
‘A Ascensão do Ronin’ é um bom jogo de ação que mistura RPG e soulslike
Felipe de Andrade
O mais recente exclusivo de PlayStation 5 saiu das mãos dos desenvolvedores responsáveis pelo renascimento de Ninja Gaiden. Eles também são os criadores da franquia Nioh, sucesso que bebe da fonte dos jogos soulslike no que se refere a jogabilidade e altas dificuldades.
Uma parceria entre o estúdio japonês Team Ninja e a Sony resultou na criação de Ascensão do Ronin (Rise of the Ronin, no original). Um jogo situado na época do Japão feudal e que se desenvolveu por quase 10 anos. Até que finalmente chegou ao mercado, em março de 2024, como exclusivo do novo console da gigante japonesa.
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O enredo
A campanha se passa por volta dos anos 1860, período conturbado da história onde o Japão. Após três séculos vivendo sob a tirania do xogunato Tokugawa, entra em conflito com os países ocidentais quando seus navios negros chegam e forçam um novo status quo na região. Esta situação cria um novo clima de guerra. Ali, aliados podem se tornar inimigos, dependendo das suas escolhas. ALém disso, alianças são formadas de ambos os lados de uma crescente conspiração que pode e irá ditar o futuro do país.
Em meio a este cenário nós controlamos um samurai que faz parte do clã de assassinos chamado a Espada Secreta. Seus guerreiros recebiam treinamentos em pares desde a infância por sua mestra, a Forjadora, e são conhecidos como as Lâminas Gêmeas. “Separadas são formidáveis… juntas são imbatíveis. As Lâminas Gêmeas estão unidas eternamente pelos laços do destino”.

Sem spoilers
Evitando ao máximo soltar spoilers sobre a história, podemos dizer o seguinte. Durante uma missão dada por sua mestra, a dupla acaba por se separar de forma repentina e violenta. Porém, com nosso personagem conseguindo concluir o objetivo sozinho, retornando para a Forjadora. Logo na sequência, e, após uma batalha dramática e sangrenta, ele deserta do clã e parte em busca de sua Lâmina Gêmea.
A Ascensão do Ronin conta com um modo de criação de personagem bastante completo, onde determinamos o visual da dupla antes de iniciar a campanha. É possível escolher o sexo dos personagens e suas vozes, além do tipo de corpo, de pelos faciais, maquiagem, tatuagens ou cicatrizes, penteados e mais. Podemos manter o visual do protagonista utilizado na divulgação do game. Mas se preferir, criar uma samurai loira de olhos azuis, ou até mesmo um guerreiro de pele negra com dreads no cabelo.
Gameplay
Partindo para o gameplay, que é o principal chamariz deste jogo, logo no início selecionamos dentre cinco estilos de combate que favorecem o uso de algumas armas ou habilidades, como por exemplo o Assassino, que faz bom uso da força e seus atributos, além de favorecer o uso das clássicas katanas e das odachis (espadas longas japonesas) como armas recomendadas.
O Team Ninja colocou em prática sua experiência adquirida ao desenvolver jogos como Nioh, Wo Long, Dead or Alive e Ninja Gaiden, para criar e diversificar ao máximo o sistema de combate de A Ascensão do Ronin. Um grande número de armas de curto alcance, como vários tipos de espadas e lanças, estão à disposição para batalhas, existindo até mesmo a opção de não equipar nenhuma arma e encarar os inimigos com as próprias mãos.

Destravar e equipar
Durante a campanha é possível destravar novas posturas conforme aprendemos novos estilos de combate, sendo possível equipar até três posturas diferentes para cada arma. As posturas podem garantir vantagens ou desvantagens contra os inimigos dependendo das armas ou estilos que eles podem usar, portanto, é vital observar esta comparação antes de encarar cada um deles e fazer alterações no seu equipamento, caso seja necessário.
Com o passar do tempo e do uso das armas, pontos de proficiência aumentam conforme o nível de uso das armas aumenta. Com isso, mais dano nosso personagem irá causar com elas, além de destravar mais alguns bônus passivos. Esta é uma forma de recompensar os jogadores que utilizarem os mesmos tipos de armas por mais tempo.
Armaduras e acessórios
É possível equipar duas armas brancas e também duas armas secundárias de longo alcance, podendo variar entre arcos, fuzis, pistolas, shurikens e até bombas artesanais.
Além de toda a gama de armas disponível, também há diversas partes de armaduras e acessórios para equipar, com cada um deles dando alguns tipos de vantagens passivas, como melhorar o ganho de proficiência com armas, sofrer menos dano, melhorar o ataque, dentre vários outros.
Build
Ainda é possível equipar uma build completa para dar mais vantagem dependendo dos euipamentos das peças. Citando como exemplo a build do Arqueiro com Olhos de Águia, que aumenta a chance de recuperar flechas ao derrotar inimigos; melhora o dano das flechas; faz com que as flechas perfurem capacetes e ainda aumenta a destreza do protagonista de acordo com que mais peças estão em uso ao mesmo tempo.
E finalizando sobre os equipáveis, todos eles estão dentro de um sistema de raridade, em que quanto mais raros, mais fortes serão seus atributos e suas vantagens, lembrando muito o sistema utilizado em diversos jogos com elementos de RPG.

