‘Antologia da Cidade Fantasma’ | CRÍTICA
Beatriz Trindade
Antologia da Cidade Fantasma (Répertoire des Villes Disparues) é um filme canadense de Denis Côté e baseado no livro “Répertoire Des Villes”.
O longa narra a história da pequena cidade de Irénée-les-Neiges em que os moradores, em suas vidas comuns, conhecem uns aos outros e sentem-se seguros com os rostos familiares que os cercam. Tudo muda quando um jovem da cidade sofre um acidente fatal e a dinâmica é alterada com a chegada de visitantes desconhecidos e outros bem familiares.
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Flerte com o terror
O diretor flerta com terror e não se prende a gêneros. De maneira espetacular, usa e abusa de ângulos de enquadramento pouco usados atualmente. Em tempos de produções que apelam para mais velocidade e lançamento de franquias, deixando de lado o técnico e artístico, isso é um suspiro de esperança.
Antologia da Cidade Fantasma tem forte presença de branco, cinza e tons azulados que acompanham a neve e neblina que cobrem a cidade. As cores criam a atmosfera melancólica exigida pelo roteiro. O branco domina de diversas maneiras e, usando as outras cores da paleta apenas como apoio, aumenta a sensação de frio e isolamento.
O ritmo do filme é bem devagar, com falas espaçadas e momentos tensos de silêncio, o que, de maneira geral, se torna repetitivo em dado momento. O que torna esses momentos menos cansativos é o clima de apreensão e curiosidade que cerca a trama cheia de mistérios.
Por outro lado, os diálogos não são lá tão criativos e cheios de boas sacadas. Isso porque Antologia da Cidade Fantasma é para você capturar o que está por trás, nas entrelinhas, na aura, e não necessariamente no que é dito através de palavras durante as falas.
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Uso do clima
Falando em diálogos, pouco se sabe a respeito dos visitantes misteriosos, visto que o silêncio é uma das características desses personagens. Aliás, algumas aparições são de gelar a espinha. E isso o diretor acertou no tom ao usar o clima para variar interpretações acerca da identidade, origem, objetivo e razão dessas presenças.
Além disso, Antologia da Cidade Fantasma mostra que, de certa forma, apesar da fantasia, do sobrenatural retratado, a história e a reação dos moradores de Irénée-les-Neiges são mais reais do que se imagina. Por exemplo: logo no início, depois de um acontecimento trágico, acompanhamos a chegada de dois visitantes, sendo eles de origem muçulmana e o outro africana.
Aliás, a falta de receptividade e a identificação de perigo para os forasteiros fala muito sobre uma visão global de proteção do território e tribalismo. Em dado momento, a prefeita confronta os estranhos e afirma que a cidade a pertence. Essa atitude vinda de uma líder política representa claramente o populismo que afasta e se assusta até com os seus eleitores.
Fuga do lugar-comum
Coté acertou ao brincar com o terror fugindo do comum e, principalmente, trazendo drama, choro e tristeza a ele. O diretor humaniza o gênero e nos conduz a uma viagem de muitas reações e sentimentos que nos levam a nos identificar com os personagens, bem como transmitir nossa afeição a eles em diversos momentos, seja no sofrimento, na dúvida, na raiva, quando estão inconformados ou quando simplesmente acham que estão enlouquecendo.
Em suma, não vá esperando muitos diálogos e que as informações sobre os mistérios estejam tão evidentes; muito menos um ritmo acelerado, cheio de ação e resoluções de questões de forma explícita. Você vai se surpreender, se assustar, se emocionar e, principalmente, refletir sobre a mensagem do filme. De qualquer maneira, vá. Certamente, Antologia da Cidade Fantasma merece ser apreciado e estar nas rodas de discussão dos bares e amigos.
::: TRAILER
::: FICHA TÉCNICA
Título original: Répertoire des Villes Disparues
Direção: Denis Côté
Elenco: Robert Naylor, Josée Deschênes, Jean-Michel Anctil
Distribuição: Zeta Filmes
Data de estreia: qui, 23/01/20
País: Canadá
Gênero: drama
Ano de produção: 2018
Duração: 97 minutos
Classificação: a definir