CRÍTICA | ‘Sob Pressão’ é um autêntico exemplar de thriller médico
Bruno Giacobbo
A esta altura de 2016 já dá para dizer que este é o melhor ano do cinema brasileiro na última década. Entre as obras lançadas, até agora, temos dramas (“Aquarius”, “Mãe Só Há Uma”), thrillers (“O Silêncio do Céu”), blockbusters (“Mais Forte do que o Mundo: A História de José Aldo”), musicais (“Sinfonia da Necrópole”), comédias baseadas em fatos reais (“O Roubo da Taça”) e comédias românticas (“De Onde Eu Te Vejo”), só para citar alguns exemplos. Ou seja: há muito tempo não tínhamos tantos filmes bons e voltados para todos os gostos. Logo, faltando pouco mais de um mês para a virada do ano, era de se esperar que nada mais fosse nos surpreender em relação às produções tupiniquins. Ledo engano. O longa-metragem Sob Pressão, dirigido por Andrucha Waddington (“Eu Tu Eles”), contraria esta expectativa com uma trama de tirar o fôlego e pouco comum para os padrões nacionais.
Livremente baseando no livro homônimo do médico Márcio Maranhão, a história é sobre a rotina de uma emergência médica de um grande hospital público do Rio de Janeiro. A equipe que vive, literalmente, sob pressão, é liderada pelo doutor Evandro (Júlio Andrade), um experiente cirurgião que não se curva a pressões de terceiros, sejam elas oriundas da administradora Ana Lucia (Andrea Beltrão), uma gestora designada pela Secretaria de Saúde, ou do capitão Botelho (Thelmo Fernandes), um oficial da polícia militar. Para isto, ele conta com o apoio quase incondicional do diretor-médico Samuel (Stepan Nercessian) e do também cirurgião Paulo (Ícaro Silva). Contudo, com o início de uma guerra entre traficantes e policiais, na comunidade localizada ao lado da instituição, e a chegada de uma nova plantonista, Carolina (Marjorie Estiano), sua capacidade de liderança será colocada em xeque.
Todo rodado dentro da Santa Casa da Misericórdia de Cascadura, Zona Norte da Cidade Maravilhosa, o filme tem como triunfo inicial sua locação que contradiz seriamente o epíteto do Rio. Não há nada de maravilhoso ou glamouroso em um hospital, pelo menos na ficção, caindo aos pedaços. Desta forma, o impacto na plateia é imediato. É muito difícil não se perguntar o quão incômodo seria trabalhar em um lugar como aquele. Esta sensação ganha força à medida que a obra, por meio do ótimo roteiro escrito por Leandro Assis e Renato Fagundes, vai apontando, uma por uma, algumas das mazelas do sistema público brasileiro de saúde: falta de leitos, de remédios, de sangue, equipamentos sucateados e por aí vai. O resultado final deste somatório de problemas administrativos e fatores externos não poderia ser outro senão um grupo de médicos emocionalmente abalado e fisicamente doente.
Com uma montagem ágil e cenas bastante tensas, Sob Pressão faz os espectadores sentirem na pele o cansaço de seus protagonistas. Assim, a sensação é de que foram vários dias dentro daquele hospital, porém, na verdade, toda a trama se desenrola em um único dia. O filme começa e termina com um simbólico amanhecer. À luz do sol que desperta, encontramos o personagem de Júlio Andrade pedindo uma café e isto me lembra que não dá para deixar de elogiá-lo. Sua interpretação magistral foi coroada com o prêmio de melhor ator no Festival do Rio, assim como Stepan Nercessian, ganhador da premiação de coadjuvante. Juntos, eles encabeçam um elenco em que ninguém erra ao aferir a pressão do público neste autêntico exemplar de um thriller médico. Quem dera fosse sempre assim no cinema nacional!
Desliguem os celulares e ótima diversão.
TRAILER:
FICHA TÉCNICA:
Direção: Andrucha Waddington
Elenco: Julio Andrade, Marjorie Estiano, Andréa Beltrão, Stepan Nercessian
Distribuição: H2O
Data de estreia: qui, 17/11/16
País: Brasil
Gênero: ação
Ano de produção: 2016
Classificação: a definir