13 Reasons Why | A necessária discussão de temas que geralmente não são aprofundados

Gabriella Soares

Hannah Baker (Katherine Langford) poderia ser uma adolescente normal do ensino médio americano passando por ritos que fazem parte desse momento da vida, como a exploração da própria sexualidade, os primeiros contatos sexuais, as amizades, a autodescoberta e a construção de uma identidade. Experiências que deveriam ser respeitadas, compreendidas e ocorrerem segundo seus termos. Masas coisas não acontecem como deveriam, nada é simples e as pessoas podem ser – e na maioria das vezes são – horríveis, egoístas e ignorantes com quem está ao lado. E as consequências também podem ser, como mostra a nova série adaptada da Netflix, “13 Reasons Why”.

Do processo que a levou ao suicídio até a concretização do ato, Hannah passou por muita coisa, e em seus últimos dias de vida ela planejou exatamente como iria contar os detalhes de sua história a cada pessoa que de alguma forma contribuiu para sua morte. Ela acredita que cada história tem 13 lados, assim, a garota deixa 13 fitas cassetes com instruções claras para que elas sejam ouvidas por cada uma das pessoas que agiram como uma razão para a sua morte. Assim, acompanhamos Clay Jensen (Dylan Minnete)na descoberta dos motivos dele ser um porque assim como cada um dos seus colegas, além dos mistérios que ainda rondam Hannah.

Desde o primeiro episódio a premissa da série já é muito bem estabelecida e o interesse é despertado não apenas pelas razões, como pela questão de como Clay – e todos os outros personagens – influenciaram na morte de Hannah e como cada um deles está conectado. Além da ligação dos personagens e da própria trama, um dos pontos que mantem a tensão é a forma como a história é contada. Com uma edição inteligente, que não segue uma ordem cronológica, os fatos e os pequenos detalhes são apresentados de forma a te manter ansioso para saber como as coisas chegaram naquele ponto.

Um problema de 13 Reasons Why é que algumas situações parecem terem sido exageradas, ao menos no que diz respeito às reações dos personagens. A tentativa de buscar esse clima de tensão para os acontecimentos fez com que alguns fatos revelados não correspondessem às expectativas e, assim, fossem frustrantes e sem grande impacto. Mesmo os personagens sendo representações de questões e problemas que são recorrentes na vida de um adolescente/jovem e considerando que Hannah não estava bem emocional e psicologicamente, há momentos na série que a dramatização parece exagerada para o momento e o perfil dos personagens, o que prejudica o ritmo de alguns episódios.

Também alguns dos jovens não tem tantos motivos ou justificativa racional para a paranoia em relação à possível divulgação das fitas, como Ryan e a Courtney, por exemplo, entretanto o comportamento deles como um grupo ajuda a criar a ideia de que todos estão no limite. Seja pelos acontecimentos recentes na Liberty High ou pelo que eles descobriram – ou não querem que os outros descubram – através dos depoimentos de Hannah, todos aqueles adolescentes estão com as emoções à flor da pele, principalmente o medo das consequências pessoais ou judiciais que suas ações podem acarretar.

Assim, é com facilidade que alguns personagens desconsideram completamente o que Hannah deixou registrado nas fitas. Seja por não se importarem não verem – ou não quererem admitir – nada de errado com o que fizeram. O que fica mais evidente com as reações dos personagens é asuperficialidade, egoísmosfalta de consideração com as pessoas que parece ser marca desse grupo etário e social. Mesmo Clay, que desde o início vemos como um menino doce e gentil pode agir como um completo idiota, principalmente por sua falta de ação e apatia.

“13 Reasons Why” é uma história que trata não apenas de suicídio como também de objetificação do corpo da mulher e das pessoas, bullying, machismo, assédio, abusos físicos, metais e sexuais, luto, sobrevivência, álcool e drogas. E o trunfo da série é que ela consegue discutir tais assuntos e fomentar a discussão e a reflexão de uma forma dinâmica e competente na maioria de seus episódios.

Com boas atuações, principalmente de Dylan Minnete e Katherine Langford, que entregaram momentos emocionantes, e um roteiro sólido e aberto sobre questões que não costumamos discutir a fundo, a mais nova adaptação da Netflix apresenta uma ótima produção e deixa questionamentos sobre as nossas ações e a falta delas e as consequências disso na vida das outras pessoas.

::: TRAILER

https://youtu.be/nHdoAaLiU2E

Gabriella Soares

NAN