“Ainda Estou Aqui” é a dor da ausência que ecoa sem fim 

Leonardo Duarte

A Ditadura Militar fez muitas vítimas no Brasil. Pais e mães, filhos e filhas, irmãos e irmãs, amigos que nunca mais voltariam para casa. Ou, se voltassem, marcados eternamente pela dor que lhes foi afligida de forma tão brutal. Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, fala exatamente sobre isso: a dor da ausência em corações feridos.

O filme, protagonizado de forma esplêndida por Fernanda Torres, conta a história da família de Rubens Paiva, um nome que ficou marcado na História da Ditadura. Quando seu marido é levado pela polícia sem qualquer explicação, sua esposa Eunice (Torres) precisa se manter forte e cuidar da família, mantendo-a de pé e com esperanças.

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Ainda Estou Aqui já ganhou diversos prêmios no exterior, e é um dos principais cotados do Oscar para concorrer a Melhor Filme Estrangeiro. Tal repercussão é claramente merecida, e conforme a história se desenrola, vai ficando cada vez mais claro o porquê.

Um dos pontos mais excepcionais do longa-metragem é sua subtração. Ainda Estou Aqui não se faz ser melodramático, ou não utiliza músicas melancólicas para trabalhar emoções. Em vez disso, entrega sua história de forma simplista, deixando que o espectador sinta por si mesmo, sem guias externos senão a própria trama.

Comovente e intimista

Tendo isso em mente, o filme apresenta uma história extremamente comovente e intimista, que encanta com seu desenrolar. A produção convida o público a adentrar na família Paiva, vivenciando seu dia a dia – desde uma tarde na praia, até noites comuns em que o barulho de totó entre pai e filho acordava o resto da família. Até que, de repente, tudo começa a virar de cabeça para baixo.

A falta de respostas é outro ponto que marca bastante o longa-metragem de Walter Salles. Ao público são dadas as mesmas informações que aos personagens, ou seja: quase nenhuma. Enquanto filhos e esposa sofrem com a ausência do patriarca, as dúvidas engrandecem seus temores, impossibilitando sequer um processo concreto de luto.

Dores e incertezas

Em determinado momento do filme, inclusive, Babiu pergunta a Marcelo, seu irmão, quando foi que ele percebeu que o pai deles não ia voltar. A partir de muitos pontos comoventes ao longo da trama, portanto, Ainda Estou Aqui representa a dor da incerteza, da perda, e da ausência do outro.

Fernanda Torres e Selton Mello

O elenco do filme também surpreende, com Fernanda Torres entregando sua melhor atuação até agora. A atriz dá vida a Eunice de forma bastante honesta, se transformando em uma personagem extremamente complexa e profunda sem forçar. Uma personagem fascinante que luta contra um regime opressor e protege seus filhos das maldades deste, mas sem tirar o sorriso do rosto.

Selton Mello também encanta como Rubens Paiva, ainda mais sabendo que sequer viu algum vídeo do ex-deputado. Tanto fisicamente quanto pela atuação, incorpora uma figura pública importante da época da ditadura, transparecendo facilmente a idade e os sentimentos de um pai e marido.

Conclusão

Desta forma, Ainda Estou Aqui se mostra facilmente um dos melhores trabalhos de Walter Salles: um clássico instantâneo que discute um momento obscuro da história do país. Entrega um trabalho grandioso de roteiro, direção e atuação, criando um retrato singelo e honesto em uma família que resiste. É, portanto, uma belíssima representação da dor da ausência, que ecoa por muitos e muitos anos, em busca de um desfecho.

Onde assistir ao filme Ainda Estou Aqui

O filme Ainda Estou Aqui estreia nos cinemas brasileiros em 7 de novembro.

Por fim, não deixe de acompanhar o UltraCast, o podcast do Ultraverso que fala sobre Cultura Pop.

Elenco de Ainda Estou Aqui

Fernanda Torres
Fernanda Montenegro
Selton Mello
Maeve Jinkings
Marjorie Estiano
Antonio Saboia

Trailer – Ainda Estou Aqui

Ficha técnica – Ainda estou aqui

Título original: Ainda Estou Aqui
Direção: Walter Salles
Roteiro: Murilo Hauser, Heitor Lorega, Marcelo Rubens Paiva
Data de estreia: 7 de novembro de 2024
Duração: 136 minutos
País: Brasil, França
Gênero: drama, biografia, história
Ano: 2024
Classificação: 14 anos

Leonardo Duarte

Dos livros aos videogames, e da televisão ao cinema, Leonardo adora histórias que consigam quebrar seu coração em um milhão de pedacinhos. Entusiasta de sitcoms, filmes insanos e coming-of-ages, também é mestre de Dungeons and Dragons e cai de cabeça em quase qualquer jogo de tabuleiro. Acredita que o mundo é um lugar belo, mas certamente fica dez vezes mais fascinante com arte.
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