Crítica | ‘Dois Rémi, Dois’ interpola ritmos e desconfigura narrativa

Adolfo Molina

Não é novidade observar a construção de personagens idênticos em filmes, sem que eles tenham graus parentescos. Todavia, o intuito de filmes com essa semântica costumam criar um universo sensorial para os personagens, principalmente, os retratados em dobro.

Em Dois Rémi, Dois o descompasso narrativo malintencionado enaltece estereótipos. Os dois primeiros atos do filme consistem em apresentar a perspectiva do personagem principal antes de seu doppelganger (termo em alemão que remete a uma lenda urbana sobre uma criatura que assume a forma de um clone perfeito de uma pessoa); ele é inquieto, introspectivo e parece estar sempre se sentindo ameaçado por convenções naturais e relações interpessoais. Sua vida é fechada e pragmática. Tudo muda quando seu clone surge na trama, mostrando ser um oposto característico: mais independente, charmoso e inconsequente.

Dois Rémi, Dois tem uma duração curta no que se diz respeito a longas-metragens, então já se permite analisar uma falta de tempo maior para focar em subtramas que poderiam acrescer pontos positivos ao enredo. O irmão, Phillipe, que seria uma linha divisória entre a trama é mal apresentado e construído, parte importante esta que vai para Delphine, que intercala o ponto romancista do filme.

A conjectura total do filme tenta embarcar numa análise sensitiva sobre auto-conhecimento e tentar identificar as verdades por trás das diferenças. Contudo, a dissonância narrativa entrega ritmos e tons que desconfiguram o corpo do filme. Tanto o humor quanto o clima tentam absorver uma linha ingênua, até mesmo o personagem do Rémi é apresentando desta forma, quase que o transformando em um Mr.Bean francês.

Em momentos é bem complicado classificar o filme. Não que isto seja uma obrigatoriedade, porém, quando se encontra dificuldades de analisar seu gênero, sua percepção fica tão subjetiva que inviabiliza a compreensão, até mesmo seu descompromisso.

TRAILER:

FICHA TÉCNICA:

Direção: Pierre Léon

Roteiro: Renaud Legrand, Pierre Léon

Elenco: Pascal Cervo, Serge Bozon, Luna Picoli-Truffaut, mais

Gênero: Comédia

País: França

Duração: 66 minutos
Estúdio: Kapara pictures, Garidi Films
Produção: François Martin Saint Léon, Igor Wojtowicz
Ano: 2015

Adolfo Molina

Jornalista hiperativo, estranho e que ama falar e escrever. Sou o que sempre busco ser. Comunicar e mudar as pessoas. Levar o bem através de tudo que amo!
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