Crítica de Filme: A Brasileira

Alan Daniel Braga

A Brasileira’, filme dirigido por Brian Brightly, é uma co-produção Brasil-EUA que traz uma brasileira, uma cubana e muitos americanos no elenco. O filme conta a história de Clark (Greg Tuculescu), um cabeleireiro que trabalha em um salão de beleza e divide apartamento com duas mulheres, a compreensiva Mônica (Danay Garcia – a personagem parece ter procedência brasileira, mas prefiro imaginar que não, já que ela fala espanhol) e a divertida, inteligente e atraente Lúcia (Fernanda Machado), por quem é secretamente apaixonado. Clark é discreto, sensível, romântico e toca clarinete, o que faz algumas pessoas terem certeza de sua homossexualidade. Entre elas está Buck (Scott Rodgers), namorado de Lúcia, um típico machão conquistador. Decidido a lutar pelo amor da brasileira, Clark decide se inscrever em um acampamento que ensina ‘meninos a se tornarem homens’. O problema é que Buck é o professor do treinamento e, com o passar do tempo, os dois estabelecem uma conexão. Clark precisará então provar, a si e aos outros, o que é ser um verdadeiro homem e decidir se continua ou não na briga pela brasileira.

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A Brasileira é um filme ‘sem definição’… O que pode soar positivo em uma época de rótulos, também pode não ser lá muito bom. Porque o filme não quer romper paradigmas, mas navega por muitos, sem ser exatamente um. Às vezes, o filme é uma comédia clássica americana no maior estilo ‘Porky´s’, com testosterona, festa e escracho. Logo depois, toma um ar de comédia brasileira moderna, como um “De Pernas pro Ar” ou mesmo um “Divã”. Em um momento, o discurso do filme parece estar muito certo de um conceito novo e definido para passar. No momento seguinte, o que vemos é uma sucessão de velhas ideias e piadas. Ao fim, a única impressão que fica é a de um filme com crise de identidade.

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A direção parece querer caminhar para um ou outro lampejo de criatividade, mas logo deixa-se ofuscar pelo feijão com arroz. Fernanda Machado, em relação à maior parte do fraco elenco, se sai bem. O inglês é fluente e quase sem sotaque. No entanto, o papel não ajuda e ficamos nos perguntando se essa seria realmente a melhor maneira da atriz se lançar no mercado internacional.

Quanto aos personagens, o que se tem é velhos clichês estabelecidos para a fórmula dar certo. O homem sensível e despreparado para a caça em conflito direto com o macho alfa. A presa, uma brasileira, a ascensão latina no mercado americano, que cumpre o papel da mocinha linda e decidida, mas não perde o posto de “mulher caliente”. Os exageros são bem aproveitados em alguns momentos para fazer piada dos estereótipos e alguns conflitos ficam até interessantes, mas o roteiro logo desilude e segue para a direção do óbvio e do politicamente correto.

A tensão do triângulo amoroso desenvolve-se bem (óbvio, mas bem) até chegar perto da resolução, quando tudo se resolve de maneira rápida, fácil e banal. No fim, todos continuam em seus estereótipos, com uma pequena e óbvia evolução na confiança de Clark.

Para não dizer que o filme não pode trazer nenhum ponto considerável, a co-produção independente em si tem sua ressalva. OK, o filme não pode ser considerado “genuinamente” brasileiro. OK, ele traz um Merchandising direto e claro, principalmente em relação à marca de açaí, presente em muitas cenas (algumas até simpáticas)… Mas eis aí um passo para um caminho de produção com artistas brasileiros, cultura brasileira e apoio de produtos brasileiros sem a bengala da lei de incentivo. É uma nesguinha de luz (longe do ideal para alguns), mas se juntarmos a outras luzes mais fortes, já dá pra se ter mais esperança no túnel.

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BEM NA FITA: Pouca coisa… Uma ou outra piada, um ou outro texto mais elaborado.
QUEIMOU O FILME: A falta de criatividade (principalmente na resolução), de identidade, de objetividade… E outras “idades”.
FICHA TÉCNICA
Direção: Brian Brightly
Elenco: Greg Tuculescu, Fernanda Machado, Scott Rodgers, Dean Cain, Danay Garcia, Mariel Hemingway e outros.
Roteiro: Brian Brightly, Ryan Farhoudi e Chris Wehner
Produção: Fabio Golombek, Christine Griffith e Uri Singer
Distribuição: H20 Films
Gênero: Comédia EUA / Brasil

Alan Daniel Braga

Publicitário e roteirista de formação, foi de tudo um pouco: redator, produtor, vendedor, clipador, operador de som e imagem, divulgador, editor de vídeos caseiros, figurante e concursado. Crítico, irônico e um tanto piegas, é conhecido vulgarmente como Rabugento e usa essa identidade para manter um blog pouco frequentado (Teorias Rabugentas). Também mantém uma página no Facebook (Miscelânea Rabugenta), com a qual supre a necessidade de conhecer músicas, artistas e pessoas novas. Está longe de ser Truffaut, mas gosta de dar voz aos incompreendidos. (Acesse http://teoriasrabugentas.blogspot.com.br/ e curta https://www.facebook.com/MiscelaneaRabugenta)
NAN