Crítica de Filme | The Beatles
Alê Zephyr
Para falar sobre o filme, é preciso antes esclarecer o projeto.
Tudo começa com o talentoso escritor e poeta norueguês Lars Saabye Christensen, que lançou em 1984 uma de suas obras mais famosas, o romance intitulado Beatles, que conta a história de quatro adolescentes entrando em sua fase adulta, que literalmente adoram The Beatles, a ponto de eles assumirem características de cada um dos membros da banda, inclusive utilizando seus nomes (Paul, George, Ringo e John) como pseudônimo.
É uma obra que segue à partir de flashbacks do personagm principal, Kim Karlsen (Paul), e aborda temas como romance, amizade, adoração a um ídolo, desilusão e perspectiva política geral da época (anos 60/70).
A dupla igualmente norueguesa, Espen Sandberg e Joachim Rønning (diretores de Kon Tiki, obra que trouxe pela primeira vez à Noruega, a indicação de Melhor Filme Estrangeiro em 2013, tanto no Globo de Ouro quanto no Oscar, e diretores confirmados do 5º filme da franquia Piratas do Caribe: Mortos Não Contam Histórias, com estréia prevista somente para julho de 2017), se baseou nesse romance de Christensen para desenvolver o roteiro, que diga-se de passagem, foi mais fiel ao livro do que eu esperava.
Boa notícia é que a trilha sonora teve os direitos liberados pela EMI e pela Sony/ATV Music Publishing, o que garantiu as músicas originais dos Beatles aparecendo pelo filme à vontade, e esse é o primeiro ponto que quero abordar.
Do começo ao fim, não apenas diversas canções famosas, mas também alguns trechos de “lados B” dignos de atenção dos Beatles, pontilharam o filme, criando não só uma boa trilha mas uma bem diversificada nova coletânea da banda, não que seja realmente nessária, mas é mais uma boa opção.
Sobre a fotografia, está excelente, com tomadas que realmente te transportam para a época em que se passa a história (1965 à 1972), usando uma iluminação muito natural tanto nas cenas de dia quanto à noite, e tendo um movimento de câmera daqueles que traz a sensação de se estar participando da interação entre os personagens, como se o espectador fizesse parte da roda de amigos.
O andamento, o ritmo do filme, gira em torno de aventuras suaves, aquelas sensações que temos quando estamos descobrindo coisas novas, inclusive em nós mesmos, enquanto se persegue um sonho, intercalado com momentos de romance, drama e desilusão, até chegar nas partes mais sérias de ativismo político, mas tudo isso sempre de forma natural e sem exageros, muito próximo da vida real. Se isso é bom ou ruim, é uma questão de opinião.
O fato é que o filme em si não é sobre os Beatles. O que temos aqui é uma obra que os tem como a faísca que acende a história e se mantém rodeando os personagens, como um tipo de força invisível, afetando seus comportamentos e escolhas e evidenciando de um ponto de vista único, a poderosa influência que a banda teve nas vidas das pessoas daquela geração e automaticamente, na cultura artística, social e até na política. Repito que a obra não é sobre os Beatles.
Na verdade, ela é sobre o que eles realmente representaram e são até hoje na vida de muitas pessoas.
FICHA TÉCNICA