Contrafulgor
A Ascensão do Ronin possui combate frenético baseado em um esquema de parry, chamada aqui de Contrafulgor, que deflete e neutraliza a postura de ataque dos inimigos, deixando-os em pânico e com a guarda aberta, nos dando tempo de realizar combos ou ataques fatais devastadores. Usar a postura adequada pode tornar o combate um pouco menos desgastante, do contrário alguns inimigos podem acabar vencendo a disputa com certa facilidade.
Além do contrafulgor, o ronin pode esquivar ou defender como maneiras de evitar dano, mesmo não sendo as melhores opções durante as lutas. Pois essas podem ser menos arriscadas quando são comparadas com a primeira, pois exigem menos timing e treinamento, em troca de mais Ki para executar as manobras, tendo menor eficácia.
Combates
Falando em Ki, ele é o folego ou vigor do ronin, e todas as ações realizadas por ele consomem a barra de Ki. Durante uma luta, caso esta barra fique vazia, nosso personagem ficará vulnerável por alguns segundos até que a barra volte a encher, o que pode ser fatal, sendo necessário utilizar de alguma estratégia e muitos itens de cura para evitar a morte, principalmente contra os chefões.
Resumindo, o combate do jogo é bem completo, complexo, dinâmico e traz diversos elementos diretamente de Nioh e Ghost of Tsushima, além de um nível alto de dificuldade mesmo no nível médio. Caso você seja um fã ardente do gênero soulslike e queira apimentar um pouco as coisas, é só selecionar o nível difícil e satisfazer o seu gosto por morrer muito mais vezes que o necessário.

Como garantir pontos
Eliminar inimigos, realizar missões e objetivos secundários garantem pontos que podem ser gastos na guia de atributos em suas quatros árvores de habilidades baseadas em força, destreza, charme e intelecto. Com força melhorando atributos ligados ao poder da arma principal e da vida, e com intelecto aumentando o conhecimento sobre remédios e sua aptidão para fazer negócios, por exemplo.
Durante a exploração do mundo aberto existem diversas atividades espalhadas pelo mapa, sendo possível coletar materiais para criação de itens, saquear depósitos e baús de tesouros, caçar fugitivos e restaurar a ordem pública eliminando inimigos, encontrar santuários para rezar, salvar gatinhos perdidos, e até tirar fotos para um estúdio fotográfico. Ao realizar cada uma dessas ações diversas recompensas são liberadas, indo de pontos de habilidade a dinheiro e equipamentos diversos.
Locomoção
Para se locomover pelos cenários é possível além de correr, montar um cavalo para se deslocar em maior velocidade, fazer uso de um gancho para subir em locais altos como torres e templos (além de ambos também poderem ser usados durante o combate), e por fim, temos Avícola, uma máquina voadora utilizada para planar ao saltar de um lugar alto. Também é possível acender Estandartes de Espada Secreta que servem como pontos de viagem rápida entre os mapas.
Tentar realizar todas as tarefas das áreas do mapa é muito satisfatório, apesar de repetitivo. Até porque tudo o que fazemos sempre garante alguma recompensa válida, e os combates contra os inimigos mais fortes das áreas sempre são divertidos.
Completando objetivos
Ao realizar os objetivos de uma área, aumentamos o elo com a região no processo, descobrindo a localização de estandartes, fugitivos, gatos e baús, além de outras informações ocultas. E ao completar 100% dos objetivos de cada área somos recompensados com pontos de habilidades e alguns itens valiosos.
Da mesma forma que com as regiões do mapa, também é possível manter elos com diversos personagens que aparecem durante a história. Realizar missões em conjunto e até treinar com cada um deles garante pontos de elo que elevam um nível de parceria entre ambos. É possível até mesmo dar presentes aos amigos para acelerar a evolução dessa parceria. A cada novo nível alcançado somos recompensados de diversas formas, seja com novos níveis de estilos de luta, pontos de habilidade, novos golpes e até equipamentos de raridade elevada e que fazem bastante diferença durante o gameplay.

