‘A Tabacaria’ | CRÍTICA
Beatriz Trindade
O filme alemão A Tabacaria estreou nesta quinta-feira (05/09) nos cinemas brasileiros. O longa promete emocionar a todos com a história de Franz (Simon Morzé) que trabalha na tabacaria em que Sigmund Freud (Bruno Ganz) é cliente e então estabelece uma relação de amizade com o intelectual, que passa a dar conselhos amorosos para o jovem vendedor de tabaco. Dirigido por Nikolaus Leytner, a produção traz lições sobre lealdade, maturidade e amizade. O pano de fundo da trama é o nazismo e o exílio do próprio Freud na Inglaterra devido a intensificação a perseguição aos judeus naquele período.
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A trama
A história de Franz começa com o jovem de 17 vivendo com a mãe, em uma modéstia casa próximo ao lago. Há uma esfera de inocência durante essa parte do filme e que devido a um acontecimento trágico é interrompida, e o leva para Viena. Essa transição entre o lugar que se sente seguro ao lado da mãe e o momento em que é levado para viver longe de sua zona de segurança, mostra o desespero com soluções infantis, como se esconder em um barril, por exemplo. O que marca essa transição para a vida real, e a quebra da inocência começa no momento em que está na plataforma de trem a caminho de Viena, e tem a realidade anunciada como uma espécie de previsão do que estava por vir.
Sonhos
Por se tratar de um filme em que o protagonista tem conversas com o pai da psicanálise, A Tabacaria oscila entre acontecimentos da vida real do personagem com sonhos perturbadores. No início, esses sonhos são infantis e parecem não haver um sentido. Entretanto, ao desenrolar da história, eles vão se tornando mais obscuros e complexos. Algumas vezes como uma espécie de premonição ou representação da realidade que vai aos poucos se tornando cada vez mais insegura. Seguindo os conselhos do psicoterapeuta, encontra uma maneira de lidar com eles.
Política: Polarização
Simultaneamente, as descobertas e desventuras de Franz e os sábios conselhos de Sigmund Freud, conflitos políticos importantes surgem na Áustria e, aos poucos, é possível notar pequenas mudanças no cotidiano, bem como sinais que vão dos mais discretos aos mais evidentes de que o país está sendo conduzido para um ponto extremo na forma como se vê e como sua sociedade se relaciona. Bandeiras hasteadas a vizinhos que denunciam uns aos outros, além de uma crescente intolerância, tudo isso por volta de dos sombrios anos do regime nazista. Se de um lado tem-se a presença de simpatizantes do nazismo, de outro estão socialistas e toda a classe perseguida pelo grupo extremista. A Tabacaria acertou na forma de representar esses polos antagonistas e explicar as maneiras mais clássicas de perseguição, que se tornam tão atuais se olharmos no contexto global.
Romance
Por outro lado, A Tabacaria falha em se aprofundar mais no romance dos protagonistas, assim como em entregar o frescor que o público espera de um romance juvenil, como o do primeiro amor, deixando apenas conclusões que o próprio Franz tem sobre a amada e muito pouco sobre as ações do personagem em relação a Anezka. Em contraste, estão também presente algumas soluções exageradas por parte do roteirista e equipe de direção.
Efeitos Especiais, Caracterização e Cenografia
Com relação à questão dos efeitos ligados a computação gráfica, a produção deixou bastante a desejar. Principalmente nas cenas dos sonhos de Franz. Houve acertos nas cenas menos surrealistas, em que dependia-se menos dessa tecnologia. Além disso, com poucos quadros de cenário, o filme explorou bastante o espaço, mas bem pouco dos enquadramentos.
Freud explica
A curiosidade de Franz em saber mais sobre a psicanálise, partindo de um ponto quase sobrenatural da profissão o aproxima de Freud. Da curiosidade vem a admiração. Daí conhecemos um pouco de como, supostamente, o psicanalista era visto pela sociedade daquela época, bem como a profissão era enxergada. Os conselhos são acolhidos por Franz não como uma receita médica, mas com um olhar místico. O que é extremamente cômico quando observamos as reações do personagem com os novos conhecimentos que são passados pelo professor. Isso porque o menino tem o entendimento de que Freud é detentor de todos os conhecimentos, o que lembra a relação de Harry Potter com Dumbledore. A imagem de Sigmund no filme é de alguém perspicaz, refinado, carismático e com muito prestígio na sociedade local.
Considerações finais
Enfim, A Tabacaria é daqueles filmes que te prendem atenção. Não por se tratar de ser uma grande produção ou diálogos poderosos, mas a história é extremamente interessante, dramática. A trama levará à reflexão, criando comparações entre a ficção e o atual momento em que a sociedade global enfrenta. Contudo, não crie muitas expectativas em saber mais sobre Anezka ou outros elementos da relação do casal. Vale ficar atento aos sinais dos sonhos e ao impacto que eles têm na historia através do próprio personagem. É um drama que automaticamente liga a pergunta “o que eu faria?”. Aliás o longa deixa muitos questionamentos em aberto. Porém, é uma produção, acima de tudo, para explorar sensações, sejam elas de dor, indignação, recordação de uma paixão ou o simples cheiro de bom tabaco.
::: TRAILER
::: FICHA TÉCNICA
Título original: Der Trafikant
Direção: Nikolaus Leytner
Roteiro: Nikolaus Leytner, Klaus Richter
Elenco: Simon Morzé, Bruno Ganz, Johannes Krisch
Distribuição: A2 Filmes
Data de estreia: qui, 05/09/19
País: Áustria, Alemanha
Gênero: drama
Ano de produção: 2018
Duração: 113 minutos
Classificação: 16 anos