‘A Caminho do Céu’ (Netflix) encara a morte com outros olhos
Fernanda Fernandes
Terminar algo nunca é fácil, conversar sobre términos menos ainda. No entanto, a série A Caminho do Céu (Move to Heaven), dorama (drama sul coreano) lançado pela Netflix em 14 de maio deste ano, nos convida a olhar esse assunto mais de perto. Na série de dez episódios, acompanhamos a história de Han Geu-Ru (Tang Joon-Sang) após a morte de seu pai.
Com a perda, as coisas começam a se complicar para Geu-Ru, um jovem de 20 anos com síndrome de Asperger. Agora sob a tutela provisória do tio, Cho Sang-Gu (Lee Je-Hoon), ele precisa cuidar da Move to Heaven, empresa de limpeza de traumas que trabalhava junto do pai.
Contudo, como todo bom drama coreano, a narrativa sempre vem cheia de adversidades e plot twists. Afinal, Sang-Gu é um ex-presidiário com um passado triste e ele está somente interessado na oportunidade de conforto que a tutela pode lhe oferecer.
Um grande destaque da série A Caminho do Céu é a dinâmica dos personagens e a atuação dos intérpretes de Cho Sang-Gu e Han Geu-Ru. Em muitos momentos, é possível esquecer que o que está sendo assistido é somente ficção.
CRÍTICA COM SPOILERS!
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A morte
Embora a narrativa aconteça com o foco no passado de Sang-Gu e de Geu-Ru, a Move to Heaven se destaca por trazer à tona discussões sobre a morte. A empresa que os dois tocam, ao lado da Yoon Na-Mu (Hong Seung-Hee), é responsável por limpar os pertences daqueles que já faleceram.
A limpeza realizada no primeiro episódio abre bem esse debate trazendo a morte de um jovem de 18 anos que acabara de ser efetivado no trabalho. Ele sofre um acidente no trabalho, a ferida infecciona e infelizmente, o rapaz falece.
Vemos um misto de descaso da empresa dele com o ocorrido e o luto de uma mãe e um pai pela perda do jovem, o que traz à mente a morte do comediante Paulo Gustavo no começo de maio. Além disso, a forma que a Move to Heaven busca contar a história daquele que se foi é impecável.
Cada episódio é um caso diferente, mostrando situações em que a família está interessada somente no dinheiro, em que não há família alguma, em que um assassino quase se safou de ter matado a namorada ou até mesmo quando a família mais próxima que aquela pessoa tem mal a conhecia. Tudo isso com muita delicadeza e uma busca do diretor da série Kim Sung-Ho de agregar, de forma crítica, uma diversidade grande de narrativas.
Dois Irmãos
O arco da trama que mais se destaca durante boa parte da série A Caminho do Céu é o passado de Cho Sang-Gu ao lado do irmão, e pai de Geu-Ru, Han Jeong-U (Ji Jin-Hee). O dorama procura atingir uma ideia de que não há mocinho ou vilão na história de Sang-Gu.
Ao mesmo tempo que o Sang-Gu é deixado para trás pelo irmão mais velho, no dia em que Jeong-U marcou de ir buscá-lo ele sofre um acidente e passa meses hospitalizado.
Outro ponto forte da narrativa de Sang-Gu é o garoto que ele treinou para ser boxeador profissional, Kim Su Cheol (Lee Jae-Wook), o qual é o motivo de Sang-Gu ter sido preso. Os dois participam de uma luta ilegal, por conta de uma dívida, e Su-Cheol acaba no hospital. Algo marcante é que o garoto foi uma espécie de aprendiz de Sang-Gu, a forma dele realizar um sonho que ele não poderia mais viver.
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Adoção
Paralelamente, a série A Caminho do Céu traz um tema delicado para a mesa, a partir de um dos clientes da Move to Heaven: a adoção de bebês no exterior. Matthew Green (Kevin Oh) é o dono dos pertences que a empresa é contratada para limpar do episódio nove. O rapaz havia sido adotado por uma família americana quando era bebê, no entanto, a família decide que não o quer mais após descobrir que o garoto tinha problemas cardíacos.
Deste momento em diante, Matthew que não havia recebido cidadania americana ou coreana, se torna um apátrida – indivíduo que não é considerado de nenhuma nacionalidade – e fica morando nos EUA. O jovem decide ir para a Coreia do Sul em busca da mãe biológica, a qual se recusa a vê-lo. Por fim, o garoto morreu em decorrência dos problemas cardíacos no quarto de um hotel.
A narrativa de Matthew se torna ainda mais relevante quando descobrimos a razão que levou o protagonista Han Geu-Ru a ser adotado por Jeong-U. A princípio, quando ele foi encontrado pelo pai, uma das sugestões para a adoção do bebê era que ele fosse para o exterior. De antemão, Geu-Ru compreende muito bem que talvez ele pudesse ser recusado pela família por conta da síndrome de Asperger.
Pontas Soltas
O final da série A Caminho do Céu se torna bastante instigante após os inúmeros encontros e desencontros que formam a narrativa. Enquanto todo o drama acontece, Sang-Gu ainda deve dinheiro para a Madame Jung (Jung Ae-Youn), uma das responsáveis pelas apostas em lutas ilegais. Todavia, acontece uma operação policial no local em que as lutas aconteciam, mas Madame Jung escapa.
Contudo, outra cliente aparece na Move to Heaven, Cha Eun-Byeol (Lee Re), buscando contratar uma limpeza também para Cha Eun-Byeol e os créditos sobem deixando para nós a dúvida de como e porquê a garota sabe que irá morrer.
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TRAILER DA SÉRIE ‘A CAMINHO DO CÉU’ (NETFLIX)
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FICHA TÉCNICA
Título original: Move to Heaven
Temporada: 1
Episódios: 10
Direção: Kim Sung-Ho
Elenco: Lee Je-Hoon, Tang Joon-Sang, Hong Seung-Hee, Ji Jin-Hee
Onde assistir à série ‘Move to Heaven’: Netflix
Data de estreia: sex, 14/05/21
País: Coreia do Sul
Gênero: drama
Ano de produção: 2020
Classificação: 16 anos