REVIEW | ‘Final Fantasy XV’ é intenso, bem produzido…uma obra-prima!
Stenlånd Leandro
Não é fácil ter aquela oportunidade de viver um pouco dos personagens principais de um dos jogos mais aguardados de 2016, onde cada episódio envolve cada um dos membro do grupo, tentando mostrar ali o que fazem deles pessoas tão especiais para Noctis. Enquanto sofríamos com lançamentos anteriores os quais não era possível entender quase nada em sua história, devido a falta de dublagem ou legenda, agora isso não é mais um problema. Final Fantasy XV, que ao menos em menus e legendas tem a opção em português, acaba sendo o primeiro da série em anos a contar com esse tipo de atrativo para os fãs tupiniquins.
Partindo deste aditivo interessante, vamos de cabeça ao game. Este se inicia sem introduções antes de você pressionar A ou START para inicia-lo. Além disso, como em todo RPG, é preciso treinar MUITO. Hoje é possível entender a razão das ‘side quests’ que transportam o gamer para não somente a saga do príncipe Noctis e sua trupe de guarda-costas-irmãos Gladiolus, Prompto e Ignis, mas também para outros assuntos pendentes no mundo e que atrapalham o bem estar daqueles que vivem por aí. O jogo inicia informando todos os passos e dicas para ser um lutador digno de sair por aí e entrar no combate mais esperado de todos os tempos, afinal foram longos 10 anos de espera pelo novo título da saga Final Fantasy. Os fãs da franquia foram altamente recompensados, aliás, de uma forma altamente verossímil: puderam tocar nesta obra-prima após períodos de silêncio ininterrupto.
Diversos detalhes mudaram na franquia e o jogo, que antes era um tipo de estatueta do Oscar para quem obtivesse a sequência, há muito foi questionado sobre como induzir as pessoas a novamente confiarem nos RPG’s provindos dos asiáticos. Hoje em dia, quando se fala de RPG, todos remetem ao novo sistema imposto por Witcher, Elder Scroll e Fallout, que acertaram no decorrer de sua criação com ambientes para lá de abertos e as consequências de suas escolhas no caminho. Isso inclui longos CGI’s, diálogos extensos e side quests que podem ajudar sim a ter um mínimo de diferença no decorrer da trama. Para isso, não basta ser um joguinho bonito, mas é preciso erguer a cabeça e entender que nem só de RPG japonês vive o homem. Ele precisa comer, beber, sair, arejar a cabeça e fazer algo que seja um diferencial no seu marasmo. É aí onde inicia-se a resenha.
A TRAMA DO JOGO
Após a separação de Noctis e Lunafreya, para continuar o “drama na trama”, era necessário, de certa forma, entender essa relação de amizade que existe há muito entre Noctis e seus companheiros Gladious, Prompto e Ignis. No decorrer dos capítulos, sentimos aquela louca vontade de saber mais como as coisas chegaram àquele ponto. Isso porque os personagens principais criam um elo de afeto muito grande e, apesar das inúmeras mudanças no jogo (diretor, ideais, planejamentos), este game lhe transporta para uma batalha torrencial e de muita dor entre os kingsglaive e o exército de Magiteks de Niflheim na fronteira da muralha de Insomnia. É realmente a continuação do longa Kingsglaive: Final Fantasy XV. Este nuance é decisiva para que a relação entre os irmãos fique cada vez mais forte a cada mero pedaço da história. Conforme o videogame vai evoluindo, os jogos também precisam evoluir e seguir de perto a qualidade, pois a trama de seus antecessores não prendiam tanto assim o jogador, e agora é algo verdadeiro.
No decorrer dos capítulos, há diversos flashbacks entre tudo o que aconteceu e foi mostrado no longa que precedia a chegada do game. A introdução de cada personagem, como o pai de Noctis, a princesa Lunafreya Nox Fleuret, o chanceler Ardyn Izunia, o príncipe Ravus Nox Fleuret, entre outros, é essencial para que houvesse uma compreensão maior para o jogador que chegou agora e não sabe de nada sobre a franquia, sendo isto, uma meta faraônica. Como se não bastasse, até um titã imbuído de traçar novas metas aos irmãos surge.
