a mãe irá aparecer. Durante a pesquisa para o filme, fiquei muito emocionada, como as crianças abandonadas arrumavam uma desculpa para as mães. Elas tinham sido abandonadas, mas dizia que a mãe estava ocupada, que trabalhava muito. Elas tinham uma explicação e não acusavam as mães, estavam do lado delas. Foi tocante porque isso também mostra o amor incondicional do filho para a mãe.
Campo Grande ainda não tem previsão de estreia em circuito nacional.