Crítica de Teatro: Além as estrelas são a nossa casa

Rodrigo Amém

“Além as estrelas são a nossa casa” reúne textos do português Abel Neves numa montagem comedida e discreta, dirigida por Guilherme Delgado. Cenografia e figurino se propõem realistas, com uma paleta de tons pastéis. Um padrão que, aliás, se manifesta na peça como um todo.

As cenas, que alternam pequenos monólogos e diálogos, retratam relações entre personagens que parecem sempre estar meio tom fora do real. Uma turista que questiona a mensagem de boas vindas na entrada de um antiquário. A mulher que luta contra a derrubada de um pessegueiro. O pré-histórico  “ponto de teatro” ressentido com o ator turrão: se não chegam a ser tchekhovianos em sua incapacidade de ação, quase sempre reagem de forma esvaziada, num padrão que o release da produção classifica – equivocadamente – como realismo fantástico. Mas um equívoco compreensível. A dramaturgia de Neves dribla o realismo, por vezes, flerta com o inesperado, mas nunca é fantástico.

E nesse drible de expectativas, às vezes o elenco leva umas rasteiras.  Ricardo Ventura, Rosa Felix, Tainá Medina, Daniel Archangelo, Aline França e Luiz Paulo Barreto se esforçam e, quando servidos pelo autor, quase sempre são corretos. Em alguns momentos, desenha-se uma emoção na possibilidade de um conflito. Aí o texto vem, dá uma finta, desconversa e deixa os atores confusos, reagindo de forma burocrática. O estranhamento das estruturas gramaticais do português lusitano entoadas em autêntico carioquês também ajuda na desconexão.

Muito se fala do teatro pretensioso, do encenador arrogante, do autor autoindulgente.  Dos espetáculos que pretendem discutir a natureza humana e sentenciar verdades absolutas. Hoje em dia, isso é até meio cafona. “Além as estrelas são a nossa casa” não sofre desse mal porque reside no outro lado do espectro: não diz a que veio. Não há uma sensação de unidade, coesão ou intenção.  Ainda que se argumente que o lirismo das cenas é a razão em si, a seleção irregular não se sustenta.

A montagem, em cartaz na Casa da Gávea, é um espetáculo – literalmente – despretensioso.  E esse é o seu maior problema.

Além as estrelas são a nossa casa
Teatro Sesc Casa da Gávea
De 1 a 17 de novembro (Sex e Sáb às 21h e Dom. 19h)
R$40,00
Classificação: 14 anos

Rodrigo Amém

NAN