Crítica de Filme | Transcendence – A Revolução

Bruno Giacobbo

Fotógrafo de todos os filmes de Christopher Nolan, desde Amnésia (2000), o diretor Wally Pfister decidiu trilhar seu próprio caminho e dirigir um longa-metragem. Para isto, contou com o apoio do amigo (e mentor) e de um astro de primeira grandeza como Johnny Depp. A história escolhida também parecia no mínimo interessante. Uma ficção científica com alguns cientistas geniais, um super computador e terroristas que, na verdade, defendem a humanidade e o seu direito de continuar única na criação divina. Contudo, por uma destas coisas que às vezes acontecem no cinema, praticamente nada funcionou e Transcendence – A Revolução, em cartaz desde o dia 19 de junho, é candidato a bomba do ano.

No início, as coisas funcionam relativamente bem. Somos apresentados ao doutor Will Caster (Depp) e sua esposa Evelyn (Rebeca Hall). Geniais, unidos pelo amor e pela ciência, eles ambicionam melhorar as condições de vida no nosso planeta. Will é o maior especialista mundial em inteligência artificial e acredita que com a ajuda dos computadores realizará o sonho do casal. Eles contam com o apoio dos não menos brilhantes cientistas Max Watters (Paul Bettany) e Joseph Tagger (Morgan Freeman). Os problemas começam quando o nosso protagonista sofre um atentado (cometido pelos tais terroristas). A partir daí, por diversos motivos, o filme descamba para um pastiche de qualidade muito duvidosa.

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O mais importante deles é a ideia de transferir para um super computador a mente de Will, quando este percebe que não escapará da morte. Não estou falando de transferir todo o conhecimento assimilado ao longo da vida pelo cientista, mas a mente com tudo que isto implica: emoções, sensações, lembranças… Trata-se da substituição do corpo de carne e osso por um mecânico e estático. Existem diversas obras sobre a inteligência artificial, nome cunhado pelo americano John McCarthy, em 1955. No cinema, por exemplo, há o ótimo A.I. (2001), de Steven Spielberg. Na literatura, o maior expoente é o russo Isaac Asimov. No livro O Homem Bicentenário (1976), filmado por Chris Columbus, o escritor conta a história de um robô que, aos poucos, se humaniza e luta pelo direito de ser reconhecido como homem. No entanto, com a exceção do recente Capitão América: O Soldado Invernal (2014), onde o personagem Arnim Zola faz a mesma coisa que Will Caster, ainda não tinha visto nada parecido.

Tudo bem. Partindo do princípio que esta ideia seja possível e já que estamos falando de um longa-metragem de ficção cientifica, logo, sem o compromisso de ser fiel a realidade, há outra coisa que incomoda bastante. De posse do seu novo “corpo”, o homem idealista, o cientista altruísta que queria construir um mundo melhor para todos, se transforma radicalmente. Em vez de aproveitar a oportunidade de fazer algo pela humanidade, proporcionada pelo fato de agora ser um computador consciente, desenvolve uma terrível obsessão pela esposa. Todas as suas ações têm como finalidade manter por perto a mulher que ama. E, para isto, ele não medirá esforços. Esta transformação não faz nenhum sentido, pois nada no roteiro escrito por Jack Paglen explica mudança tão súbita. Não combina com a psicologia do personagem e é inverossímil aos olhos do espectador mais sensato.

Outro motivo é mais uma interpretação decepcionante do astro da companhia. Johnny Depp aparece caracterizado como um homem comum. Nada de roupas de piratas ou índios estúpidos que lembram bucaneiros caribenhos. Na telona, as vestimentas de uma pessoa normal. Entretanto, nem assim ele parece conseguir se despir de seus papéis anteriores. A voz continua igual. Artificial, pronta para dar vida a um novo Jack Sparrow. E se este ‘detalhe’ não for suficiente, ao ministrar uma palestra, antes dos principais acontecimentos, seu Will Caster mais parece uma versão caricata de Steve Jobs.

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Sonolento e cansativo, apesar de ter somente duas horas, Transcendence – A Revolução, que se salva apenas pela deslumbrante fotografia de Jess Hall, tem ainda momentos constrangedores de puro riso. As risadas são provocadas por bizarras semelhanças com filmes bem diferentes. Algumas cenas parecem ter sido extraídas de Guerra Mundial Z (2012), ou da série de televisão The Walking Dead, e adaptadas para uma ficção cientifica. Falar mais é correr o risco de dar spoilers desnecessários. Só mesmo assistindo para entender.

Desliguem os celulares.

BEM NA FITA: Apenas a fotografia.

QUEIMOU O FILME: O restante do filme.

FICHA TÉCNICA:

Direção: Wally Pfister.
Elenco: Johnny Depp, Morgan Freeman, Rebecca Hall, Kate Mara, Cillian Murphy, Cole Hauser, Paul Bettany, Clifton Collins e Cory Hardrict.
Produção: Christopher Nolan e Emma Thomas
Roteiro: Jack Paglen.
Direção de Fotografia: Jess Hall.
Montagem: David Rosenbloom.
Trilha Sonora: Mychael Danna.
Duração: 119 min.
Ano: 2014.
País: Estados Unidos.

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
NAN