Crítica de Teatro | Cock – Briga de Galo

Antonio de Medeiros

Em cartaz no Teatro Poeira, a peça do premiado dramaturgo inglês Mike Bartlett, Cock – Briga de Galo, se utiliza da metáfora de uma rinha para retratar a disputa entre um homem (M – de man) e uma mulher (W- de womam) pelo mesmo homem (John). Mas a maior briga é a de John consigo mesmo, num torturante conflito com seu desejo, sem conseguir enquadrá-lo nos rótulos determinados pela sociedade como hétero, homo ou bissexual.

John é um protagonista diferente que não faz o que se espera dele: tomar decisões. Seja por sua necessidade de aprovação, seja por precisar de alguém que tome as decisões por ele ou por, de certa forma, talvez mesmo inconsciente, gostar de ser o centro da disputa. Se John pudesse, ele se sentaria na plateia e deixaria os dois brigarem por ele. Aliás, os 3, pois o pai de M surge para interceder pelo filho.

O texto, com diálogos com tiradas divertidas, tem um crescendo, cujo climax é a revelação de com quem afinal ficará John. Quem assiste fica curioso em saber qual será o desfecho, quem será o vencedor desta briga. A cada momento John se inclina para um dos lados, meio joão-bobo, meio manipulador.

Interessante a abordagem da força e dos conflitos existentes num relacionamento, seja entre pessoas do mesmo sexo ou não, as inseguranças e as cobranças acabam sendo as mesmas. As cenas dos beijos são reveladoras e simbólicas, pois mostram cenicamente e de forma inteligente que não há essa diferença, a intensidade dos beijos, revelando a entrega a essa paixão, que tem a mesma intensidade e entrega independente do sexo.

Todos os quatro personagens são excelentes galos de briga, portanto, papéis almejados por qualquer bom ator. Neste quesito, destaque para o excelente trabalho de todos os quatro atores. Felipe Lima tem a difícil tarefa de ser esse cara inerte, carente, cheio de inseguranças e dúvidas. Debora Lamm – quem não se lembra dela como a garotinha de “Mamutes”? -, consegue transmitir as matizes da personagem. Marcio Machado, que eu conhecia como apresentador do “jornalístico” Sensacionalista, consegue ser divertido e cruel ao mesmo tempo. Completando o elenco, Hélio Ribeiro cumpre com clareza e segurança seu papel.

Coube à direção corajosa de Inez Viana encarar o desafio de montar esse texto, seguindo as indicações do autor como ausência de cenário e objetos, centrando a atenção no conflito e na presença dos atores. O resultado foi alcançado com sucesso.

O figurino de Júlia Marini merece ser destacado por caracterizar muito bem cada personagem. A identidade de cada personagem se reflete na roupa, em ótimas escolhas. A única pequena ressalva é na camisa usada por M, com uma listra vertical; como o Marcio Machado já é alto e magro, ele fica ainda mais esticado. Este pequeno detalhe  não ofusca o belo trabalho realizado pela figurinista.

Nesta briga por um bom relacionamento, não há um vencedor entre os personagens, se há algum vencedor é o público, por ter a chance de assistir a  este ótimo espetáculo.

::FICHA TÉCNICA

TRADUÇÃO: Eduardo Muniz DIREÇÃO: Inez Viana ELENCO: Debora Lamm Felipe Lima Marcio Machado ATOR CONVIDADO: Hélio Ribeiro ATRIZ STAND IN: Carol Pismel ILUMINAÇÃO: Renato Machado ESPAÇO CÊNICO: Flávio Graff TRILHA SONORA ORIGINAL: João Callado FIGURINO: Júlia Marini PREPARAÇÃO CORPORAL: Dani Amorim ASSISTENTE DE DIREÇÃO: Luis Antonio Fortes DESIGNER GRÁFICO: Gabriel Medeiros FOTOGRAFIA: André Nicolau ASSESSORIA DE IMPRENSA: Uns Comunicação – Alan Diniz e Sidimir Sanches DIREÇÃO DE PRODUÇÃO: Paula Salles GERENCIAMENTO DO PROJETO: Gabriela Mendonça PRODUÇÃO EXECUTIVA: Miguel A. Mendes

Antonio de Medeiros

Antonio de Medeiros apenas digita os textos entregues pela própria Patty, ou por seu sobrinho Fernandinho, em papeizinhos escritos à mão (cartõezinhos amarelados de fichamento) ou datilografados, às vezes manchados de café ou quase sempre de whiskey. Ela me fez prometer que eu não modificaria nem uma única vírgula. De modo que não me responsabilizo por sua opinião e pitacos. (Antonio De Medeiros é formado em Turismo pela UniRio. Atualmente, é funcionário público. Passou pela CAL e pela Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Ama Cinema, Literatura e Teatro. Sonha em ser escritor. Enquanto escreve peças e um romance, colabora para o site "Blah Cultural")
NAN