CRÍTICA #2 | ‘Esquadrão Suicida’: Vilã expande universo cinematográfico da DC, mas filme tem falhas
Stenlånd Leandro
Nos últimos anos, vários lançamentos de filmes de ação têm colocado seus recursos ao máximo para tentar mostrar como o gênero ainda consegue respirar. Suas campanhas de marketing têm sido extremamente cansativas e esse tipo de longa têm obtido diferentes graus de sucesso. Muitas vezes ovacionados, outras vaiados. Foi assim com ‘Mercenários’. Tamanho sistema de monetização opressiva normalmente oferece pouco retorno sobre o investimento e há aquela incerteza no fundo da alma que desta vez também não tenha funcionado tão bem assim.
Esquadrão Suicida chega ao Brasil nesta quinta-feira (04 de agosto) em meio ao tumulto que nossas Olimpíadas causarão ao país. Estamos felizes de informar que é uma forte entrada entre os filmes de ação e chega em um momento propício para mostrar também como o governo é manipulador. Diferentemente da maioria das produções desse tipo, que para muitos parecerá mais um longa de tiro, porrada e bomba, Esquadrão Suicida é enfim, aquilo que poderiam ter se esquivado: um filme com uma baixa importância no universo cinematográfico da DC.
Seria bem injusto chamar “Batman Vs Superman: A Origem da Justiça” de opaco, dados seus respeitáveis resultados na bilheteria. Todos sabemos que foi um filme bom, no entanto, é claro que para além dos fãs leais da DC Comics, ele recebeu críticas mistas e algumas muito duras. “Batman Vs Superman” e Esquadrão Suicida foram filmados paralelamente, então não havia como Ayer tentar contornar os erros que Snyder criou em BvS. É dessa dureza diante das críticas negativas, que, infelizmente, nasce o elo que poderia não ser a tábula rasa que este longa se tornou. Dito isto, David Ayer acertou em termos no tom cômico ‘Padrão Marvel de Cinema‘ que todos queriam ver nos filmes da DC. Esse padrão surge de outros personagens que não têm tanta característica cômica assim, como é o caso do papel de Will Smith vivendo o Pistoleiro. É esse tom mais de ‘alivio’ que contorna os erros da DC que haviam nos filmes anteriores.
A narrativa do longa tem uma história um bocado complexa para um público que possivelmente não entenderá de onde o grupo realmente surgiu. O espectador acaba ficando com certo receio de continuar na história de cada membro. Não é uma surpresa a presença de muitos personagens, mas ao contrário de filmes como “Os Vingadores” e “Capitão América: Guerra Civil”, que têm protagonistas distintos com histórias empolgantes, Esquadrão Suicida muitas vezes perde toda a força quando tenta dramatizar demais seus integrantes. Uma prova disso é que há atores que não deveriam sequer aparecer na trama pelo seu fraco desempenho e um papel totalmente descartável.
Não há como negar que, apesar de todos terem seus destaques de um ângulo muito mal aproveitado, o Coringa de Jared Leto que todos queriam tanto ver, de certa forma, faz jus ao papel do vilão, mas por um outro lado tem seus erros que não o enaltecem tanto assim. Muitos podem estar questionando sobre este Coringa ser ou não melhor que o de Heath Ledger, mas nem que houvesse o mínimo de vontade poderíamos fazer tamanha comparação. Heath Ledger foi um gênio e a certeza disso é que que os críticos vão encontrar maneiras de odiá-lo (Leto), pois como um todo, é basicamente um vilão corajoso, mas dentro de uma estética com personagens de quadrinho que, honestamente, não funciona com os vilões em cena.
O grande acontecimento (do lado negativo) num contexto geral é que a película literalmente trava onde mais necessitava caminhar. Dar continuidade ao universo cinematográfico da DC Comics não está sendo uma tarefa fácil. O Batman que foi inserido nesta trama hedionda já vem agindo diferente de como mostrou em “Batman Vs Superman” e poderiam se esquivar de algo tão piegas: mostrar que o Homem-Morcego e o Coringa são inimigos há tempos e, por conta disso, tiveram que introduzir os personagens que nada se aplicam à trama imposta por Ayer. É uma aparição apenas para introduzir aquele vilão que todos, bem ou mal, conhecem sua origem de tantos filmes do Batman. Um exemplo disso é o famigerado personagem de Margot Robbie (Arlequina), que tem seu belo destaque na trama, é maravilhosa, e que dá ao vilão mal concebido (Coringa) um sorriso furtivo e ar impertinente, mas o desempenho de ambos é por demais caricato e não passa nada de vilanesco. Você não sente medo do Coringa como dava calafrios pelas coisas que eram feitas por Ledger, por exemplo. Apesar dos personagens terem armas e habilidades únicas, ideais para diferentes tipos de ataques, é quando elas são necessárias que o filme mais se afoga neste ‘suicídio’. A conexão criada pelos atores em suas atuações fazem desta película algo criminalmente descartável e faz o espectador ver o longa como um mero filme de ação, assim como “Mercenários”, com um simples início, meio e fim, que hoje nem vinga mais nas telonas. Você deve estar se perguntando sobre a aparição de Katana, Amarra, El Diablo e Crocodilo, certo? Pois bem, nem há muito o que falar deles e em muitos pontos são eles o defeito maior do filme. São personagens que assim como Batman e Flash, sequer deveriam ter aparecido no filme, dado o baixo uso deles na trama. Não convencem como intérpretes de seus respectivos papéis, são por demais caricatos e sem aquele ‘tchan’. Um desperdício total de vilões que, bem ou mal, não possuem apelo algum.
