‘A ORDEM MÁGICA’ de Mark Millar e Oliver Coipel | RESENHA
Eduardo Cruz
Mark Millar é um mago! Ou pelo menos um ótimo ilusionista. Espécime tardio da Invasão Britânica, seus truques de salão vêm entretendo a gente desde os anos 90, e seu ápice talvez tenha sido durante sua passagem pela Marvel, quando criou Os Supremos, versão Ultimate dos Vingadores – trabalho que se tornou a base para o bem sucedido universo cinemático da Marvel – , e o faroeste pós-apocalíptico O Velho Logan, ambos clássicos da Marvel (SIM, a Marvel TEM clássicos!), além da saga Guerra Civil.
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Tudo isso eventualmente foi adaptado e virou filme. Talvez tenha sido em algum momento dessa época que Millar adquiriu seu maior vício: Escrever HQs visando uma possível adaptação cinematográfica. Ele também fez bonito na Wildstorm. Não deixou a bola cair depois que Warren Ellis largou o Authority, criou o polêmico (só no Brasil, país onde o nerd lê e não entende nada),Superman comunista de Entre a Foice e o Martelo. Por fim acabou criando seu próprio universo, o Millarworld, com HQs bacanas como O Procurado, Kick-Ass e O Legado de Júpiter, e outras nem tão bacanas assim como MPH, Renascida, Supercrooks, Imperatriz e Kingsman (O filme foi muito melhor rs).
Decerto, por mais louvável que seja toda a iniciativa do Millarworld, na prática é algo em torno de uma dúzia de HQs bem medianas, pensadas para terem seus direitos vendidos para Hollywood, com todos os clichês e vícios narrativos que isso envolve. Já gerava na redação essa expectativa de material-fraco-com-um-desenhista legal, invariavelmente. Mas de vez em quando o ilusionista tem que dar uma sacudida no repertório.
Agora, seu mais novo truque consiste em dar aos leitores um alento de criatividade após essa sequência de trabalhos sem brilho. A princípio, A Ordem Mágica passava a impressão de que seria uma repaginação de Harry Potter com o massaveísmo Millariano embalando tudo em mais uma HQ que ansiava virar filme – ou série, haja visto que o Millarworld foi comprado pela Netflix.
A FAMÍLIA BLACKSTONE
A mágica, ou melhor, o ilusionismo fica por conta do plot tão básico, mas ao mesmo tempo tão bem trabalhado: A família Blackstone, uma antiga linhagem de magos, é responsável pela segurança de nosso mundo, e sua principal incumbência é a guarda de um grimório tão antigo e poderoso que os feitiços contidos nele, no passado, foram responsáveis por apagar Atlântida do mapa. Mas é claro que existem mãos erradas querendo se apossar do tomo, e pouco a pouco, os membros da família Blackstone e seus aliados vão sendo executados sistematicamente (e criativamente), em uma série de assassinatos mágicos.
Como A ORDEM MÁGICA é uma HQ do Millar, claro que existe um membro da família que é poderoso e habilidoso o suficiente para acabar com a ameaça. Ademais, é claro também que, devido a uma tragédia familiar de seu passado, esse Blackstone relutante se recusa a voltar à sua realidade anterior para auxiliar sua família, optando por viver uma vida “normal”. E é claro que acontece alguma merda grande o bastante para sacudi-lo de sua inércia inicial, obrigando-o a tomar parte nessa guerra secreta, que acontece debaixo de nossos narizes, abaixo da superfície da realidade.
Em A ORDEM MÁGICA, felizmente, Millar quebra o padrão preguiçoso dos últimos anos e entrega uma história divertidíssima. Está possui reviravoltas que parecem previsíveis, mas que ainda conservam algumas surpresas ao longo do caminho. Tais como bons diálogos e bons momentos de interação entre os personagens verdadeiramente tocantes. Assim, não há ‘ceninhas’ piegas como vimos em algumas das suas HQs anteriores. Antagonistas realmente escrotos, daqueles que dá vontade de mergulhar página adentro pra lhes torcer o pescoço. Uma grata surpresa depois de tanto trabalho ruim. Assim, sobre a arte não há muito a falar: Olivier Coipel (Thor: O Renascer dos Deuses) exibindo sua costumeira competência. Este é quem ilustra maravilhosamente essa HQ, que dá pra falar com tranquilidade que se não está entre as dez melhores desse ano, pelo menos entra facilmente no top 10 das mais divertidas.
Alan Moore pode ser o bruxão, o xamã, o autêntico pajé que se importa mais com a arte do que com o dinheiro. Ademais, é isto que isso coloca Millar como o Paulo Coelho dos gibizinhos. Também se torna o mago da prosperidade, que transcendeu a existência mundana e mesmo assim está mais endinheirado que o Tio Patcheenhas? Acendam aí um incenso, meditem sobre a cuestão e respondam nos comentários. Vou executar meu truque de desaparecimento, e nos vemos na próxima RR.
RESENHA CEDIDA GENTILMENTE POR EDUARDO CRUZ (@eduardo_cruz_80) EM PARCERIA COM O SITE ZONA NEGATIVA.
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