Com versos fortes e diretos, Emicida emociona no show ‘AmarElo Ao Vivo’
Cadu Costa
Emicida não é somente um rapper. É um artista que busca devolver a alma do povo preto através da música. Um show seu é muito mais do que uma apresentação musical. É uma aula de história, de defesa dos direitos humanos, de representatividade, respeito e sim, de música também. É um passeio por várias vertentes da MPB e do Hip-Hop. Assim, estreou na Netflix, nesta última quinta-feira (15), o show AmarElo Ao Vivo, do Emicida. O evento foi realizado no Theatro Municipal de São Paulo, em 2019.
Acompanhado por Julio Fejuca (baixo, cavaquinho, violão e programações) – também responsável pela produção musical do espetáculo; bem como DJ Nyack; Michelle Cordeiro (guitarra); Silvanny Rodriguez “Sivuca” (bateria e percussão); Allan Abbadia (trombone e arranjos de metais); Buga (sax e flauta); Larissa Oliveira (trompete e flugelhorn); Jamah; e Thiago Jamelão (backing vocals); Emicida incluiu no repertório ao vivo do show canções de AmarElo e outros destaques de sua carreira.
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Fechamento de um ciclo
Com 1h40 de duração, o show AmarElo – Ao Vivo é uma realização da Laboratório Fantasma. A direção é do próprio Emicida e de Fred Ouro Preto, assim como produção de Evandro Fióti. Esse registro foi distribuído pela Netflix em até 190 países. Além disso, em parceria com a Sony Music, a apresentação também está nos principais aplicativos de música.
Em dezembro do ano passado, Emicida já tinha lançado na plataforma de streaming o documentário AmarElo – É Tudo Pra Ontem, outra aula de cultura e história preta brasileira. Agora com esse novo lançamento, a sensação é de fechamento de um ciclo com o disco, doc e show.
Resistência contra o racismo
Desde a abertura, com uma fala de Orfeu Negro, filme ítalo-franco-brasileiro de 1959 que venceu o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, antecedendo a primeira música “A Ordem Natural das Coisas”, o que veremos é rap, MPB, samba e discursos de resistência ao racismo estrutural e institucionalizado.
Emicida não cansa de repetir o quanto é uma vitória ocupar o Theatro Municipal, que foi palco de manifestações raciais durante a ditadura:
“Muito importante trazer um concerto de rap pra cá. Isso aqui é o resultado do sonho coletivo de muita gente. Essa conquista é o que anistia o espírito de quem veio antes de nós e sofreu”, afirma.
Emicida e o show AmarElo – Ao Vivo, na Netflix
Em suma, o show AmarElo – Ao Vivo foi repleto de emoção e catarse. O público chorava a cada verso, a cada refrão. E esses momentos aumentavam a cada participação especial. Os convidados, MC Tha, Drika Barbosa, Majur, Pablo Vittar e Jé Santiago, deram um toque especial à apresentação com todos cantando maravilhosamente bem.
Mas o momento mais emocionante foi sem dúvida quando Emicida anuncia integrantes do Movimento Negro Unificado (MNU) que lutaram contra o racismo na escadaria do Theatro Municipal em 1978. Após isso, ele emenda na porrada “Pantera Negra”.
Depois dessa canção, Emicida parece ter saído do transe e tacou fogo no Municipal. Deixou o lado sereno e emendou canções que colocam dedos nas feridas de uma sociedade historicamente injusta e racista, como “Eminência Parda”, “Boa Esperança”, “Ismália” e “Levanta e Anda”.
Houve momentos de calmaria como “Principia”, mas entre pancadas e carícias, Emicida extravasa sua carreira e seus pensamentos de luta. No bis, enfileira “A Chapa é Quente”, “Gueto” e “Libre”.
Lenda da música brasileira
Enfim, o show AmarElo – Ao Vivo, do Emicida, termina e a vontade é de ler mais, ver de novo, se aprofundar na história e esperar pelo próximo trabalho desse verdadeiro artista. O cantor passa a impressão de que, um dia, será estudado nas escolas, será reverenciado como lenda da nossa música assim como são os gênios Gil, Caetano, Chico ou Tom e Vinícius. Não será pouco, não será surpresa. Emicida é um vencedor de sua própria história e merece. Nós merecemos. A luta continua.
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Trailer da Netflix do show AmarElo – Ao Vivo, do Emicida
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Setlist do show AmarElo – Ao Vivo, do Emicida (Netflix)
1 – A ordem natural das coisas / Chiclete com Banana – Ao Vivo part. Mc Tha
2 – Quem tem um amigo (tem tudo) / A Amizade – Ao Vivo
3 – Pequenas alegrias da vida adulta – Ao Vivo
4 – Cananéia, Iguape e Ilha Comprida – Ao Vivo
5 – Baiana – Ao Vivo
6 – Madagascar – Ao Vivo
7 – Alma Gêmea – Ao Vivo
8 – 9nha / Eu gosto dela – Ao Vivo part. Drik Barbosa
9 – Paisagem – Ao Vivo
10 – Hoje Cedo – Ao Vivo
11 – AmarElo (Sample: “Sujeito de sorte” – Belchior) – Ao Vivo part. Pabllo Vittar e Majur
12 – Eminência Parda – Ao Vivo part. Jé Santiago
13 – Pantera Negra – Ao Vivo
14 – Boa Esperança – Ao Vivo
15 – Ismália – Ao Vivo
16 – Levanta e Anda – Ao Vivo
17 – Principia – Ao Vivo
18 – Gueto – Ao Vivo
19 – A chapa é quente – Ao Vivo
20 – Libre – Ao Vivo