CRÍTICA | Somos todos parte de um todo infinitamente maior em ‘A Vida Após a Vida’

Luigi Martini

Trilha sonora aterrorizante? Enquadramento à la Wes Anderson? Grandes diálogos tarantinescos? Nada disso. Esqueça qualquer tipo de convenção cinematográfica. A estreia do diretor Zhang Hanyi faz questão de ser inteiramente autônoma tecnicamente em A Vida Após a Vida (Zhi Fan Ye Mao).

Neste longa, o espírito de uma mãe falecida toma conta do corpo de seu filho para supervisionar a tarefa de replantar uma árvore muito importante, somente depois da qual ela poderá deixar os limites terrestres. Isso pode soar como um suspense ou terror, mas certamente não é o tipo de que estamos acostumados.

O filme não faz questão de chocar (como por exemplo, com o aparecimento desta mãe no corpo de seu filho), muito menos de emocionar (haja vista a quase inexistente expressão nas interpretações dos atores). O que fica aqui é justamente o entendimento pessoal do espectador.

A falta de trilha sonora em A Vida Após a Vida, sugestão de câmera e efeitos (planos como contra-plongé, contraste de tons de cor), deixam um campo aberto a cada olhar. Pode remanescer, como uma exceção, mais provavelmente a matiz de cores pastéis de que preenchem a tela – em especial na cena de uma majestosa árvore, somado ao esclarecer das cores e afastamento da câmera.

Essencialmente, a morte é trazida aqui como algo tão natural quanto a própria vida. Parece não haver diferença entre nascer e morrer para os fazendeiros chineses. A lenta morte de uma cabra soa tão indiferente quanto o ressurgir de um falecido ente próximo. Talvez a importância da árvore represente a natureza das coisas, o que realmente fica aqui na Terra, se vai, ressurge, e, dessa maneira, se eterniza de alguma maneira. O que isso gera no final é a sensação de que somos todos parte de um todo infinitamente maior. Talvez por isso a vida venha após a vida.  

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FICHA TÉCNICA:
Título original: Zhi fan ye mao
Direção: Zhang Hanyi
Elenco: Zhang Li, Zhang Mingjun
Distribuição: Zeta Filmes
Data de estreia: qui, 25/05/17
País: China
Gênero: drama
Ano de produção: 2016
Duração: 80 minutos
Classificação: 10 anos

Luigi Martini

Estudante de publicidade e futuro professor em estudos da comunicação, tecladista de uma banda alternativa em desenvolvimento e alguém que procura pensar sobre a vida e seus pertences através de filmes.
NAN