A Luz no Fim do Mundo (1)

‘A Luz no Fim do Mundo’ | CRÍTICA

Paulo Cardoso Jr.

Uma boa ideia desperdiçada.

A história de A Luz no Fim do Mundo (Light of my Life) pode até parecer familiar, mas mesmo assim gerava boas expectativas. Depois que o mundo foi atingido por um vírus altamente mortal e dizimado quase todas as mulheres do planeta, voltar à vida normal parecia um desafio impossível. No meio desse caos, um pai (Casey Affleck, o “irmão do Batman” e que também escreveu e dirigiu) vive recluso numa floresta junto com a sua filha Rag (Anna Pniowsky). O motivo da reclusão é justamente o medo de alguns homens descobrirem que a criança que ele tem não é um menino e sim uma menina. Num mundo pós apocalíptico onde mais de 90% da população feminina morre, já dá para imaginar que ter uma “mulher” ao seu lado é motivo de muita preocupação.

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Ensaio sobre a Cegueira

A trama, exibida pela primeira vez no Festival de Berlim de 2019, chega a lembrar “Ensaio sobre a Cegueira”, de José Saramago, e você, desde o início, fica imaginando mil situações de tensão que poderiam acontecer. Qualquer figura masculina que aparece já é encarada como uma possível ameaça, mas só fica na imaginação. De tempos em tempos, pai e filha vão até a cidade buscar alguns mantimentos (sim, as mulheres praticamente desapareceram, mas o mundo não acabou!), e Rag, de apenas 11 anos, se veste com roupas de menino, tem cabelo curto e, como ainda não tem corpo de mulher, é bem franzina e evita falar ao máximo, então, passa despercebida por onde anda.

Pai e filha vivem praticamente com nômades, não demorando mais que alguns meses nos acampamentos que montam. Rag, não entende porque não podem se estabelecer e tentar levar uma vida mais calma, sem saídas de emergências, sem planos de fuga e sem ter que ficar todas as noites cumprindo rituais de segurança estabelecidos pelo seu pai. Toda essa tensão chega e nada acontece. Sempre que alguma situação fora do esperado ocorre, o pai sempre tem uma saída, seus planos sempre funcionam e o filme acaba ficando monótono, assim como sonolento. Você fica com aquela sensação: “Agora vai! Agora vai!” Mas nada acontecia.

A Luz no Fim do Mundo
Química inegável e só

A química e interpretação dos personagens principais é inegável, mas o clímax é deixado muito para o final. Mais precisamente nos últimos 10 minutos é que alguma ameaça vai se concretizar, entretanto o desfecho não tem nenhuma lição maior, não deixa em aberto alguma solução ou continuação. Parece besteira, mas o longa simplesmente acaba.

Entre mortos e feridos, bem… não vou comentar porque quase metade da população mundial morre em A Luz no Fim do Mundo, mas bem que Casey Affleck poderia caprichar mais na ação como tomou cuidado com a fotografia, que é excelente. Acho que com uma pandemia, ainda mais tirando praticamente a presença de um dos sexos, poderia se tirar situações bem mais sombrias e sinistras. Nada de zumbis ou terror, mas explorar mais da natureza humana. Às vezes, penso que faltou ousadia em colocar não só uma mulher (menina), mais uma criança em situações de risco extremo. Quem saiu perdendo nessa foi espectador. Uma pena, uma boa ideia desperdiçada. Até a próxima.

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Título original: Light of my Life
Direção: Casey Affleck
Elenco: Casey Affleck, Anna Pniowsky, Tom Bower
Distribuição: Imagem
Data de estreia: qui, 17/10/19
País: Estados Unidos
Gênero: drama
Ano de produção: 2017
Duração: 119 minutos
Classificação: 14 anos

Paulo Cardoso Jr.

Jornalista formado pela PUC-RJ e Pós Graduação em "Comunicação com o Mercado" pela ESPM-RJ.
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