Crítica de Filme | O Homem Duplicado

Giselle Costa Rosa

O Homem Duplicado é um daqueles filmes de suspense que você ama ou odeia. Bem, você poderá odiá-lo pelo fato de que se piscar, perderá um item; se beijar o(a) namorado(a), perderá outro. Ir fazer xixi nem pensar; mas se precisar mesmo, melhor ir para casa e esperar o título sair em DVD. Fica complicado até comer durante a sessão. Nada foi posto na trama por acaso. Nenhuma palavra é dita sem uma finalidade específica. Cada cena foi projetada pra dar uma gama de informações que talvez só numa segunda rodada dê para se contemplar tudo.

Quem for amar, ficará entretido juntando as peças para entender o que se passa na vida do protagonista do filme. Irá saborear as pistas que são dadas das mais variadas formas: seja nos objetos cenográficos, seja na fotografia e nos simbolismos visuais. Será tomado por uma avidez em descobrir o que está ocorrendo de fato.

Baseado em um dos livros psicologicamente mais complexos de José Saramago, e dirigido por Denis Villeneuve, o longa versa sobre a temática da perda e procura de identidade em um personagem existencialmente amórfico.

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Adam, o professor.

Mas vamos à história. Adam, vivido pelo ator Jake Gyllenhaal (O Segredo de Brokeback Mountain, 2006 e Os Suspeitos), é um professor que vive em uma monótona rotina. Quando ele recebe uma indicação de filme de um colega de trabalho, tudo muda. Ele o aluga e ao assistir, descobre um fato curioso na fita. Um dos atores era idêntico a ele. Assustado e ao mesmo tempo curioso, Adam busca pelo homem na internet e descobre que o nome dele é Anthony. Verifica sua filmografia e aluga outros filmes. Com uma curiosidade cada vez maior, Adam decide procurar o ator. O encontro entre os dois causará transtornos na vida de Adam.

Tudo parece bem simples, mas o que aparenta não é. Acabamos sendo levados por outro caminho onde nada faz muito sentido, nem pra gente nem para Adam. Numa atmosfera opressiva e sombria, o sentimento é de confusão, de estar vivendo fora da realidade, preso numa teia, numa constante neblina que se dissipará bem aos poucos. Não é só Adam que sofrerá com isso. As mulheres em torno dele, Mary e Helen, vividas respectivamente pelas atrizes Mélanie Laurent (Bastardos Inglórios, 2009) e Sarah Gadon (Cosmópolis, 2012), são jogadas nesse ambiente conturbado da mente de Adam. A mãe dele, uma atriz, é interpretada pela sempre bela e competente Isabella Rossellini. Aliás, a mãe de Adam é a chave para o mistério da trama.

Anthony

Anthony, o ator.

Tanto Mélanie quanto Sarah atuam bem. Helen acaba se destacando mais, talvez por ter maior importância no filme. Gyllenhaal consegue imprimir no olhar de seu personagem a angústia e o desconforto de estar perdido em si, numa estrutura fractal. E quando está na pele do ator Anthony, passa-nos a sensação de segurança, ousadia, de ser um cara mulherengo e um sujeito um tanto mau. Total avesso do professor Adam, um cara pacato, meio apático, inseguro, do tipo fiel e caseiro. Villeneuve acerta no controle que mantém sobre todos os elementos do filme e na condução dos atores.

Cabe aqui uma segunda dica. Atenção à cena de abertura, pois ela tem ligação direta com a última do longa. A aranha que aparece na primeira cena, acima de qualquer simbolismo, é motivo de dor de cabeça para o espectador. Lembre-se de que nada foi jogado ou é aleatório. Cada elemento dentro desse filme tem o seu lugar.

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Adam e Anthony.

O excesso de pequenas informações pode desencorajar o espectador em ir firme e atento até o final. Pois é bem verdade que o filme só pega ritmo próximo do desfecho, onde tudo acontece rapidamente e não se tem tempo de concatenar o todo, na tentativa de se chegar a uma conclusão satisfatória.

O caos se dá de forma espontânea; a ordem não. Precisa haver uma intencionalidade para que a ordem aconteça. Com isso, acabamos conhecendo outro Adam no fim. Então respire fundo, deixe o celular de lado, dê uma pausa na pipoca e nas trocas de carinho com o(a) namorado(a) e viaje nessa trama bem entrelaçada.

BEM NA FITA: A direção de Villeneuve que soube controlar todos os elementos do filme e conduzir bem os atores.

QUEIMOU O FILME: Talvez um excesso de símbolos visuais que deixam o espectador perdido.

Confira o trailer:

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FICHA TÉCNICA:

Título original: An Enemy

Direção: Denis Villeneuve

Roteiro: Javier Gullón

Elenco: Jake Gyllenhaal, Mélanie Laurent, Sarah Gadon, Isabella Rossellini

Gênero: Suspense

Duração: 90 min

País: Canadá

Ano: 2013

Giselle Costa Rosa

Integrante da comunidade queer e adepta da prática da tolerância e respeito a todos. Adoro ler livros e textos sobre psicologia. Aventuro-me, vez em quando, a codar. Mas meu trampo é ser analista de mídias. Filmes e séries fazem parte do meu cotidiano que fica mais bacana quando toco violão.
NAN