Aspectos técnicos e desempenho
Com relação aos aspectos técnicos e o desempenho, podemos dizer que este não é um título que justifique a sua exclusividade na nova geração de consoles. O jogo parece sofrer com um gargalo em seu desempenho que sempre causa queda de framerate, não importando qualquer dos 3 modos gráficos seja selecionado.
Em priorizar gráficos ou traçado de raios, o visual tem preferência em detrimento do fps, com o sistema tentando deixar o jogo mais bonito com melhores efeitos de iluminação e resolução mais alta possível, mas com travamentos a todo momento.
Selecionando priorizar fps, o jogo roda com fluidez mais constante, ainda que com uma resolução menor. Entretanto, ainda há momentos com quedas de quadros visíveis, mas que não chegam a atrapalhar a partida.
Bugs
Alguns poucos bugs puderam ser observados com o jogo crashando uma vez e fechando sozinho, uma outra vez onde ele travou logo no modo de criação, me obrigando a fechar e abrir o jogo novamente. Também foi possível observar inimigos ficando presos em objetos do cenário ou girando diversas vezes em um ponto fixo no chão. São coisas que não atrapalham em nada a experiência, mas ainda assim quebram a imersão a todo momento.
Apesar de possuir um bom design de mapas e cenários buscando ser fiel ao período da história do Japão que representa, A Ascensão do Ronin possui um visual aquém do esperado e que não faz jus ao o poder do PlayStation 5 em nenhum momento, parecendo muito mais um título de geração passada.
Ponto positivo
Ponto positivo para os personagens que, no geral, possuem visual criativos e boa variação de animações durante os combates, apesar das animações faciais serem apenas razoáveis. E ponto negativo para tudo o que se relaciona à água, com péssimos efeitos de iluminação presenciados em qualquer parte do literal do mapa, passando por uma chuva completamente artificial e chegando ao fato de que os personagens saem completamente secso após um mergulho.
Português BR
O título tem uma boa localização em português e ainda veio com dublagem em nosso idioma, mesmo que isso não tenha recebido divulgação por nenhum dos responsáveis pelo projeto. Inclusive temos a disposição duas vozes masculinas e duas femininas para selecionar no modo de criação. Mas infelizmente a grande maioria dos diálogos dos protagonistas acontecem por meio de opções de frases escritas na tela, com sua voz ficando reservada às animações e cenas de corte específicas.
Dualsense
Apesar deste ser um título lançado com exclusividade para o PS5, não existe qualquer funcionalidade extra referente ao controle dualsense. Ficando restrito apenas a vibração padrão e 1 led aceso apenas para indicar que o controle está ligado. Uma boa oportunidade perdida que poderia aumentar a imersão por parte do jogador, visto que há uma grande variedade de oportunidades em que o estúdio poderia explorar ao máximo o feedback tátil do controle.
Multiplayer
Assim como ocorre em alguns jogos soulslike, existe um modo multiplayer onde outros jogadores podem influenciar a nossa campanha e vice-versa. Podemos encontrar ronins de jogadores conectados em alguns momentos, seja como alvos de sequestradores e ladrões, durante algumas missões secundárias, ou ainda vagando pelo mapa esperando para receberem desafios a qualquer momento para um duelo, deixando para trás itens de qualidade quando abatidos.
Outra forma de interagir online é durante algumas missões principais onde podemos convidar até 2 amigos para participar de batalhas contra chefes ou missões mais complexas do modo história. Infelizmente este último ficou impossibilitado de receber testes devido à escassez de jogadores no momento dos testes para a escrita desse review.
Veredito
Após anos de desenvolvimento pelos prestigiado estúdio Team Ninja e da divulgação massiva de A Ascensão do Ronin como sendo um exclusivo de PlayStation 5, o público esperava que este fosse um título mais polido visualmente e otimizado em seu desempenho para justificar seu lançamento para apenas para a nova geração de consoles da Sony.
Ainda assim, com todos seus poréns, este é um bom jogo de ação com samurais, elementos de RPG e com uma pitada de soulslike. Mesmo não sendo tão bom quanto Ghost of Tsushima em todos os aspectos, sua jogabilidade dinâmica e hardcore consegue carregar bem suas várias horas de campanha.
Por fim, não deixe de acompanhar o UltraCast, o podcast do Ultraverso que fala sobre Cultura Pop.
Prós
- variedade de armas
- Jogabilidade desafiante
- história épica
- boas batalhas contra chefes
- localização de qualidade
Contras
- gráficos aquém do esperado
- repetição de objetivos secundários
- trilha sonora discreta
- Tutoriais em excesso
Notas
- gráficos 3
- jogabilidade5
- áudio 3
- história 4
- Diversão 5
- Média geral 4