Esquadrão Suicida dificilmente agradará de início por se tratar de um longa ‘diretamente’ de ação. A diretriz que impõe a narrativa pós-BvS, onde o mundo está em estado de alerta, criou uma lógica que até mesmo Spock ficaria confuso. Amanda Waller vivida por Viola Davis talvez seja uma das coisas que realmente tenha sido ao menos, bem aproveitada, apesar de o governo não fazer absolutamente nada para impedir as tramoias da executiva, que cisma que quer montar um força tarefa com intuito de parar nossos heróis amados. Ela realmente consegue colocar Rick Flag encarregado de juntar toda à equipe cheia de ego e vilões que só querem ferrar com os demais. Mas sobre Flag, falaremos mais à frente.
Mas calma, nem só de coisas ruins vive o filme. Esquadrão Suicida é muito bem feito visualmente. Os efeitos especiais da vilã Magia (ou Encantadora se preferir) foram bem produzidos, assim como dos demais vilões.
É cômico ter um vilão contra vilões que tentam ser os mocinhos da parada. De certa forma, a adição da Magia no longa, inicia o lado místico da DC muito antes do que a Marvel propôs a fazer com Doutor Estranho. É aí onde o primeiro ponto positivo aparece. A vilã do filme é bem forte, dá trabalho pra burro e a equipe quase se desespera para poder derrotá-la. Magia é uma poderosa feiticeira. Ela parece possuir a habilidade de manipular energia mágica para qualquer número de efeitos, desde cura até teletransporte, e pode afetar diretamente quaisquer objetos não-vivos com sua magia. Até onde é possível lembrar nos quadrinhos, ela esteve próxima de ser recrutada para o recém-formado “Força Tarefa X”, que em breve seria conhecido como o “Esquadrão Suicida“, sob a oferta que eles poderiam manter seu lado vilão em cheque. Isso até é tentado aqui de uma forma mais informal, aliás, mais opressora! Por se tratar de um universo em expansão, apesar dos erros contidos, é a adição dela neste filme que gera um imenso ‘Flashpoint’ para os próximos filmes da DC. Como muitos devem saber, está por vir o filme da Liga da Justiça Sombria (ou não) e é aí onde a Magia – junto de Madame Xanadu – deve aparecer. É válido mencionar um outro fator que poucos podem conhecer, mas a adição da vilã, que logo depois viria a ser uma heroína (e muitas vezes anti-heroína), pode inclusive criar um outro chamariz para o filme do Capitão Marvel (Shazam), pois ambos têm uma história interessante no passado. A simples adição de Magia ao filme expande o universo sem precedentes e, por isso, é a melhor parte do filme até então.
Talvez outra forma boa da expansão, mas com um nome pouco conhecido dos não iniciados nos quadrinhos – ainda que reconhecido por quem via Smallville e Liga da Justiça sem Limites -, seja Rick Flag (Joel Kinnaman), que de certa forma é uma das peças chave do grupo. A infelicidade talvez seja a escolha do ator que é fraco e não tem presença alguma. Apesar de Flag ser um experiente soldado, que liderou o Esquadrão Suicida original, em uma coisa mais de equipe de guerra, o grupo aqui é baseado na famosa Crise nas Infinitas Terras, onde eles foram revividos como Força-Tarefa X por Amanda Waller e tinha Flag como líder. A partir daí, outro ponto positivo, pois ele ganha os contornos atuais, com vilões integrando o time.
Outro personagem legal e até mesmo bem aproveitado, foi Capitão Bumerangue (Tom Hardy), apesar de não concordar muito em ele viver o papel de um outro vilão em praticamente um universo que é possível de coexistir. O último filme de Nolan, na trilogia do Batman, o ator viveu o papel de BANE, que derrotou o morcegão, mas aqui, vem ele e vive um outro personagem. Tudo bem que existe o que chamamos de multiverso na DC, mas ainda sim, era melhor que outro ator vivesse o papel.
Para fechar, a cena pós-crédito de Esquadrão Suicida é indispensável e, com isso, acrescenta mais alguns pontinhos a um longa que é um bocado cansativo pela narrativa confusa. O resultado é algo mediano com pontos fracos e falhas como a maioria, mas que tem seu lado positivo.
FICHA TÉCNICA: