CRÍTICA | ‘Assassin’s Creed’ peca com gamers, mas agradará fãs de cinema

Everton Duarte

Há muitos anos existe uma carência por um filme baseado em um game, que o adapte de forma convincente. Por um filme que realmente transforme o universo lúdico e até transcendente dos games, em uma obra prima digna de dar continuidade aos mais magníficos e marcantes jogos de nossas vidas. E não foram poucas as tentativas: Resident Evil, Street Fighter, Mortal Kombat, Tomb Raider, Prince of Persia, Warcraft, Hitman (o melhor deles, na minha opinião), enfim, vários deles tentaram. Todos eles carregavam as expectativas que precediam de seus nomes de peso. Ah, mas são filmes muito bons! Sim. Realmente são. Dentro de um padrão hollywoodiano, são mesmo. Mas pouco agradaram aos milhões de gamers que fizeram com que houvesse o interesse dos estúdios em transporta-los à mágica tela do cinema.

Devemos considerar que Assassin’s Creed não foi projetado apenas para os fãs da franquia da Ubisoft, e essa é – e sempre será – a maior dificuldade das adaptações de games para o cinema. Em paralelo a este argumento, a trama do longa foi estruturada. Justin Kurzel, o diretor do filme consegue inserir diversos elementos dos games no longa, tais como, ótimos planos e sequencias de ação. A história é baseada na mesma premissa dos jogos: Templários x Credo de Assassinos digladiando-se pelo poder da Maçã do Éden, artefato que extinguem o livre arbítrio da humanidade. O grande problema do enredo é o fraco aprofundamento dos seus personagens e os diálogos que giram em torno das motivações, item que vem derrubando a maioria dos blockbusters. Vimos isso acontecer com um certo Lex Luthor e um certo Barão Zemo. Estes quesitos são os que definem Assassin’s Creed apenas como bom filme. Isso acaba gerando uma certa preocupação, pois quem não é conhecedor dos games não ficará perdido na história já que os pontos essenciais à trama do longa são explicados, porém, explorados de forma desleixada.

Ao mesmo tempo, Justin acerta em determinados elementos que foram resgatados do game. O salto de fé é algo realmente bem trabalhado no filme. Claro que não veremos ninguém caindo um monte de feno, mas a forma como o salto é retratado no longa ganha um ponto positivo. As Lâminas Ocultas (Hidden Blades) estão presentes durante alguns assassinatos, e este é outro elemento que não poderia ficar de lado, apesar de não explicar a necessidade dela na Animus. Aqui chego em um ponto importante: a Animus. Ela é a tecnologia capaz de inserir o Callum Lynchi, protagonista do longa vivido por Michael Fassbender, dentro das memórias de seus antepassados e revivê-las. No jogo, ela é muito diferente, pois trata-se de uma cadeira com um capacete de realidade virtual que acessa essas memórias, onde são reproduzidas apenas na cabeça do seu usuário. No longa, o capacete e a cadeira foram substituídos por um braço mecânico, onde Callum também revive os movimentos de seus ancestrais que são projetados para a análise dos cientistas da Abstergo.

Atuações dessa vez ficarão de fora deste texto. Sim, elas são boas, mas é difícil qualificá-las com uma história focada e dividida em atos repletos de ação e pouco drama, além de um enredo questionável. Efeitos especiais também são um quesito que dispensam comentários, pois realmente são bons, assim como na maioria dos filmes da FOX, vide X-Men: Apocalipse. A trilha sonora é mais um ponto positivo, pois acompanha a constante mudança entre músicas instrumentais com o rock em alguns momentos, trazendo assim a experiência de imersão entre passado e presente.

Infelizmente, o longa entra para a categoria de bom filme, apenas isso. Lembra do universo lúdico, transcendente, magnífico e que marcou nossas vidas nos games? Assassin’s Creed não consegue transportar esse mundo para as telonas, mas com certeza será uma experiência agradável para os fãs de cinema. E para os fãs dos games, algumas expectativas serão saciadas com os fan services inseridos, mas quem sabe em futura sequência ficaremos satisfeitos por completo.

Aprecie sem moderação.

TRAILER:


FICHA TÉCNICA:
Título original: Assassin’s Creed
Direção: Justin Kurzel
Elenco: Michael Fassbender, Marion Cotillard, Jeremy Irons
Distribuição: Fox
Data de estreia: qui, 12/01/17
País: Estados Unidos
Gênero: ação
Ano de produção: 2015
Classificação: 12 anos

Everton Duarte

Paulista, jornalista em desenvolvimento, amante do mundo geek, co-fundador e editor-chefe do Ultraverso. Busco sempre o melhor em tudo o que me proponho a fazer.
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