CRÍTICA | Novo filme de Fede Alvarez, ‘O Homem nas Trevas’ é repleto de estilo e tensão, mas peca na conclusão
Thiago de Mello
O Homem nas Trevas é mais um exemplo de traduções desnecessárias. O título é Don’t Breathe (Não Respire). Esse deveria ser o título aqui no Brasil pois é exatamente isso que o diretor uruguaio Fede Alvarez mira e atinge com seu novo filme. Não são apenas os personagens que prendem a respiração a fim de fazer o maior silêncio possível. De repente, o espectador também nota que está segurando o ar.
Rocky (Jane Levy), Alex (Dylan Minnette) e Money (Daniel Zovatto) cometem alguns pequenos assaltos para ficar fora do foco da polícia, mas o valor que conseguem está abaixo do que cada um precisa ou deseja. Até que Money recebe a informação sobre um velho cego e veterano de guerra, morador de um bairro quase abandonado, guarda um grande quantia de dinheiro em sua casa. Assim, o trio resolve aplicar o primeiro e último grande golpe. Mas o homem cego não é tão indefeso quanto imaginaram.
Há três anos, Alvarez conseguiu a atenção da crítica e público com o reboot/remake/continuação (sim, é isso tudo num só filme) de “A Morte do Demônio”. O filme, diferentemente da trilogia base de Sam Raimi, eliminou o humor-negro e focou num estilizado horror gráfico. O Homem nas Trevas não possui a violência explícita, mas apresenta todo o visual e estilo do diretor.
O filme não tarda para ir direto ao ponto e o faz com precisão. Após um breve momento de exposição dos personagens, o trio começa o assalto. A partir desse momento, Alvarez utiliza eficientes métodos para colocar o espectador dentro da casa, ao lado dos assaltante e do Homem Cego. Diferentes recursos de câmera exploram o ambiente, detalhando cômodos e objetos, oferecem informações ao público do que pode acontecer. Assim, não é difícil você se colocar dentro da casa, buscando formas de se esconder e fugir.
A tensão ganha maior proporção com a pontual trilha sonora de Roque Baños (“O Operário”, “A Morte do Demônio”). A composição evocativa e pungente de Baños trabalha em sintonia com as cenas, enfatizando a aflição e o medo exposto nas telas. Além disso, a melodia sombria está presente em grande partes da cena. Assim, a pausa na música também soma à tensão visual.
Em menor evidência do que o estilo, recurso e trilha sonora, estão os atores. O trio de assaltantes é funcional, sem grandes momentos de destaque. Apenas Rocky recebe atenção com sua motivação por trás dos crimes. Assim, é fácil antever o que acontecerá com cada um. O filme até consegue criar um laço com ela, mas não é muito forte. Jane Levy, porém, faz o que pode e entrega uma boa atuação, assim como Minnette e Zovatto, cada um à medida do que conseguem com o material que têm.
Stephen Lang é quem faz o melhor trabalho, principalmente por conta do personagem. O Homem Cego possui um pouco mais de história por trás de seus atos, criando uma motivação mais interessante do que um mero veterano de guerra. Lang entende bem o material que possui e consegue fazer um bom trabalho.
O filme peca com o abuso do uso do cachorro do Homem Cego e, principalmente, com o final. A presença do animal é exagerada, dando peso e influência maior do que o necessário, algumas vezes até beirando o cômico. Grande parte das cenas com o cachorro dão a impressão de uma saída preguiçosa para algumas decisões narrativas.
Já o final é formulaico, além de ignorar pontos determinantes da história. Ou seja, há furos. Ao optar pela saída mais fácil, o longa perde parte do peso. O impacto que a trama causa no espectador fica consideravelmente menos presente.
O Homem das Trevas é denso, repleto de estilo e tensão, mas peca em algumas decisões e na conclusão. Mas ainda assim está bem acima da média dos filmes de suspense. E Fede Alvarez continua mostrando que sabe como prender e assustar o público.
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TRAILER:
FICHA TÉCNICA:
Título original: Don’t breathe
Direção: Fede Alvarez
Roteiro: Fede Alvarez, Rodo Sayagues Mendez
Elenco: Jane Levy, Dylan Minnette, Daniel Zovatto
Distribuição: Sony
País: Estados Unidos
Gênero: terror
Ano de produção: 2016
Duração: 88 minutos
Classificação: 16 anos