Crítica de Filme | É o Amor
Bianca Moreira
“É o Amor”, o mais recente filme de Paul Vecchiali, desafia, como em todos seus outros filmes, a convenção e os estilos tradicionais de narrativa. A provocação lançada por este diretor, em sua totalidade, tem um vislumbre das incríveis complexidades de seu mundo curioso e impulsivo, nascidos de uma liberdade criativa total.
Com um enredo que traz uma perspectiva diferente da concepção romântica de amor do século XIX, ainda muito presente no mundo atual, Vecchiali estimula a reflexão sobre o tema de maneira ácida e bem humorada.
Nos primeiros minutos, assistimos ao próprio diretor em cena na tentativa de decifrar e achar um sentido para o amor. Sua fala parasse nos transplantar à ideia de um fenômeno natural e incontrolável, desestabilizador e fugaz.
A trama é introduzida por uma discussão entre Odile (Astrid Adverbe) e seu marido Jean (Pascal Cervo) na qual é questionado sobre sua suposta longa carga horária de trabalho e acusado frequentemente de cometer adultério. Obcecada por essa ideia e cansada da vida solitária e monótona que leva, Odile decide aventurar-se na busca de novos parceiros. Até que encontra um ator gay, Daniel, por quem se atrai e possui uma única relação sexual em uma festa em plena luz do dia na praia. Surpreendentemente, Daniel sede à sedução de Odile e se apaixona tão intensamente por seu sexo que decide disputá-la com Jean.
Diferentemente dos longas guiados por uma história de paixão avassaladora, “É o amor” não conta com um “happy ending”. Vecchiali nos passa a mensagem de que não devemos olhar para o nosso coração, porque a paixão é uma infecção temporária. Expõe o perigo que existe nas ações precipitadas sem qualquer tipo de racionalização e que o amor, ao contrário da visão idealizada, não pode ser eterno posto que é chama.
O filme conta com cenas musicais sensualmente libertadoras e cores fortemente simbólicas e intensas. A Odile desiludida dos primeiros minutos aparece com um vestido azul claro, sereno, marcando a imagem de boa esposa e posteriormente com um vermelho feito chama, revelando uma mulher mais forte e ousada.A filmagem individual de cada ator durante um mesmo diálogo, através do ponto de vista de seus dois participantes, expondo-os um após o outro é um recurso utilizado por Vecchiali para extrair a subjetividade de cada personagem perante uma mesma situação através da linguagem corporal. É, sobretudo, uma tentativa de mimetizar o que ocorre de fato nas relações afetivas, apesar desse recurso ser redundante dentro da estrutural textual e de quebrar o fluxo temporal da narrativa.
A liberdade sexual e a poligamia são alguns dos temas que permeiam o enredo do filme, além de cutucar uma série de convenções sociais. Vecchiali deixa o espectador com algum trabalho de casa para fazer, isso pode torná-lo tão desconcertante como é moderno e, sem dúvida, corajosamente transgressivo.
FICHA TÉCNICA