Abe crítica

‘Abe’ | CRÍTICA

Cadu Costa

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30 de dezembro de 2019

Mangia che te fa bene! Caso você tenha alguma ascendência familiar italiana, você provavelmente já ouviu essa frase de um parente. Se não tiver ou nunca tiver escutado, é bem simples de traduzir para o português: “Coma que te faz bem!” A saber, a frase é um dito clássico italiano que significa se manter a mesa, se divertindo, comendo bem e rejuvenescendo o espírito. Afinal, comida conecta.

https://www.youtube.com/watch?v=QHnUG_SIYYo&t=2s

A trama

E é sobre isso que fala o gostoso filme, em todos os sentidos, Abe, do diretor brasileiro Fernando Grostein Andrade. Pode uma simples refeição entre pessoas tão diferentes aparar rusgas e conflitos? Seria possível uma receita saborosa unir povos e erradicar preconceitos?

A saber, tudo gira em torno da história do menino Abraham Solomon-Odeh, que gosta de ser chamado Abe – interpretado pelo ‘Stranger Things’ Noah Schnapp. Vivendo em Nova York, o garoto tem uma família multicultural e bem conflituosa: do lado da mãe, suas raízes são judias e israelenses. Por outro lado, o pai tem origem palestina e muçulmana. Imagine uma Faixa de Gaza na mesa do jantar e temos uma ideia de como tudo se desenrola. Convivendo diariamente em lados sociais e religiosos tão opostos, Abe tenta ligar a cultura árabe e muçulmana com a israelense e mediterrânea. Com um talento nato pela culinária, o menino tenta unir os povos com a mistura de seus pratos e o prazer de se comer em família. Para isso, conta com os ensinamentos do chef brasileiro Chico, interpretado por Seu Jorge.

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Abe - Still 2
Carinho e afeto

Fernando Grostein Andrade desenvolveu seus personagens com carinho, afeto e liga os Estados Unidos ao Brasil de uma forma muito simpática. Seu Jorge já está acostumado a interpretar o brasileiro cordial e boa praça nos filmes gringos, no entanto, suas cenas com Noah Schnapp são algumas das melhores do filme. O menino também está muito bem no papel e transmite força no olhar e desenvoltura para encarnar o ingênuo adolescente.

Mesmo com um roteiro simples, Abe reside na complexidade do ser humano, mas sem fazer um debate profundo. Apenas uma leve reflexão e com uma estética cativante onde condimentos, temperos, frutas, verduras e legumes são como pequenos quadros na tela grande. O Brasil aqui representado ainda é o clichê estereotipado. Entretanto, ao falar de nossa  gastronomia, como a tapioca e mandioca, bem como uma rica trilha sonora bem brasileira, é possível sentir um certo prazer com essa fusão cultural indo além das tradicionais bunda, carnaval e futebol.

Abe é um filme sensível com uma combinação não só de sabores, mas de culturas e línguas. Em resumo, aqui, com tantos retratos sociais, como a reunião de muçulmanos e judeus, brasileiros e norte-americanos, brancos e negros, homens e mulheres, o filme deve agradar quem espera que problemas socioculturais possam ser resolvidos com o tempo. Trata-se de uma utopia com uma narrativa inocente e sem soluções complexas para problemas reais, mas, por ora, pode servir para acalentar alguns corações em busca de alguma igualdade.

*FILME VISTO NO FESTIVAL DO RIO 2019

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Título original: Abe
Direção: Fernando Grostein Andrade
Elenco: Noah Schnapp, Seu Jorge, Mark Margolis
Distribuição: Downtown/Paris
Data de estreia: qui, 09/04/20
País: Estados Unidos, Brasil
Gênero: comédia dramática
Ano de produção: 2017
Duração: 85 minutos
Classificação: a definir

Cadu Costa

Cadu Costa era um camisa 10 campeão do Vasco da Gama nos anos 80 até ser picado por uma aranha radioativa e assumir o manto do Homem-Aranha. Pra manter sua identidade secreta, resolveu ser um astro do rock e rodar o mundo. Hoje prefere ser somente um jornalista bêbado amante de animais que ouve Paulinho da Viola e chora pelos amores vividos. Até porque está ficando velho e esse mundo nem merece mais ser salvo.
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