Coletiva | Flores Raras
Alan Daniel Braga
Nesta quarta-feira, dia 06 de agosto, a atriz australiana Miranda Otto, a produtora Lucy Barreto e o diretor Bruno Barreto receberam a imprensa carioca para uma coletiva do filme “Flores Raras”, uma produção da LC Barreto e da Globo Filmes. O filme, estrelado por Glória Pires e Miranda Otto, é baseado na real história de amor entre a poetisa norte-americana Elisabeth Bishop e a “arquiteta” carioca Lota de Macedo Soares, vivida no Rio de Janeiro das décadas de 50 e 60.
A primeira a falar foi a produtora Lucy Barreto, idealizadora do projeto, que narrou como nasceu a ideia do filme. No Natal de 1995, Carmem Lúcia Oliveira, autora de ‘Flores raras e banalíssimas‘ – livro que narra a relação entre Elizabeth e Lota, além de detalhar a criação do Parque do Flamengo -, deu à produtora um exemplar da obra. Lucy havia conhecido as protagonistas nos idos de 1959, em um evento, e ficara impressionada com o nível de cumplicidade entre as duas. Ali, nasceu o interesse pelos poemas de Bishop. Como a produtora acompanhou a construção do Parque do Flamengo da janela de sua casa, a leitura do livro a instigou a fazer dele um longa-metragem. Logo ela ligou para Glória Pires e fez o convite para o filme, mas o trajeto para este, no entanto, foi bem mais longo. Ela sugeriu a ideia ao filho Bruno que, de início, não aceitou por não conseguir enxergar ali uma história. Hector Babenco também foi sondado, mas também recusou pelo mesmo motivo. O desafio de estruturar o roteiro foi dado à Carolina Kotscho. Os anos se passaram e, somente em 2004, Bruno topou entrar no projeto.
A respeito da demora em conseguir investimentos para o filme, Lucy foi questionada sobre a ajuda que o tempo trouxe para a abordagem das questões mais polêmicas do filme. “As coisas acontecem na hora certa.” – concordou a produtora, afirmando que o filme está sendo lançado em um momento único, em que união homoafetiva e adoção de crianças por casais gays estão fortemente em pauta.
A entrevista seguiu e foi a vez da atriz Miranda Otto ganhar mais destaque. A australiana falou das comidas brasileiras preferidas (feijoada, farofa, goiabada, queijo branco), das dificuldades que teve para compreender o andamento e as mudanças no set de filmagem por causa da diferença de língua, mas afirmou que a oportunidade de filmar no Brasil sempre foi encarada como “boa demais pra ser verdade”. A atriz ainda falou da dicção em Português e, mais tarde, da preparação para fazer Elizabeth Bishop, cuja obra não conhecia antes do filme, e do desafio de fazer uma pessoa real na tela.
Bruno Barreto elogiou a atriz no momento em que foi questionado sobre a maior dificuldade que teve com o filme. O desafio maior, segundo ele, sempre foi em fazer o espectador ser conquistado pela antipatia de Bishop. Para Bruno, Miranda encontrou o tom certo, sem perder o brilho da personagem.
A adoção da filha de Lota e Mary, norte-americana com quem a arquiteta mantém uma relação antes de conhecer Elizabeth, foi um capítulo à parte durante a entrevista. A partir de uma prática mais (mas não apenas) comum na época, em que crianças de famílias pobres eram vendidas por dinheiro, Bruno explicou que não há indícios reais de que qualquer filho das duas (na realidade, elas tiveram quatro) tenha sido adotado por estes meios, mas como o compromisso maior do filme – por ser uma ficção – é com a narrativa e não com a verdade, eles decidiram pela ação que mais serviria à história. Lucy complementou, reafirmando que na época aquela prática era realmente comum e garantindo que a filha do casal estava de acordo com a forma que a adoção seria mostrada.
Outra questão levantada foi a respeito da intimidade entre as personagens. Miranda Otto foi direta em responder que não teve problemas com as cenas de beijo e afirmou que não entende por que uma relação baseada em amor continua a ser vista como um problema. Para ela, as cenas sempre foram interpretadas pelo viés dos dois seres humanos se apaixonando e não apenas como uma questão sexual. O interessante ali é ver duas mulheres, naquela época, vivendo a vida que queriam viver.
Glória Pires, embora ausente, foi citada e elogiada durante a coletiva. Miranda afirmou que contracenar com a atriz é muito ‘fácil’. Antes de se conhecerem, ela vira alguns trabalhos anteriores da atriz brasileira e ali já enxergara uma atriz forte e “magnífica”. E logo pensara: “ – Eu posso me apaixonar por ela”. Outro elogio levantado – a qual todos na mesa foram unânimes – foi quanto à atuação em Inglês, língua falada em 95% do filme. A preparadora de Miranda, Bárbara, afirmou que poucos atores conseguem atuar com naturalidade fora da língua natal sem que haja um atraso entre o pensamento e a fala. Glória Pires é um caso entre os poucos.
A corrida para uma indicação ao Oscar não ficou de fora do debate e a Língua Inglesa foi mais uma vez o mote. Bruno explicou que o filme não poderia concorrer em nome do Brasil justamente porque o país envia filmes para o prêmio de “Filme em língua estrangeira”. No entanto, ‘Flores Raras’ será lançado nos EUA em novembro e já há a intenção de uma campanha pelas atrizes do filme, que são o maior destaque.
Quase no fim, Bruno, Miranda e Lucy falaram ainda de como a atriz australiana entrou para o projeto. Bruno a viu em alguns filmes e já gostava do trabalho dela. No entanto, o que mais contou pontos foi a diferença visual entre Miranda e Glória. Lucy explicou que queria a representação de duas culturas diferentes não apenas na postura, mas no tipo físico. E o lado “translúcido” de Miranda era o perfeito contraponto para a brasilidade de Glória.
Antes de terminar, Lucy ainda pediu licença para falar dos projetos que têm na manga para o futuro. Um deles, ‘Madame Lynch’, vem sendo pensado desde 1973. ” – A 40 anos!” – Lucy brinca, garantindo que não se pode perder a ‘capacidade de sonhar’ e de buscar os sonhos.
‘Flores Raras’ estreia no Brasil no dia 16 de agosto.
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