CRÍTICA | Mesmo com seus pecados, ‘Sully: O Herói do Rio Hudson’ é mais um bom trabalho de Clint Eastwood

Italo Goulart

Nos últimos anos, Clint Eastwood focou em transformar histórias reais em cinema e tem feito isso com maestria e dignidade, nada menos do que poderíamos esperar desse consagrado ator e diretor.

Junto com sua capacidade imensa de transformar histórias de pessoas comuns que passaram por algo fantástico, Clint, em Sully: O Herói do Rio Hudson, se junta ao ator mais capaz de se fazer convencer que ele de fato é o dono dessa história, Tom Hanks.

Em Sully, acompanhamos a história do experiente piloto Chesley “Sully” Sullenberger (Tom Hanks) e seu co-piloto, Jeff Skiles (Aaron Eckhart). Ambos passaram por momentos de tensão e desespero no voo US Airways 1549.

Logo após a decolagem, o avião em que eles estavam foi atingido por um bando de pássaros que acabaram danificando os dois motores. Sem a possibilidade de voltar para o aeroporto do qual tinham saído ou ir para o outro mais próximo que ficava a 11 km, Sully decide fazer uma aposta arriscada e realizar um pouso dentro do rio Hudson. E nunca antes na história da aviação um pouso n’água tinha sido bem sucedido sem perdas humanas.

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Logo após todos os eventos, Sully é proclamado herói, mas o NTSB (Diretório Nacional de Segurança do Transporte dos Estados Unidos) tentará provar que não.

O mais interessante do filme é o fato dele ser focado no personagem de Tom Hanks e não necessariamente no acidente. Com uma história não linear com longos flashbacks (às vezes tão longos que a gente esquece que era um flashback), o longa se desenrola de maneira lenta e controlada, mas sem perder o interesse.

Sully: O Herói do Rio Hudsonao mesmo tempo que tenta transformar o protagonista realmente em um herói, contesta a autenticidade dessa afirmação, com pensamentos que o levam a crer que talvez ele pudesse ter outra escolha em vez de colocar a vida de pessoas em risco.

O piloto se mostra não só incomodado pela imprensa em seu encalço, como também mostra o impacto psicológico que o acidente lhe causou.

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O filme também foca na ideia antissistema (ou anti-establishment se preferir) na forma como expõe o órgão que vai investigar o acidente e na tentativa quase explícita em incriminar Sully e Jeff. Fica bem latente a dúvida sobre a capacidade do poder e da competência desse mesmo órgão em sua investigação ou se só querem colocar a culpa do seu prejuízo em alguém.

Com uma atuação realmente digna de Oscar, Tom Hanks nos mostra um personagem com aquele tom de verdade que ele já nos mostrou outras vezes. Com isso, a atuação de Aaron Eckhart fica bem em segundo plano, apesar de ter sido excelente.

Sully: O Herói do Rio Hudson nos surpreende positivamente ao misturar ficção e realidade em certas partes do filme, facilmente enganando os mais desavisados. Com pouco uso de efeitos especiais, mas usado de forma precisa, algumas cenas do que poderia ter sido de fato o desastre engrandecem toda a trama.

A façanha de Chesley “Sully” Sullenberger é concebida como quase uma resposta ao desastre de 11 de setembro de 2001. Como dito no próprio filme, “Os americanos não tem boas lembranças quando se trata de uma acidente de avião!”.

O novo filme de Clint Eastwood mais uma vez adapta fatos reais e novamente, assim como em Sniper Americano”, peca pela já cansada fórmula patriótica de enaltecer personagens americanos, mas não deixa de ser mais um bom trabalho do diretor.

TRAILER:

FICHA TÉCNICA:
Título original: Sully
Direção: Clint Eastwood
Roteiro: Todd Komarnicki
Elenco: Tom Hanks, Aaron Eckhart, Laura Linney
Distribuição: Warner
Data de estreia: qui, 01/12/16
País: Estados Unidos
Gênero: drama
Ano de produção: 2016
Duração: 96 minutos
Classificação: a definir

Italo Goulart

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