Crítica de Série | Mr. Robot

Adolfo Molina

O formato de séries está passando por diversos processos de recriação, reformulação. Claro que, como também corresponde ao universo do cinema, não há muito o que se inventar agora. No entanto, diversos artifícios, arquétipos (que nem sempre é usado de maneira incorreta) e aspectos técnicos podem ser feitos, baseados no que já é de conhecimento.

Evidente que o for surgir de novo, será automaticamente relacionado a suas referências, sendo elas explícitas e implícitas. Neste caso, a série evidencia claramente suas referências e não possuí nenhum medo de referencia-las, pois sabe que sua conduta narrativa está conduzindo a trama, junto com seu público/espectador, a algum lugar interessante e que caiba dentro da linha de narração.

O seriado Mr. Robot foi escrito por Sam Esmail e teve seu primeiro episódio transmitido em 24 de junho deste ano, ou seja, um produto consideravelmente novo, pelo canal americano USA. Aliás, interessante citar que este canal resolveu reformular toda sua gama de produções, visando atingir esferas mais criativas e com teor realístico. E conseguiram.

A série conta a história de Elliot Aldernson, um engenheiro de segurança técnica que trabalha na Allsafe, uma empresa de segurança tecnóloga, que possui em sua rede de clientes, o conglomerado E-Corp (Evil Corp, segundo a perspectiva de Elliot), que é responsável por praticamente todas os âmbitos da sociedade, como tecnologia, bem-estar, saúde, lazer, alimentos e etc. Elliot sofre de sociofobia, tem extrema dificuldades de se relacionar. Sua introspecção é detalhada ao longo da série, que explica o motivo de sua conduta ser desta maneira. Com isto, Elliot hackeia todas as pessoas a sua volta, buscando suas formas de vida, suas atitudes na internet, seus padrões e seus erros (bugs) e como elas se co-relacionam.

A Evil Corp está sofrendo ameaças de roubo de dados por um grupo de hackers denominado “fsociety“, o que é um aparato para “fuck society” e claro, uma referência ao grupo Anonnymous. Ao longo dos dez episódios, o espectador percebe a relação de Elliot com a fsociety e com todos os integrantes do grupo, principalmente o próprio Mr. Robot (Christian Slater).

O objetivo aqui não é contar sobre a trama da série, nem fazer os perfis de apresentação dos personagens e muito menos, especular sobre o futuro da produção. No entanto, viso exclusivamente permear os fatores que cercaram esta série nos últimos cinco/seis meses. Porquê repentinamente se tornou tão comentada e falada? As referências à Fight Club (desculpa, Tyler), Matrix, Black Mirror e outros, positivam a série ou somente a superestima, fazendo com que seja apenas um genérico que misturou tudo?

A ansiedade e a aflição no jogo de câmeras

Logo de imediato, você nota um posicionamento dos enquadramentos bem incomum. Desvirtua do que qualquer pessoa acostumada com cinema e seriados está acostumado a ver. Geralmente, os personagens são registrados no meio do quadro, para que a leitura e olhar do expectador se atente quase que instantaneamente ao que está em foco.

Já aqui, se percebe que quando há uma conversa com intensidade, ou até mesmo, que se cria um ponto de clima tenso, a câmera coloca os personagens ao canto. Ela vislumbra o posicionamento do quadrante todo, para que você possa ter uma noção do posicionamento geral, para depois incluir nos quadros fechados.

Créditos: Gaston Gazette

Créditos: Gaston Gazette

Na imagem acima, por exemplo, vemos a localização dos personagens no ambiente. Elliot está localizado totalmente à esquerda do quadro, e na parte inferior, deslocando a observação imediata, descaracterizando o ponto de fuga. Em outra imagem (abaixo), figura também os pontos de simetria. O poste do vagão do trem “corta” a cena em duas, colocando os personagens em cada ponto, em que ao mesmo tempo os distancia, os aproxima em meio à grande ambientação, como duas pessoas solitárias.

Créditos na imagem

O vídeo abaixado, feito Semih Okmn e publicado em seu canal no Youtube detalha bem a composição da série. Os ângulos, os pontos de ouro, a persuasão e locomoção que a câmera transmite ao narrar os personagens.

Os contextos e a relação com a atualidade

Claro que ao ver o símbolo do grupo “fsociety” , você irá automaticamente associar ao Anonnymous. A referência é proposital e neste caso, positiva.

A produção pauta diversos fatos e culturas atuais. Desde música, literatura, cinema e até mesmo ícones. Nos primeiros episódios, demonstra muita ousadia ao bater de frente com o endeusamento de Steve Jobs e ao se manter atualizada, ao citar o vazamento do site de acompanhantes Ashley Madison, caso que repercutiu e quase acendeu um caos nos E.U.A.

As críticas ao modo comportamental das pessoas nas redes sociais dialoga de uma maneira quase que esclarecedora, como se fosse um estudo ou desabafo. Há desequilíbrios nas motivações do protagonista, que permeia mais a emoção do que propriamente, lógica estabelecida. Discursos inflamados e histeria coletiva são elementos de roteiro que batem ponto em diversos momentos.

Mr. Robot não é uma série, tanto por ser nova quanto por seus mistérios e subtramas bem alinhadas, não permite muitas especulações, exceto pelo paradeiro de um personagem e sobre como se dará o mundo após os feitos realizados no último episódio.

Em um ano escasso de novidade e com séries existentes não repercutindo tanto, Mr. Robot é uma novidade no mínimo, interessante, que vai se manter alinhada com as eventualidades do mundo. Além de não estereotipar ou caricaturar o hacker.

Confira o trailer da 1ª temporada

https://www.youtube.com/watch?v=Ug4fRXGyIak

Adolfo Molina

Jornalista hiperativo, estranho e que ama falar e escrever. Sou o que sempre busco ser. Comunicar e mudar as pessoas. Levar o bem através de tudo que amo!
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