CRÍTICA #3 | ‘Mulher-Maravilha’ é divertido, bem roteirizado, visualmente envolvente e sonoramente aprazível
Bruno M. Castro
Depois de um ano de produções conturbadas, a DC Comics parece, finalmente, ter acertado o tom.
Sob direção de Patty Jenkins, o longa da heroína que roubou a cena em Batman vs Superman aposta em um enredo revigorante ao gênero encabeçado por Marvel e DC. DC que, após tratar de forma trivial seu dueto de personagens mais conhecidos no mundo e, logo em seguida, nos apresentar o terrível Esquadrão Suicida, até o momento tendia a seguir em derrocada.
‘Mulher-Maravilha’ vem pra mudar um cenário que há muito assombrava a produtora, resgatando um material que se aproxima bastante da qualidade vista em O Cavaleiro das Trevas de Christopher Nolan, considerado por muitos como o melhor filme de super-herói das últimas décadas. Porém, por mais que o longa do morcego seja parâmetro qualitativo, a abordagem explorada por Allan Heinberg se difere bastante do mesmo. Temos mais leveza aqui do que em qualquer outro filme da DC já produzido, o que talvez seja um tentativa de equiparação da empresa à Marvel e seus plots lotados de humor.
Com apoio criativo de Zack Snyder e Jason Fuchs, o roteiro de Heinberg sabe se aproveitar da condição cômica imposta à Diana em doses controladas, sem atrasar muito o desenvolvimento do enredo. Há lógica e cuidado na sucessão de eventos estruturada pelo roteirista, que se utiliza de ferramentas hábeis para moldar a personalidade da protagonista, justificar suas ações do início ao fim da trama e representar o mundo peculiar que a cerca. Embora sua abordagem expositiva não tome rumos fora da curva, um bom trabalho é elaborado em conjunto às equipes de Arte e Efeitos Visuais. Histórias tangentes se intercalam à principal, seguindo-se o material que é encontrado nas HQs no que tange à estruturação narrativa. Nestas, temos a inserção de contos baseados na mitologia grega para situar o espectador à realidade da trama e, a partir daí, emerge-se a oportunidade de progressão narrativa de trato mais histórico, onde surge o envolvimento de conteúdo factual da Primeira Guerra Mundial – parecido com o que se vê nos filmes do Capitão América, mas dotado de maior criticismo. Um único tropeço se vê na falta de representação do impacto das ações de Mulher-Maravilha em escala global, dada a utilização da Primeira Guerra como plano de fundo.
Entretanto, uma heroína por si só – até mesmo uma sendo interpretada pela lindíssima Gal Gadot – não é capaz de conquistar a plateia, e é aí que os vilões fazem o seu papel de confundir, persuadir e aterrorizar. Um deles, especificamente, se baseia no Coringa de Heath Ledger. Não com a mesma voluptuosidade do lendário Ledger, mas é notável, sim, uma homenagem nas entrelinhas, inclusive, havendo a presença de uma cena semelhante a outra protagonizada pelo grande ator em Cavaleiro das Trevas.
O elenco de Kristy Carlson, Lora Kennedy e Lucinda Syson foi muito bem selecionado e cria fôlego para a composição do Universo da obra. Robin Wright e Connie Nielsen criam o choque inicial e representam o amor matriarcal, Chris Pine incorpora um personagem mais humano e de leveza cômica. David Thewlis e Danny Huston representam líderes de diferentes lados e níveis – menção honrosa a Thewlis por sua próspera interpretação. A sempre presente trilha sonora de Rupert Gregson-Williams e a cinematografia elástica de Matthew Jensen também merecem elogio, bem como Hans Zimmer e Junkie XL’s, pela incrível música tema.
‘Mulher-Maravilha’ é divertido, bem roteirizado, visualmente envolvente, sonoramente aprazível e, com certeza, tem lugar entre os melhores filmes de super-herói da década.
TRAILER
FICHA TÉCNICA
- País: Estados Unidos
- Classificação: livre
- Estreia: 1 de Junho de 2017
- Duração: indisponível
- Direção: Patty Jenkins
- Roteiro: Jason Fuchs
- Elenco: Gal Gadot , Chris Pine , Robin Wright , David Thewlis , Lucy Davis , Danny Huston ,Ewen Bremner