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Adão Negro crítica do filme 2022 Dwayne Johnson

‘Adão Negro’ tenta resgatar a aventura na DC com uma pitada de humor ácido

Marcelo Fernandes

Filmes de aventura são uma das bases nas quais a indústria do entretenimento constrói. Nos anos 70, George Lucas e Superman dominaram as salas, enquanto nos 80 um certo Steven Spielberg reinou. Mais recentemente, a Marvel e sua Saga do Infinito captaram a atenção tanto de nerds que conhecem todas as formações dos Vingadores desde sua criação até pessoas que nunca haviam ouvido falar de Feiticeira Escarlate ou Homem-Formiga.

Nesse período, a DC, casa de Superman, Batman, Mulher-Maravilha e diversos outros nomes reconhecíveis para além dos fanboys, patinou, nem tanto financeiramente, pois embora as projeções de lucro de seus filmes fossem menores que a realidade, culturalmente, perdendo espaço em rodas de discussões de aficionados e das tais “pessoas comuns”, com filmes que se não eram ruins como se propagavam também sempre deixavam um sentimento de “faltar algo”.

Adão Negro, o anti-herói

E com esse cenário, uma ressaca da Marvel e uma DC em eterna reconstrução que chega aos cinemas Adão Negro (Black Adam), filme estrelando Dwayne Johnson, que tomou o projeto como pessoal durante anos, numa tentativa de ressuscitar a caótica linha do tempo do universo cinematográfico da editora, e entrar nesse vácuo de cinema de aventura onde a Casa de Ideias vem decepcionando muita gente.

E o resultado é um filme que não tenta muito sair da fórmula da “origem do herói”, no caso, um anti-herói: o Adão Negro de The Rock não tem dó de eliminar seus inimigos com a pena capital, mas sem muito sangue, e com explosões diminuindo o impacto das mortes. Afinal, é preciso pensar nas classificações.

História do Adão Negro

Após uma rápida introdução à origem do personagem antes mesmo da civilização egípcia, somos jogados aos dias atuais com Teth-Adam, ou Adão Negro, já ressurgindo em meio a um conflito contra um pequeno exército, facilmente derrotado. Com o povo da fictícia Kahndaq aguardando um campeão para libertar o país de seus ocupantes, ele aos poucos vai tomando esse papel para si, enquanto acontece um jogo de esconde-esconde entre os coadjuvantes e o antagonista a respeito de um Macguffin.

Com o seu reaparecimento, a atenção de Amanda Waller (Viola Davis, que provavelmente gravou suas duas cenas pelo computador e provavelmente usando somente a parte de cima de seu terno social) é captada, e ela envia os membros da Sociedade da Justiça, formada por Gavião Negro, Senhor Destino, Esmaga-Átomo e Ciclone.

DC vs Marvel

Aqui é interessante notar que, enquanto nos quadrinhos muitos heróis da Marvel são descaradamente cópias de ideias originais da DC, no cinema a adaptação de tais personagens para o contrário: o Senhor Destino lembra demais a versão do Doutor Estranho, mesmo que sua criação nas HQs seja 20 anos mais velha; o Esmaga-Átomo, um brilhante cientista nos quadrinhos, é o alívio cômico da vez igual ao Homem-Formiga da MCU, e assim em diante.

Mas o elo fraco do grupo é o personagem do Gavião Negro, que transborda uma ingenuidade da Era de Ouro dos quadrinhos que soa pueril demais para alguém que responde às ordens de Amanda Waller, que assassinava à sangue-frio em filmes anteriores.

Dwayne ‘The Rock’ Johnson como Adão Negro

No entanto, a Marvel não tem The Rock, que, ao mesmo tempo que domina todas as etapas da produção para ser o “seu filme de herói”, também transborda carisma. As piadas de tiozão características de praticamente todos os seus personagens nas telonas estão lá. Desta vez ditas sem seu sorrisinho irônico e de uma forma robótica que lembra muito o T-800 de Arnold Schwarzenegger em “Exterminador do Futuro”. Inclusive adaptando algumas sacadas do clássico segundo filme de James Cameron.

Por fim, Adão Negro é um filme de origem divertido, com algumas falhas passáveis, e às vezes meio reverente ao que já foi feito no DCEU: as câmeras lentas nas batalhas com todos os detalhes, marca registrada de Zack Snyder, estão espalhadas pelo filme de forma contida, mas bem contundente.

Com uma mistura estética que não deixa de vez a escuridão de outros filmes do estúdio, mas também não nega uma iluminação mais de acordo com as pretensões aventurescas de Dwayne Johnson. E não se deixe enganar: este filme é dele, tão dele que (ATENÇÃO PARA O SPOILER) que o pedido pelo retorno do Superman de Henry Cavill se tornou uma obrigação, como mostra a cena pós-crédito. Que o próximo realmente satisfaça e extrapole as expectativas e diminua as decepções de fãs com o passado da DC. O público merece.