Crítica de Filme | Yorimatã

Larissa Bello

Yorimatã é música, poesia e a expressão maior do amor livre!!!

O nome Yorimatã é uma mistura de iorubá com tupi-guarani e é uma referência ao nome de uma de das músicas das compositoras e cantoras Luli e Lucina: “Yorimatã Okê Aruê”, que quer dizer “salve a criança da mata”. Essas duas figuras emblemáticas são fortes representantes do estilo hippie no Brasil, nos anos 70.

Leia a entrevista com o diretor Rafael Saar

O cineasta Rafael Saar já dirigiu diversos curtas-metragens e já trabalhou com o diretor Joel Pizzini no documentário sobre Ney Matogrosso, “Olho Nú” (2014). Foi durante a pesquisa de trabalho no filme do Joel, que Rafael conheceu Luli e Lucina. As duas têm um peso enorme, não só na história da música brasileira, como na revolução comportamental que provocaram na época, e que ainda soa provocante até hoje. Rafael decide então fazer o seu primeiro longa-metragem sobre essas duas mulheres, que possuem um importantíssimo papel na história da música brasileira.

O documentário tem circulado por diversos festivais, inclusive os de temática LGBT, como o 9º For Rainbow, em Fortaleza e o 23º Festival Mix, em São Paulo. Isso porque a história de Luli e Lucina é a constatação concreta da prática e vivência do amor livre. Luli já era casada com o fotógrafo Luiz Fernando da Fonseca quando ambos conheceram Lucina. A identificação musical das duas foi tão grande que acabou se estendendo também para a vida do casal, que transformou a relação em um relacionamento à três.

 Luli_Lucina_LuizFernando

O filme começa com uma longa cena das duas tocando violão e cantando. Somente depois é que o roteiro vai se desenrolando e vamos sendo apresentados a história musical e pessoal dessas duas mulheres. Para o espectador mais jovem e/ou leigo em MPB é realmente surpreendente conhecer a vastidão de composições que elas elaboraram para cantores como Gilberto Gil, Ney Matogrosso, Joyce, Tetê Espíndola, entre outros. Sendo que esses cantores citados, inclusive, aparecem no filme, que mescla imagens de depoimentos das duas hoje em dia, com imagens de arquivo filmadas em Super 8 pelo marido de ambas.

Luli e Lucina revolucionaram também musicalmente, pois foram uma das primeiras cantoras a lançarem um disco independente no Brasil. Isso porque elas sempre se recusaram a entrar nos moldes de exigência das gravadoras. Uma outra característica musical das duas é a habilidade nos tambores, tanto que passaram a produzir elas próprias este instrumento. As performances das duas no palco é algo hipnotizante de se ver. E foram também pioneiras ao comporem canções com adjetivos femininos, como ressalta Joyce em uma parte do filme.

Assistir Yorimatã se faz de extrema importância para todos aqueles que se interessam por música, feminismo e liberdade. E o mais curioso é perceber, que mesmo tendo se passado algumas décadas, o quanto ainda estamos caminhando a passos lentos em temáticas como essas que estão presentes no filme.

Ficha Técnica

Direção e Roteiro: Rafael Saar

Elenco: Luli, Lucina, Ney Matogrosso, Gilberto Gil, Joyce, Tetê Espíndola

Produção: Imagem-Tempo, Dilúvio Produções e Tela Brasilis

Fotografia: Lucas Barbi e Luiz Fernando da Fonseca

Duração: 116 min

Ano: 2014

Larissa Bello

Graduada em Rádio & TV. Pós-graduada em Leitura e Produção Textual. Capixaba, residiu por 8 anos no Rio de Janeiro, onde atuou em diversas áreas do audiovisual. Atualmente reside em Fortaleza/CE, onde é afiliada da ACECCINE (Associação Cearense de Críticos de Cinema) e é autora do blog Cine em Foco (https://cineemfoco.blogspot.com/).
NAN