Tudo aqui lembra muito Lost Odissey, jogo exclusivo de Xbox 360, desenvolvido por Hironobu Sakaguchi, o criador de Final Fantasy. Para quem é familiar com as obras de Hironobu, sabe muito bem o quanto ele adora contar uma história rica em emoções e sentimentos, e sempre demonstrou grande cuidado no desenvolvimento de cada personagem. Esta fábula da nova geração em Final Fantasy XV não fica muito atrás. Assim como em Lost Odissey, este jogo já começa tentando impressionar com uma apresentação em computação gráfica provinda do filme Kingsglaive, mostrando uma batalha de proporções épicas, em uma ambientação de fantasia pesada, com guerreiros em armaduras enormes, espadas excessivamente largas e exóticas, máquinas de guerra que se transformam em seus maiores pesadelos, entre outros detalhes.
O que há nesse mundo aberto e inexplorado são as possibilidades. Há um contraste muito bem-vindo e inesperado entre uma estética extremamente japonesa com aquilo que pode ser associado à cidades do interior do Brasil, como pequenas paradas de estrada, podendo acampar, andar de Chocobbo e, com isso, ganhar o mundo. Há detalhadamente esse choque entre dois mundos que destoam bem a relação dos quatro protagonistas com essa realidade, já que é reforçado mais de uma vez que todos nunca tinham visitado áreas fora da cidade real de Insomnia. Andar com o Regalia, por exemplo, pode ser uma tarefa árdua para alguns, mas gera uma trama de diálogos muitas vezes extrínsecos.
A trama acerta em cheio ao deixar muitos mistérios inexplorados, independente se é missão secundária ou não, para que o jogador possa desfrutar da experiência completa no jogo. No decorrer do jogo, vemos os quatro protagonistas serem desenvolvidos em suas relações e pensamentos entre si, a dinâmica deles e o quão preocupados estão com seu bem-estar ao longo da viagem, aquela paradinha para uma foto com o grupo ou pescar para dar aquela aliviada depois de muito embate. Com uma narrativa afiada e provocativa muitas vezes, Final Fantasy XV redefine o argumento sobre como uma mente brilhante floresce e se torna o fruto do ambiente que somos condicionados e inaugura um novo formato na franquia.
GRÁFICOS E CGI’S
Você chega aos 36 anos e se depara com algo que há muito não se imaginava que era possível de ser feito na maioria dos jogos de RPG provindos do continente asiático. O jogo deixou de ser algo que antes poderia ser considerado simples e sem esmero após 10 anos de uma longa jornada de espera e praticamente tornou-se uma alta produção cinematográfica direcionada aos fãs da franquia da Square Enix. Este game em tons de ‘longa-metragem’ é ambientado em um mundo aberto extensamente coeso, onde viagens de carro são uma constante na aventura de Noctis, Prompto, Gladiolus e Ignis. Regalia, nome do veículo, é praticamente um quinto membro da equipe e são os trechos em que nossos heróis estão sentados em seus bancos que definem o ‘memento mori’ do jogo. A beleza gráfica vista durante os CGI’s dos cenários ou de seus protagonistas são as coisas mais encantadoras já vistas até então. As viagens de Chocobbo também mostram que viagens podem se tornar mais extensas e muito mais exploratórias. Com isso, é possível ver de forma mais aprofundada a qualidade gráfica do jogo.
Tudo é visto detalhadamente através de efeitos visuais e os CGIs são praticamente reais, onde os personagens parecem um belíssimo live action, com uma fidelidade absurda de movimentos, sombras, cores e aquele rosto mais próximo do real. Tentando dar aquele tapa no visual, a Square Enix trouxe para este game mudanças inusitadas em relação ao seu histórico. Aproximar a aventura para um futuro mais realista que o normal, com máquinas beirando o limbo tecnológico, beira mais a uma superprodução do canal Sci-Fi do que necessariamente um jogo que anteriormente tinha em sua trama algo mais medieval. O Open World usado no jogo e a Mudança de Tempo, também ajuda – e muito – a ver como os gráficos podem mudar de acordo com o ambiente inóspito (ou não) vivido pelo quarteto.
A história é contada através de sequências em CGI’s e muitas vezes em cutscenes, e estas fornecem um pouco do que de melhor o jogo tem, mas também parte do seu lado negativo. Enquanto as sequências em CGI’s estão muito bem realizadas e apresentadas, algumas cutscenes são simplesmente ruins e mostram a limitação gráfica contida no serrilhamento, contando ainda com bugs (como atravessar paredes) em momentos inoportunos, deixando o gamer um bocado frustrado.
