‘A Felicidade das Coisas’ e a sensibilidade de enxergar onde não se vê
Wilson Spiler
Premiada curta-metragista, diretora de filmes como L e Os Irmãos Mai, Thais Fujinaga estreia na direção de longas com A Felicidade das Coisas, que ganhou o prêmio da Associação Brasileira de Críticos de Cinema, a Abraccine, na Mostra Internacional de Cinema em São Paulo de 2021, e também o prêmio de roteiro e atriz coadjuvante (Magali Biff), no FestCine Aruanda, também do ano passado.
Na trama, Paula (Patrícia Saravy) tem 40 anos e está grávida de seu terceiro filho. Com as crianças, ela se hospeda na modesta casa de veraneio que a família comprou há pouco, no litoral paulista. Além dos filhos, ela também conta com a presença de sua mãe (Biff). Entre as melhorias que pretende fazer no imóvel está construir uma piscina, mas as coisas não se mostram muito favoráveis a esse sonho. Ao mesmo tempo, seu filho adolescente está se afastando dela, descobrindo um novo mundo na medida em que amadurece.
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Analogia com a situação do país
O roteiro, também assinado pela cineasta, faz analogias entre os acontecimentos mais concretos do filme com a situação do Brasil num delicado momento. Em 2019, quando foi rodado, o país estava em meio a um revés político, social, cultural e econômico. No Durante as filmagens, a ANCINE estava sendo destruída pelo atual governo. Por isso, o primeiro longa de Thais Fujinaga poderia ser o último.
A protagonista é uma mulher que experimenta uma espécie de ressaca, o refluxo de todas as coisas pelas quais ela ansiava, mas não podia ter. Mas, através dela, podemos perceber como o amor materno pode se revelar de formas tortuosas, afetado por sentimentos de ressentimento e de culpa. Ela luta contra as impossibilidades materiais como uma forma de escapar de suas frustrações e trazer alegria para a vida de sua família. Seus esforços acontecem no campo do consumo, como ter uma piscina, por exemplo. Diante de todo esse contexto, o sonho de Paula tem um simbolismo de um ‘quase lá’, da felicidade que tinha que ser adiada.
Simples, mas profundo
A Felicidade das Coisas pode parecer uma trama simples de realização de sonhos, mas tem uma profundidade muito humana em todos os seus pontos. Desde a veracidade das atuações até a mão da direção em alternar entre planos mais fechados – para sustentar a ideia de agonia – e abertos, ao conduzir diálogos entre as partes envolvidas, numa espécie de reconciliação.
A fotografia com luz natural ajuda a transmitir toda essa ideia de simplicidade que o filme transborda, bem como diálogos condizentes com o que ele apregoa. O ritmo mais lento e a sensação de não acontece muita coisa (mas acontece), podem deixar o espectador mais acostumado a blockbusters entediado. De fato, A Felicidade das Coisas é um filme para um cinéfilo mais sensível, que enxerga os detalhes por uma ótica distinta. E isso não é bom nem ruim. É apenas diferente.
Onde assistir ao filme A Felicidade das Coisas?
A saber, A Felicidade das Coisas estreia nos cinemas brasileiros no dia 19 de maio de 2022.
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Por fim, não deixe de acompanhar o UltraCast, o podcast do Ultraverso:
Trailer do filme A Felicidade das Coisas
https://youtu.be/KJymWa-P1tc
A Felicidade das Coisas: elenco do filme
Patrícia Saravy
Magali Biff
Messias Gois
Lavinia Castelari
Ficha Técnica
Direção: Thais Fujinaga
Roteiro: Thais Fujinaga
Duração: 87 minutos
País: Brasil
Gênero: drama e comédia
Ano: 2020
Classificação: 16 anos