CRÍTICA | O ponto alto de ‘Um Homem de Família’ está no seu elenco

Bruno Giacobbo

O que leva uma pessoa a trabalhar bastante? A ambição ou o sentimento de responsabilidade com sua família? Esta questão não fica clara, pelo menos em um primeiro momento, no caso de Dane Jensen (Gerald Butler). Caçador de talentos conceituado, ele chefia uma equipe na empresa de Ed Blackridge (Willem Dafoe). Realmente bom no que faz, sua habilidade é posta à prova quando o chefe decide se aposentar e inicia uma disputa pela cargo de diretor geral da companhia entre Jensen e a ambiciosa Lynn Vogel (Alison Brie). Mais jovem, ela leva uma vantagem em relação ao seu concorrente: é solteira e não tem quem dependa dela. Suas decisões e ações não afetam ninguém a não ser a si mesma. Contudo, nada disto parece incomodar o protagonista de Um Homem de Família (The Headhunter’s Calling), do diretor Mark Williams.

Paralelamente, somos apresentados, aos poucos, ao núcleo familiar de Jensen, que é formado pela esposa Elise (Gretchen Mol) e os três filhos: Ryan (Maxwell Jenkins), Lauren (Julia Butters) e Nathan (Ethan Maclver-Wright). Depois de muitos anos juntos (eles se conheceram na escola), o casal passa por um daqueles momentos de estagnação que qualquer relacionamento mais longo enfrenta. Não falta amor, pequenos gestos e sinais diários entregam isto. Só que alguma coisa está errada e o excesso de trabalho dele não colabora para que esta situação melhore. Talvez falte algo que o faça lembrar da importância de todos a sua volta. Mas o que? Quem sabe um conselho de uma pessoa mais experiente, como o engenheiro Lou Wheeler (Alfred Molina), cliente de Dane, ou o inesperado adoecimento de uma das crianças.

Em sua estreia como cineasta, Williams que já produziu 36 filmes, sendo o mais relevante deles o thriller de espionagem “O Contador” (2016), que conta com Ben Affleck no papel título, dirigiu um dramão com alguns instantes lacrimosos e pra lá de esquecível. A história, escrita por Bill Dubuque, é edificante, sim, mostra o amadurecimento de um personagem crível, que pode ser encontrado em qualquer lar, mas e daí? O que ele traz de novo? Nada. Durante as quase duas horas de projeção, o espectador corre o risco de se sentir aflito com aquela velha sensação de estar vendo tal trama pela enésima vez. O arcabouço é parecido com o de outros longas e este sentimento é acentuado pelo conservadorismo da direção e do roteiro.

O ponto alto de Um Homem de Família está no seu elenco. Famoso pelos filmes onde costuma desempenhar papéis másculos, o escocês Butler, inicialmente, parece não ter conseguido deixar de lado o estereótipo. Sem ser um herói, é o típico macho alfa. No entanto, à medida que a história vai evoluindo, ele dá vazão a uma sensibilidade antes desconhecida em seu personagem e que encontra total amparo em sua mulher, vivida com um misto de dureza e doçura por Mol. Já a atriz  holandesa, egressa de “Boardwalk Empire”, onde interpretou uma vilã inesquecível, enfim mostra a versatilidade necessária para quem quer brilhar no cinema como o fez na televisão. Completando o trio das principais atuações, palmas para Molina que é fundamental para os desdobramentos da história, mesmo com pouco tempo de cena.

Desliguem seus celulares e boa diversão.

TRAILER:


FICHA TÉCNICA:
Título original: The Headhunter’s Calling
Direção: Mark Williams
Elenco: Alison Brie, Gerard Butler, Gretchen Mol
Distribuição: California Filmes
Data de estreia: qui, 18/05/17
País: Estados Unidos
Gênero: comédia dramática
Ano de produção: 2016
Duração: 108 minutos
Classificação: a definir

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
NAN