JOGABILIDADE
Seja o jogador iniciante ou não, as missões paralelas existem e podem ser acessadas através de um menu que é aberto antes de você entrar no carro, que lhe oferece câmbio manual (Noctis) ou automático (Ignis). Acompanhar todo o trajeto pode ser uma experiência extravagante visualmente. Paisagem daquele mundo sendo admirada enquanto estamos viajando de carro de um ponto ao outro com nossos amigos, tendo a possibilidade de tocar músicas clássicas da série pelo carro após comprá-las em alguns pontos de parada. E é nisso que o jogo se destaca: acompanharmos a aventura desses quatro personagens que estarão juntos durante toda a viagem, se separando em momentos específicos da história, navegando por todo aquele mundo, aprendendo, crescendo, batalhando e adquirindo experiência, até mesmo em eventuais noites de descanso na estrada, acampando.
Seja nas missões secundárias a serem feitas ou nas missões principais, sempre existirá uma gama de possibilidades apresentadas ao jogador e isso remete-se a como explorar o cenário e ao mesmo tempo interagir com o mesmo. Desfrutar de possibilidades sobre sua jogabilidade mais que próximas do ilimitado, parar a noite e acampar, preparar uma comida, são detalhes que incrementam a jogabilidade, onde é preciso aumentar o nível dessas possibilidades. Isso porque as missões principais obviamente são o que movimentam a história do jogo, mas os jogadores são livres logo de cara para investigarem as possibilidades daquele mundo e universo apresentados a ele, visto que explorar catacumbas escondidas pelo mapa também acaba tornando-se um tipo de missão meio a meio. É necessário achá-las para assim, obter novos poderes e, casualmente, monstros poderosos que exigem um maior desafio mas quando derrotados, geram uma alta quantidade experiência final.
Um bom RPG mostra que, ainda que lúdico, seu sistema de combate venha a ser o real diferencial e Final Fantasy assim o faz, sendo aqui que vamos poder encontrar algumas das melhores características do jogo e também seu calcanhar de Aquiles. Os combates são aleatórios e tudo dependerá de você. Diferente da maioria dos RPG’s que possuem combate por turnos, aqui não é bem assim. É possível terminar o jogo com um alto level ou viver fraco e apanhando. O jogo apresenta algumas ideias muito interessantes como o suporte de Iris (que mal tem life) em alguns combates e o quarteto acaba virando quinteto.
TRILHA SONORA
Yoko Shimomura fez milagres em Final Fantasy XV. Se antes a incrível trilha de de Nobuo Uematsu conseguia criar uma atmosfera de envolvimento perfeito para o jogo, a compositora japonesa não ficou atrás. Ela é praticamente novata no mundo de Final Fantasy, se assim podemos dizer, mas não no mundo dos games. Por longos anos foi reverenciada por sua longa trajetória ao compor a famosa trilha de Street Fighter II e é amada pelos fãs por suas composições tanto na Legend of Mana quanto na série Kingdom Hearts. Alguns faixas são absolutamente incríveis e aquelas que podemos ouvir no Regalia durante a viagem de ‘horas’ no carro são as que mais devem nos perseguir por um bom tempo. Há a repetição das trilhas no decorrer do jogo, ainda que ele seja extenso, há uma limitação na quantidade de faixas a serem executadas vs boss / vs soldados / vs inimigos nas quests paralelas ou calabouços. Ainda assim, nem mesmo a frequente repetição de alguns temas irá aborrecê-lo, pois as canções foram muito bem compostas.
A dublagem para o inglês não chega a ser caricata e apresenta um resultado bastante satisfatório. Uma boa opção sem dúvida, como já mencionado, são as vindouras legendas em português que fizeram a diferença também e a sincronia está perfeita. As vozes encaixam bem nos personagens e conseguem dar vida ao elenco que compõe a trama.
O VEREDICTO
Enfim, Final Fantasy XV é o RPG que todos esperávamos. Um ótimo deleite para quem gosta de Hironobu Sakaguchi e esperava exatamente o que ele ofereceu em seus primeiros games da franquia. Apesar da construção de personagens ser confusa em alguns momentos, os elementos que remetem ao clássico RPG japonês é notável e grandioso, e suas batalhas – felizmente – não estão em modo turno. O mapa amplo é legal e muitas vezes lembra o velho e famoso GTA quando dirigimos o Regalia. É uma alta e dispendiosa produção. Não deixa de ser bem produzida e todos aqueles que anseiam por um bom título do gênero devem pensar imediatamente em Final Fantasy XV como uma inovação icônica provinda dos chefões da Square Enix. Altamente recomendado.