Crítica de Filme | O Reino Gelado 2

Wilson Spiler

Lançado em 2012, O Reino Gelado” não fez muito barulho, mas também não deixou a desejar nas bilheterias. O longa baseado foi baseado no conto “A Rainha da Neve”, de Hans Christian Andersen, que também serviu de base para ninguém menos que “Frozen: Uma Aventura Congelante”, lançado um ano depois e que se tornou um estrondoso sucesso no mundo todo. É aí, talvez, que a animação russa perde força.

Mas O Reino Gelado 2 segue agora um roteiro original, mas a trama é boba. A história até prometia se fosse bem conduzida. Ninguém sabe que o troll era lacaio da malvada Rainha da Neve e, com seu fim no longa anterior, ele promete nunca mais mentir para ninguém. Acontece algo estranho com sua imagem refletida no lago gelado onde ele faz sua promessa, mas o que será descobriremos depois. Enquanto isso, suas preocupações se voltam para cuidar do emprego, buscar ingressos para o show que sua avó quer ir e, sucessivamente, as coisas começam a dar errado, ainda mais quando ele precisar virar o herói do filme para salvar o reino de mais uma ameaça gelada.

De início, tudo indica que O Reino Gelado 2 é uma animação infantil como tantas outras. Estão lá o drama familiar (dois filhos pequenos são afastados dos pais por uma rainha malvada), um cenário de inverno em 3D que lembra muito “A Origem dos Guardiões” (ou o próprio “Frozen”), um personagem central parecido com a preguiça Sid de “A Era do Gelo”, e um poderoso espelho que dialoga com a personagem malvada, como em “Branca de Neve e os Sete Anões”.

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Só que o O Reino Gelado 2 tem certamente uma das histórias mais absurdas já vistas no cinema de animação. Para começar, a trama foi escrita por SETE cabeças, o que gera uma confusão danada, dando a impressão de que o texto foi criado por cada roteirista separadamente, sem que um conhecesse o trabalho do outro. A pequena Gerda vai em busca de seus pais e embarca em uma aventura que parece mais um road movie do que uma fábula em si. De 10 em 10 minutos, um novo personagem aparece sem que eles tenham qualquer importância na trajetória da jovem.

Sua história vai parecendo mais um “Alice no País das Maravilhas”, com seus cenários coloridos e psicanalíticos, do que as animações fofinhas e bonitinhas que invadem as salas de cinema. Cenas como a do flerte incestuoso entre os dois irmãos (que foram afastados na infância e não sabem, no início, que pertencem à mesma família), a presença de grande quantidade de armas de fogo e até mesmo uma premissa feminista – o longa é recheado de grandes vilãs e heroínas, mas os homens são meros coadjuvantes –,  tornam o O Reino Gelado 2, no mínimo, diferente. São cenas que dificilmente entrariam nos roteiros politicamente corretos americanos.

Algumas intervenções políticas também são notadas. A única maldade de uma das vilãs, por exemplo, é seu grande apetite capitalista – ela vende flores a um preço maior do que valem. A rainha malvada, por sua vez, não odeia todos os seres humanos, apenas os artistas, lembrando a Revolução Cultural Comunista, em que as obras artísticas não oficiais eram banidas na China.

Em relação à parte visual, tão destacada em produções do gênero, O Reino Gelado 2 tem traços bem simples, mas isso não quer dizer que seja um defeito. A técnica utilizada é bem feita e a animação faz um uso do 3D bem interessante, onde, ao invés de fazer seus personagens pularem e deslizarem o tempo todo – situação bem comum na tecnologia -, é a câmera que faz amplos movimentos pelos palácios gelados e campos cobertos de neve, ou em torno dos personagens.

A boa notícia é que se você não levou o filhote para assistir ao primeiro filme, não se preocupe: logo no início da produção, um pequeno resumo do que aconteceu no longa anterior é mostrado e acaba que assistir ao original não é tão essencial para entender sua sequência, até porque a trama, apesar de apresentar os mesmos personagens, funciona bem como um longa independente.

Resumindo, O Reino Gelado 2 pode vir a ser um bom entretenimento para as crianças, por causa dos desenhos coloridos e algumas cenas de ação, mas não deve ser tão impactante e ter tanto sucesso entre os pequenos como produções da Disney, Pixar, entre outras. Deve ser um filme apenas de passamento e que não terá músicas do naipe de “Let it Go” para atormentar a vida dos país. Ah! Prepare-se: dificilmente vai agradar aos adultos.

FICHA TÉCNICA:

Título original: Snezhnaya Koroleva 2: Snezhnyy Korol (Rússia) e The Snow Queen 2 (Estados Unidos)

Gênero: Animação

Direção: Aleksey Tsitsilin

Roteiro: Aleksey Tsitsilin, Aleksey Zamyslov, Roman Nepomnyashchiy, Vladimir Nikolaev

Elenco: Aleksandr Gudkov, Aleksandr Uman, Aleksey Likhnitskiy, Anna Khilkevich, Anna Shurochkina, Dee Bradley Baker, Igor Bortnik, Ivan Okhlobystin, Roman Yunusov

Produção: Diana Yurinova, Timur Bekmambetov, Vladimir Nikolaev, Yuriy Moskvin

Fotografia: Alex Angelis

Montador: Ned Lott

Trilha Sonora: Mark Willott

Duração: 78 min.

Ano: 2014

País: Rússia

Cor: Colorido

Estreia: 12/11/2015 (Brasil)

Distribuidora: Califórnia Filmes

Estúdio: Wizart Animation

Classificação: Livre

Wilson Spiler

Will, para os íntimos, é jornalista, fotógrafo (ou ao menos pensa que é) e brinca na seara do marketing. Diz que toca guitarra, mas sabe mesmo é levar um Legião Urbana no violão. Gosta de filmes “cult”, mas não dispensa um bom blockbuster de super-heróis. Finge que não é nerd.. só finge… Resumindo: um charlatão.
NAN