Crítica de Filme | Nise – O Coração da Loucura

Juliana Góes

Uma grande fila no Cine Odeon resultou numa sala de cinema lotada de gente para assistir a sessão de estreia do filme Nise – O Coração da Loucura exibido no Festival do Rio 2015. O longa-metragem do diretor Roberto Berliner, traz Glória Pires, em mais uma interpretação excepcional, dessa vez ao encarnar a médica, Nise da Silveira (1905-1999). Não se trata de biografia, mas sim de um período, quando Nise foi trabalhar no Centro Psiquiátrico Pedro II no Engenho Dentro no Rio de Janeiro.  Nise se destacou por diversificar o método de tratamento aos pacientes com distúrbios mentais (chamados por ela de “clientes”) substituindo práticas agressivas por amor e arte.

A essência do filme é justamente sobre o estudo das artes como forma de tratamento terapêutico aos esquizofrênicos. Nise não quis aceitar os procedimentos violentos da época (década de 1940), como o uso de eletrochoque e lobotomia, e enfrentou preconceitos, por adotar ideias revolucionárias, utilizando a pintura e até cachorros como forma de terapia. Tudo para revelar a mente criativa, o talento artístico, e o lado afetuoso de cada um.

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Todos os atores que interpretaram pacientes do Centro Psiquiátrico souberam encarnar perfeitamente um doente mental, cada um tinha sua particularidade, um drama pessoal que o levou a estar lá. Difícil destacar alguém específico, a partir de diferentes atuações, como os atores Bernardo Marinho (Raphael Domingues), Claudio Jaborandy (Emygdio de Barros), Fabrício Boliveira (Fernando Diniz), Flavio Bauraqui (Octávio Ignácio), Julio Adrião (Carlos Pertuis), Roney Villela (Lucio Noeman) e Simone Mazzer (Adelina Gomes).  É precisamente por confiar nesses talentos, que Berliner não concentrou as câmeras apenas em Glória Pires, mas focou em todo o elenco para estruturar o cenário impactante da clínica, fazendo uma brilhante representação poética sobre a arte em forma de cura.

Nise – O Coração da Loucura mostra uma mulher guerreira que enfrenta as autoridades por acreditar no trabalho clínico mais humanizado, se aprofundando nos estudos da psiquiatria, sendo a única mulher da área, antes predominada pelos homens. Cenas do documentário “Imagens do Inconsciente” de Leon Hirszman, foram mostradas, onde aparece a própria médica, já idosa, conversando com o espectador, um dos momentos mais emocionantes do filme. Após a sessão, ocorreu o Cine Encontro, onde todo o elenco participou de um debate, e foram aplaudidos pela fantástica obra de Roberto Berliner.

De forma reflexiva, o filme expressa que o cinema nacional também é capaz de produzir bons dramas, prova disso, foi o merecido prêmio Redentor de melhor longa-metragem de ficção, eleito pelo voto popular, do Festival do Rio.

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FICHA TÉCNICA:

Direção: Roberto Berliner

Elenco: Glória Pires, Fabrício Boliveira, Felipe Rocha, Simone Mazzer
Duração: 108 min

País: Brasil
Ano: 2015

Juliana Góes

Leonina, carioca, adora filmes e séries, apaixonada pelos animais, e não vive sem chocolate...
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