CRÍTICA | ‘O Tesouro’ desenterra parte da história da Romênia com humor seco e político
Larissa Bello
O diretor romeno Corneliu Porumboiu ganhou visibilidade no circuito dos festivais de cinema ao receber, em 2006, com “A Leste de Bucareste”, o prêmio Câmera de Ouro, que premia o melhor primeiro filme de todas as seções do Festival de Cannes (Seleção Oficial, Semana da Crítica e Quinzena dos Diretores); e o prêmio FIPRESCI (Prêmio do Júri) do mesmo festival, em 2009, por “Polícia, Adjetivo”.
Em sua mais recente produção, “O Tesouro” (Comoara, 2015), a ideia inicial era fazer um documentário baseado na história do seu amigo ator, Adrian Purcarescu, que está no filme no papel do vizinho endividado. Adrian lhe contou a respeito de uma lenda que foi propagada pelos habitantes da vila em que seu bisavô morou. Se dizia que os moradores, por medo da chegada dos comunistas, em 1947, enterraram suas fortunas em algumas áreas da região. O diretor, intrigado com a história, levou uma equipe de filmagem e um especialista em detectores de metais para sondar o terreno da vila, porém nada encontrou. Sendo assim, aproveitou o mote da história e elaborou um roteiro para um filme de ficção.
Com uma fotografia sóbria, a narrativa tem um tom natural e verossímil em relação a história que se desenvolve, tornando algumas cenas com um humor seco, sendo essa, aliás, uma característica marcante do diretor. Como, por exemplo, o diálogo entre o personagem principal, Costi (Toma Cuzin), e o seu chefe (Florin Kevorkian). No ímpeto de falar a verdade para o seu chefe, Costi acaba soando esdrúxulo demais ao dizer que está à procura de um tesouro enterrado nas terras do bisavô de um vizinho que mora no seu prédio. Obviamente, o chefe não só desacredita na história como afirma saber do seu caso com uma funcionária sua. Percebendo que a verdade do tesouro não lhe dará nenhuma credibilidade, Costi acaba confirmando a “verdade” sugerida pelo seu chefe.O roteiro de Porumboiu consegue nos apresentar um pouco do passado histórico político e econômico da Romênia, que passou pela ocupação soviética após a II Guerra Mundial e levou à formação de uma República Popular Comunista, no ano de 1947. Após mais de 40 anos vivendo sob o regime comunista, a Romênia passou por uma série de eventos conhecido como a Revolução Romena de 1989, que marcou o fim do comunismo no país. No entanto, permanece até hoje o debate sobre as motivações dessa Revolução. Em 2007 a Romênia passou a integrar a União Europeia, e atualmente sofre com a crise econômica que atinge esse conglomerado.
Além da contextualização histórica do país, Porumboiu ainda faz uma referência a história de um outro personagem. No início do filme vemos Costi lendo o livro sobre “As Aventuras de Robin Hood” para o seu filho. E retoma a referência no final, de maneira lúdica e heroica, transformando a ganância por dinheiro e o lucro a qualquer custo dos dias de hoje, em algo mais puro e espontâneo. A música final ainda fica por conta da banda eslovena Laibach cantando um cover de “Life is Life”, da banda austríaca de pop rock dos anos 80, Opus, cuja letra diz que quando todos doam tudo que têm, então todos irão receber: When everyone gives everything / Then everyone everything will get / Life is life!
FICHA TÉCNICA
Direção e roteiro: Corneliu Porumboiu
Fotografia: Tudor Mircea
Elenco: Toma Cuzin, Adrian Purcarescu, Corneliu Cozmei
Produção: 42 Km Film, Les Films du Worso (co-produção) e Rouge International (co-produção)
Duração: 1h29min
País: Romênia
Ano: 2015