Filmes sobre caso Suzane Richtoffen deixam gosto de clássico moderno nacional
Pedro Marco
Não é de hoje que o entretenimento alimenta o estranho fascínio por assassinos, psicopatas e demais, a fim de tentar compreender a conturbada mente que leva a cometer tais crimes. No Brasil, a característica música do plantão da Globo aciona o gatilho que levou o país a acompanhar casos históricos como o de Eloá Pimentel; bem como Eliza Samudio; Isabella Nardoni; e de Suzane von Richthofen, a menina que matou os pais.
E foi nesta busca por clareza dos fatos que a investigadora, autora e criminóloga Ilana Casoy desenvolveu uma larga pesquisa sobre o caso em formato de um livro chamado O Quinto Mandamento: Caso de Polícia e publicado em 2009 pela Ediouro. Obra republicada alguns anos depois pela Darkside Books na compilação Casos de Família. E, claro, com uma história tão ímpar onde uma garota de classe média alta, trilíngue e interessada nos estudos acaba se envolvendo no assassinato de seus pais, não tardaria a ganhar seus holofotes em forma de um filme.
Pontos de vista diferentes
Planejado originalmente para serem lançados nos cinemas, os filmes A Menina que Matou os Pais e O Menino que Matou Meus Pais estreiam no dia 24 de setembro no serviço de streaming do Amazon Prime Video com uma proposta extremamente interessante. Um lançamento duplo com versões baseadas nos depoimentos de Suzanne (Carla Diaz) e de Daniel (Leonardo Bittencourt).
Não é a primeira vez que presenciamos este formato de dois filmes contando lados diferentes da mesma história. Vale lembrar os clássicos Cartas de Iwo Jima e A Conquista da Honra, de Clint Eastwood. Mas trazer esta ideia para um filme de tribunal onde os dois réus acusam um ao outro foi um primor que merece ser explorado com novos ares no cinema.
Com direção assinada por Maurício Eça (Carrossel) e roteiro da própria Ilana Casoy junto com Raphael Montes (dupla por trás de Bom Dia, Verônica), os filmes A Menina que Matou os Pais e O Menino que Matou Meus Pais funcionam de forma complementar, mesclando cenas repetidas, que são citadas em um longa e mostradas no outro. Mas seu grande tesouro mesmo são as mesmas situações atuadas com tons, falas e consequências diferentes, como um jogo dos sete erros totalmente imersivo.
O caso Suzane Richtoffen, a menina que matou os pais
A história acompanha Suzane e seu namorado Daniel desde três anos antes do fatídico ocorrido em 2002, até o caótico tribunal em 2006. Com uma química surpreendente entre o casal, o público é levado a uma confusa empatia pelos personagens que cometeram um dos mais horrendos crimes possíveis.
Direção competente, mas…
O elenco complementar que interpreta as famílias Cravinhos e Richtoffen acabam sendo os melhores e piores elementos do filme. Certamente o maior mérito fica para a interpretação genuína de Allan Souza Lima como o cúmplice Cristian Cravinhos. Mas isso, infelizmente, não consegue apagar a incômoda diferença de atuações entre os demais coadjuvantes, que acabam tirando a atenção do espectador e dando um ar negativo de novela em algumas cenas-chave.
A direção de Eça também tem grande competência na complexa tarefa de mostrar os dois lados da mesma história, usando de soluções inventivas e que comunicam de forma extremamente assertiva. Entretanto, muitas destas soluções acabam não sendo aproveitadas por muito tempo. Como a interessantíssima narração mesclada com as lembranças e sendo atrapalhadas por uma edição que vai de cortes secos para cenas psicodélicas exageradamente longas, por exemplo.
Obras conectadas
Por fim, os filmes A Menina que Matou os Pais e O Menino que Matou Meus Pais acabam se agarrando a necessidade de serem vistos juntos, sem conseguir se sustentarem como obras únicas por falta de uma conclusão após o grande clímax. Apesar de mostradas em manchetes de jornal nos créditos iniciais, as três horas que somam os dois filmes deixam um vácuo no público ao deixar sem entender o que ocorreu entre o assassinato e o tribunal em suas repercussões e acusações, que poderiam vir a ser muito mais instigantes para a história do que os longos clipes musicais do namoro do casal.
Sem um martelo batido para concluir a versão real dos fatos, os longas tentam deixar em aberto para o público a decisão de quem esteja falando a verdade. No entanto, falha ao criar uma figura visualmente perturbada e doente em Suzanne, que, acrescida do conhecimento popular de ser a grande culpada pelo ato, sai desacreditada na sua versão.
Apesar destes fatores, ao serem assistidos juntos os filmes A Menina que Matou os Pais e O Menino que Matou Meus Pais deixam um gosto de clássico moderno do novo cinema nacional. Ao nível de cinebiografias como as de Bruna Surfistinha e Tim Maia, podendo ser lembrado positivamente ao longo dos anos e abrindo espaço para estudarmos a mente de outros assassinos brasileiros nos cinemas.
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Trailer do filme A Menina que Matou os Pais – O Menino que Matou Meus Pais, do Amazon Prime Video
A Menina que Matou os Pais – O Menino que Matou Meus Pais: elenco do filme (Amazon Prime Video)
Carla Diaz
Leonardo Bittencourt
Allan Souza Lima
Kauan Ceglio
Leonardo Medeiros
Vera Zimmermann
Augusto Madeira
Debora Duboc
Marcelo Várzea
Fernanda Viacava
Gabi Lopes
Taiguara Nazareth
Ficha Técnica
Título original do filme: A Menina que Matou os Pais – O Menino que Matou Meus Pais
Direção: Mauricio Eça
Roteiro: Ilana Casoy, Raphael Montes
Onde assistir o filme ‘A Menina que Matou os Pais’ – ‘O Menino que Matou Meus Pais’: Amazon Prime Video
País: Brasil
Gênero: drama, policial
Duração: 103 minutos
Ano de produção: 2019
Classificação: 12 anos