‘A Boa Esposa’, uma escola de esposas ideais não reais
Ana Rita
Propondo uma crítica e reflexão leve sobre a França pouco antes dos movimentos de Maio de 1968, o filme A Boa Esposa (La Bonne Espouse), traz Paulette Van Der Beck, uma esposa bela, recatada e do lar, vivida pela grande atriz Juliette Binoche.
Paulette ensina, juntamente a Gilberte e a irmã Marie-Therese, jovens meninas a como serem boas esposas, a cuidarem do seu futuro lar, dos filhos e do marido no Instituto Van Der Beck.
Em uma sociedade mais conservadora que a atual, as famílias enviavam suas filhas para instituições de ensino do lar, no intuito de que essas meninas fossem ‘capazes’ de conquistar e cuidar de seus maridos, afinal, até hoje, muitos acreditam que o papel da mulher é terminar de educar os maridos.
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Sendo uma boa esposa
Logo no inicio dessa comédia francesa são apresentados por Paulette os 7 Pilares que farão das meninas donas de casa ideais. Incluindo até a responsabilidade sobre a higiene corporal dos filhos e marido. O ensino se divide em três ambientes do Instituto, com atividades e aulas direcionadas a como agradar o marido, cuidar da casa, uma vez que, como dito, é responsabilidade da esposa o bom andar da casa. A prioridade é manter o lar estruturado.
O interessante é como a hipocrisia dos personagens é desenvolvida e exposta. Em especial, a de Robert Van Der Beck, marido de Paulette, irmão de Gilberte, e dono do Instituto. O marido é um total encosto, preguiçoso, não faz nada, precisa ser cuidado, monitorado e mimado pelas mulheres com quem convive. De modo discreto e com um certo teor cômico (um tanto quanto incorreto), vemos que Robert é também um velho pervertido, que gosta de espiar as alunas em suas atividades.
Os personagens são uma espécie de caricatura, tudo na intenção de elevar a comédia e trazer uma leveza aos assuntos tratos, deixando claro o qual ridícula são essas ideias conservadoras e machistas.
A própria protagonista tem trejeitos de robô. Juliette Binoche dá ao seu personagem também uma voz doce e suave, sendo assim, o “sonho de esposa” de qualquer homem. Gilberte é a irmã solteirona, a esquisita, e até infantilizada, que foi ignorada pela família estruturada no patriarcalismo, mas ainda pura e ingênua. Por último, temos a irmã Marie-Therese, que além de ensinar as futuras jovens esposas ideais, age como capataz e é extremamente conservadora, como por exemplo na chegada de uma das alunas que é ruiva, e é trata como um ser pecador e desconhecido, e Paulette interrompe a freia e diz que não estão mais na Idade Média.
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Feminismo
Como dito, o filme A Boa Esposa retrata de forma cômica um França que entrava nas mudanças pré Maio de 1968. As educadoras do Instituto, em especial a Sra. Van Der Beck já notam os sinais de novos tempos. O número de alunas está reduzindo a cada ano, assim como as meninas estão mais “arredias”, não querem obedecer nem se preocupam com seus futuros, muitas vezes ainda inexistentes, maridos.
Em muitos momentos, notamos também as discretas conversas das alunas sobre mulheres feministas. Elas discutem sobre boatos e o “negativo” de ser feminista. Em uma cena em especial, as quatro alunas com maior destaque no filme estão fazendo a colheita de Tubérculos. Afinal, Robert não pode deixar de comer seu prato favorito com a planta. Além disso, tem-se a primeira menção sobre o feminismo. Isso tudo de forma natural.
Ao longo do filme certos pontos são expostos para reflexão, da liberdade da mulher, a sua não opção de escolha, a necessidade do casamento e de obedecer ao marido, e até a imposição da sexualidade hétero.
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Despertar
Como de fato aconteceu e acontece em nossa sociedade, com o machismo, a mulher como serviçal, a pressão exercida pelo patriarcalismo e misoginia, as meninas começam a se “rebelar” e até surtar. Esse fato, junto à redução no número de alunos, bem como um desejo de liberdade ainda enrustido em Paulette, são culminantes para um futuro despertar sobre essas injustiças e uma vontade de equidade que será desenvolvida.
Falando também de romance, a personagem de Juliette Binoche reencontrará seu velho primeiro amor. Um homem também apaixonado que ajudará a mostrar a liberdade e despertará sobre como a mulher deve ser tratada, assim como a importância de se libertar dos padrões impostos. Principalmente os quais ensina no Instituto.
O ato final é uma bela performance e homenagem a grandes mulheres na história do mundo, combinado a estética proposta no filme, figurinos coloridos e fofos, e um universo estilisticamente mágico.
Enfim, A Boa Esposa é aquele filme leve, com belas reflexões de um assunto que parece ser batido. Entretanto, há muito o que ser discutido, uma vez que, nós mulheres ainda não chegamos a uma igualdade de gêneros.
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Trailer do filme ‘A Boa Esposa’
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Ficha Técnica
Título original: La Bonne Espouse
Direção: Martin Provost
Elenco: Juliette Binoche, Yolande Moreau, Noémie Lyovsky
Onde assistir ao filme “A Boa Esposa”: nos cinemas
Distribuição: California Filmes
Data de estreia: qui, 17/06/21
País: França
Gênero: Comédia
Duração: 109 minutos