CRÍTICA | 5ª temporada de ‘House of Cards’ subestima a inteligência do espectador

Maria Clara Novais

A quinta temporada de House of Cards prometia ainda mais caos na política americana, já que Frank e Claire Underwood terminaram a quarta temporada declarando guerra a ICO, uma organização terrorista, e deixando claro que estão dispostos a fazer o que for preciso para se manterem na Casa Branca. A guerra, entretanto, fica em segundo plano, já que o foco da primeira parte da nova temporada é a eleição presidencial, na qual Frank enfrenta Will Conway (Joel Kinnaman), um político jovem e popular representante da “nova política”, e a segunda parte explora principalmente o processo de impeachment de Frank e a dinâmica entre o casal.

O desenvolvimento de Claire foi um dos ápices da quarta temporada e prometia ser um dos temas a ser aprofundado nessa. Entretanto, a candidata a vice-presidência está apagada nos primeiros episódios e só ganha destaque à medida que se torna mais ambígua, ardilosa e indispensável no jogo político. A atuação precisa de Robin Wright consegue demonstrar o poder da personagem diante da figura do marido e do contexto que a cerca. Ela tem tudo para se tornar a protagonista no decorrer de House of Cards.

Além de Claire desempenhar um novo papel, novos personagens são apresentados e se tornam importantes para o enredo. Mark Usher (Campbell Scott) e Jane Davis (Patricia Clarkson) se aproximam de Claire e Frank e, assim, influenciam muitas das decisões do casal. Entretanto os interesses deles não ficam claros durante o desenvolvimento da série original da Netflix, apenas há a sugestão de que serão peças importantes no futuro.

As atuações impecáveis e afiadas são os pilares que sustentam a quinta temporada. Além de Robin Wright, Kevin Spacey faz um excelente trabalho no papel de Frank, ele consegue transmitir todos os aspectos da personalidade complexa do protagonista. Michael Kelly no papel de Doug, Neve Campbell como LeAnn e  Patricia Clarkson como Jane Davis também merecem destaque por suas atuações.

O paralelo com a política mundial continua a ser um acerto em House of Cards. Hackers que influenciam as eleições; cidadãos proibidos de entrar nos Estados Unidos; o terrorismo e a guerra como ferramentas de distração e processos inconstitucionais e antidemocráticos marcam a temporada.

Entretanto, a ânsia por superar a realidade também leva a série para um abismo de situações inacreditáveis que beiram ao ridículo. O roteiro se perde em vários pontos e a qualidade da história é bem inferior a das temporadas anteriores. Um exemplo do trabalho preguiçoso é a grande revelação de Frank no último episódio, muito difícil de comprar. A ideia não é ruim, mas é mal executada.  Mortes e “acidentes” ocorrem em torno dos Underwood e são completamente ignorados tanto pela imprensa, que têm um núcleo em House of Cards, quanto por outros personagens. Parece que Frank e Claire precisam vencer a qualquer custo e para isso os roteiristas estão dispostos a sacrificar outros personagens e subestimar a inteligência do espectador.

::: TRAILER

::: FOTOS

::: FICHA TÉCNICA

Gênero: Drama
Canal/Plataforma: Netflix
Estreia: 30 de maio de 2017
Criador: Beau Willimon
Produtores executivos: David Fincher, Beau Willimon, Dana Brunetti, Andrew Davies, Joshua Donen, Eric Roth, John Melfi, Kevin Spacey, Michael Dobbs
Elenco: Kevin Spacey, Robin Wright, Sebastian Arcelus, Molly Parker, Gerald McRaney, Kristen Connolly

Maria Clara Novais

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