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‘Armageddon Time’ é um desperdício de talentos

Kainan Medeiros

Tem sido cada vez mais frequente um diretor dar vida às suas memórias por meio de uma obra cinematográfica. Sendo assim, o filme Armageddon Time é mais um dos recentes exemplos desse caso e, sinceramente, não passa disso.

Temos aqui um elenco qualificadíssimo, e isso por si só já é o suficiente pra chamar a atenção. Mas, pelo visto, ter nomes de peso como Anthony Hopkins, Jeremy Strong, Anne Hathaway e Jessica Chastain não salva uma história rasa de seu marasmo. Aliás, rasa não. A história é mal desenvolvida mesmo.

Aqui, temos espaço para debates em relação desigualdade social, antissemitismo e racismo. E cada vez que a trama faz que vai se aprofundar nessas questões, temos um leve desvio do rumo levando a marasmo já citado.

Portanto, o longa parece carecer de um real motivo de existir de fato. Compreendo o desafio de contar memórias, principalmente quando se toca em assuntos delicados. Entretanto, em Armageddon Time, acaba não ficando exatamente claro se estamos diante de uma crítica ao governo, à sociedade ou se é um enorme desabafo de James Gray.

Desperdícios

E por mais que a atuação do protagonista mirim, o Paul Graff (Banks Repeta) seja um dos destaques do filme, isso não mascara o desperdício do real potencial que havia em todos os arcos do longa. Diante disso, parece que, da família ‘Graff’, só Paul vive e o resto sobrevive.

Esther Graff (Anne Hathaway) poderia ter tido mais tempo de tela explicando mais a relação dela com seu pai e com o trabalho, já que isso estava diretamente ligado à escola do Paul. Assim como o seu marido, que aparece em tela apenas para esbravejar, comer e ‘educar’ seus filhos. Sim, no plural; Ted Graff (Ryan Sell) é tão mero coadjuvante da história que seu personagem é esquecível.

Todavia, o principal desperdício do filme foi não explorar com exatidão o Johnny (Jaylin Webb), melhor amigo do Paul. Um garoto negro, que mora com a avó, que por sua vez sofre de Alzheimer e não se lembra do neto. Ainda assim, ele tem um irmão mais velho que está servindo ao exército.

Johnny tem grande destaque, mesmo que as interações Paul/Johnny entreguem situações de racismo e desigualdade social de forma bem aquém do esperado. Nesse caso, pelo potencial dos dois garotos, assistir Armageddon Time não será em vão. Contudo, ao término do longa você pode ficar com a sensação de ter perdido seu tempo com uma história que apresenta vários caminhos interessantes e não levam a lugar nenhum, ainda mais pelo final filosófico.