CRÍTICA | ‘O Shaolin do Sertão’ dimensiona a extensão territorial e humorística do Brasil
Larissa Bello
A pré-estreia do filme “O Shaolin do Sertão” ocorrida no dia 04 de outubro, em Fortaleza/CE, deixou claro o quanto o Brasil é realmente um país gigantesco, tanto na sua geografia quanto na sua cultura. Muitas vezes esse enorme detalhe é completamente esquecido, principalmente se o nosso olhar estiver focado somente em expressões artísticas (novelas, programas, etc.) exibidas no meio televisivo, sejam nos canais abertos ou a cabo. Isso porque esta mídia retrata “realidades” culturais, em sua grande parte, específicas da região sudeste do país, principalmente das cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. Porém, graças ao cinema, podemos nos deparar com filmes brasileiros que nos fazem lembrar que a imensidão territorial e intelectual do Brasil não está limitada somente nessa região.
A noite foi marcada por uma enorme gama de convidados e ainda contou com a presença dos atores e o diretor do filme, que falaram rapidamente antes da sessão começar.
A produção cearense “O Shaolin do Sertão” (2016), retoma a parceria artística entre o diretor Halder Gomes e o ator Edmilson Filho. Antes, fizeram juntos “Cine Holliúdy” (2012), primeiro filme brasileiro com legendas, e que inclusive, ganhará uma continuação. As legendas foram necessárias, pois quando a produção foi exibida para comercialização, se percebeu que o público fora da região nordeste não iria compreender as piadas e expressões utilizadas no filme. A solução encontrada foi então de se colocar legendas para “traduzir” a infinidade de gírias típicas e específicas do povo nordestino, no caso, em particular, dos cearenses.
Antes de “Cine Holliúdy”, Halder Gomes, co-dirigiu os longas “As Mães de Chico Xavier” (2011) e o filme de terror “Cadáveres 2” (The Morgue, 2008), produzido nos EUA. Porém, o que ele prefere mesmo é estar na sua terra natal contando histórias do seu universo pessoal de vida. Não é à toa que prioriza, tanto no elenco quanto a equipe técnica de seus filmes, profissionais cearenses. Em “Shaolin do Sertão”, ele resgata o contexto que existiu nas cidades do interior do Ceará, quando haviam lutas de vale-tudo com lutadores já aposentados que percorriam as pequenas cidades do Brasil desafiando os valentões locais. Como o diretor mesmo definiu: “eram os UFC’s da fulerage!”
A história do filme se passa em Quixadá, na década de 80, quando o personagem de Edmilson Filho, Aluízio Li(duíno), um padeiro que sonha em ser um chinês mestre das artes marciais, resolve enfrentar Toni Tora Pleura (Fábio Goulart), um lutador que é uma verdadeira máquina de matar e irá passar pela sua cidade. O humor fica por conta não só do sotaque, como também das engraçadíssimas expressões cearenses, que dessa vez não estão mais “traduzidas” por legendas. Afinal, algumas delas já foram aprendidas em “Cine Holliúdy”, e aquelas não assimiladas, se tornarão familiarizadas na marra pelo contexto da piada. Ou ainda, pode-se perguntar a algum amigo cearense para que te explique, como foi o meu caso. As melhores cenas acontecem durante o treinamento de Aluízio para se tornar um grande mestre das artes marciais. Ele contrata um pseudo mestre chinês vivido por Falcão, que lhe ensina golpes bastante peculiares, que vão desde o equilíbrio em cima de bolinhas de gude (ou bila, como se diz no Ceará) até um golpe envolvendo um determinado orifício de um jegue. Vale destacar também o personagem Piolho, vivido pelo ator mirim Igor Jansen, que sempre tem tiradas sensacionais!
Trata-se de uma comédia extremamente regional e despretensiosa, que remete a época dos filmes de “Os Trapalhões”, onde também havia o cearense Didi Mocó (Renato Aragão) no elenco. A presença de Dedé Santana, serve para reforçar ainda mais essa referência. Contudo, acredito que a proposta do Halder é não só de resgatar as comédias leves de uma época da cinematografia brasileira, como de fazer questão de ressaltar a cultura regional cearense.
Em termos de distribuição comercial, o filme será lançado primeira e exclusivamente em salas de cinemas cearenses no dia 13 de outubro, para somente depois ser lançado nas demais salas do país. Isso porque com “Cine Holliúdy”, Halder, alcançou o patamar de filme brasileiro de maior público por sala no ano de 2013, sendo que o índice de mais espectadores ocorreu na região nordeste.
Considerando que, atualmente no Brasil, os filmes de comédia geram um maior número de público, a importância do alcance de produções como estas é extremamente válida, pois assim proporciona apresentar o Brasil ao próprio brasileiro. Além de possibilitar uma ampliação de horizontes e novos olhares, que contribuem para enriquecer nossa compreensão a respeito da incrível e maravilhosa imensidão do nosso país.
FICHA TÉCNICA:
Direção e Produção: Halder Gomes
Roteirista: L. G. Bayão
Elenco: Edmilson Filho, Bruna Hamú, Fafy Siqueira, Dedé Santana, Marcos Veras, Falcão, Igor Jansen, Fábio Goulart, Frank Menezes, Cláudio Jaborandy, Haroldo Guimarães.
Fotografia: Carina Sanginito
Distribuição: Downtown Filmes
Duração: 100 min
País: Brasil